segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A História Interminável do Diário de Irene VI

A História Interminável do Diário de Irene VI

Através do relacionamento dos mais velhos com os miúdos e destes com ela mesma ao puxar-lhe o nariz nos primeiros dias a Irene não se apercebeu daquilo que seria evidente e que qualquer psicólogo exploraria desde logo: havia uma extraordinária capacidade de tolerância e uma margem grande para o perdão naquela pequena sociedade que roçava a impunidade. Os putos faziam o que queriam, não adquiriam a identificação separadora entre o bem e o mal e numa sociedade moderna poderiam tornar-se em perigosos sociopatas. Mas, pela leitura do Diário de Irene tanto o psicólogo como eu teriamos de chegar a uma outra conclusão.

Não havia reprimenda para os putos, que por vezes davam caroladas fortes nas cabeças dos mais velhos, porque naquela sociedade não havia a necessidade de haver a ancestral separação entre o bem e o mal. Tudo era bem porque tudo estava bem: não havendo diferenciação entre mais poderosos e menos poderosos, mas sim uma distribuição da autoridade que se manifestava sob a forma de sugestão e da exploração da especialização - como explicarei melhor à frente - o conflito era desnecessário porque as coisas compunham-se no tempo tal como tinha acontecido com os puxões dos putos (e pitas) ao nariz de Irene.

Os moços cansavam-se da "brincadeira" e  sem me socorrer de estatísticas (que a Irene não fez, como é claro!) é de adivinhar que os objectos das caroladas dos putos variassem de tal forma no tempo que calhasse, por exemplo, um carolada mensal a cada um dos habitantes da ilhota. Ora uma carolada por mês não é nada...e qualquer psicólogo reconhece isso.

Mas a Irene, que é a protagonista principal por enquanto desta história (e mais à frente falaremos do Mabula), começou a acarinhar a sua cubata, sempre de "janelas" abertas. Era assim como que uma base redonda tapada até meia altura de  madeira e "palha" seca das árvores, com quatro paus enterrados na areia solidificada por acalcamento e molha entranhadora e um tecto do tipo colmo, daqueles que se vêm em África, mas composto por uma mistura de ramos e raminhos secos muito bem atados entre si que protegiam da chuva miudinha e da humidade da noite.

Não tenho notícia, no diário que li, de uma chuvada mais forte e nem sequer de uma ventania. O acaso colocara aquela ilhota num ponto morto geográfico onde as tempestades caraibianas  não chegavam, segundo constatei depois por consulta. E ainda bem, tanto para o habitantes da ilha como para a Irene porque calculo que ela sucumbisse ao primeiro tufão de escala abaixo de zero, tal o seu hábito citadino de se recolher debaixo dos toldos dos cafés e das lojas ainda antes de começar a chover.

Ora a acção da Irene em relação à sua cubata foi a de dividir a mesma com os lençóis que tinha trazido em três partes: quarto, sala de entrada e cozinha. Era certo que não cozinhava nada, as mulheres indígenas tratavam disso tudo, mas à cautela resolveu fazer uma cozinha, até porque achava que uma casa sem cozinha não é casa. A sala de estar, bem mais acomodada com as esteiras que colocou tinha à altura da vista um tronco seco de topo plano com uma caixa de cartão rectangular em cima para lhe fazer lembrar a televisão.

O quarto, esse, refúgio da sua intimidade mais íntima estava envolto a toda a largura, na parte da "janela", por um grosso emaranhado de ramos feito por ela com um buraquinho propositadamente deixado para quem quisesse espreitar, coisa que não parece ter ocorrido nem sequer às traquinas crianças durante os primeiros dias.

Por uma razão que ela desconhecia a população local não mostrava grande interesse em conhecê-la mais do que aquilo que ela mesmo mostrava, e isto ela não compreendia, embora eu, como observador externo (e um bocadinho mais inteligente que a Irene, convenhamos) me tenha apercebido que a indiferença simpática a que a Irene estava votada se devia ao facto de ela ser extraordinariamente magra para a sua idade, segundo os canones culturais da ilhota.


A História Interminável do Diário de Irene V

A História Interminável do Diário de Irene V

E claro que a estas questões a Irene estava totalmente alheia. Logo que desembarcou na Ilha dos Narigudos, em quase solitária viagem num pequeno barco que fretara a um pescador de uma  ilha vizinha, e logo que se deparou com os narizes postiços, ensacou o engano que tinha tido quanto à almejada comunhão narigal, e acabou por confrontar-se com um dilema que surpreendentemente depressa resolveu: "enfiei o barrete, mas há que ver as coisas pela positiva...ao menos aqui ninguém se ri do meu nariz"- Escreveu ela sendo de adivinhar nesse momento ter ela feito uma carícia ao seu agora localmemnte normal nariz enorme.

E de facto ninguém se riu, antes pelo contrário...uma pequena multidão juntou-se na praia onde desembarcara e donde o barco fretado já partira para voltar daí a uma semana como contratara e foi com bastante alegria que verificou que todos a respeitavam, ressalvando alguns miúdos traquinas (igualmente de máscaras com grandes narizes) que insistiam em puxar-lhe pelo nariz como que a querer verificar da verdade de tal senhor apêndice.

É claro que não achou grande piada ao facto de os homens e as mulheres da Ilha andarem todos de tanga que lhes deixavam à vista partes das partes pudendas e no caso das mulheres também as mamas (muitas bem mais descaídas que as suas) mas como o pessoal tinha quase todo um largo sorriso e dentes muitos brancos aprendeu a desviar o olhar para essa particularidade: " Não sei que marca de pasta de dentes eles usam, mas tudo me leva a pensar que deve ser sefredo de fabricação local!"- Escreveu ia ido o final do seu primeiro dia na Ilha dos Narigudos.

Por sorte, ou por hábito local, foi-lhe destinada uma cubata aberta onde poisou as suas coisas: duas malas e dois sacos cheios de brincadeiras e chupa-chupas para os putos. Duas mulheres enormes (na largura) trataram de pôr a cubata a jeito limpando-lhe algumas porcarias e dizendo uma lenga lenga cantada que ela não entendia. Mais tarde veio a saber que era uma reza destinada a afastar as cobras, que eram muitas na ilha.

A linguagem que tinha de utilizar era a gestual pois os indígenas falavam entre si uma linguagem anasalada que nunca compreenderia. No seu primeiro dia teve oportunidade de confirmar não só quanto admirado era o seu nariz mas também quanto admirada era ela mesma.

A sua pele branca e relativamente limpa contrastava com a pele semi-negra dos indígenas e a sujidade que eles transportavam, quer no corpo propriamente dito quer no cabelo encaracolado, faziam de si uma verdadeira princesa segundo os conceitos dos contos de fadas. "A merda que vivia neles era mais que muita!"- escreveu, mas tal opinião não impediu que degustasse uma refeição local preparada por uma "chef" de nariz igualmente grande e de olhos sumidos num montão de rugas mas portadora, também, de dentes extraordinariamente brancos.

Era uma mistura de algo que identificou com a batata, alguns frutos cozidos em verde semelhantes a tomate e pimentos e bocados indiferenciados de algo que lhe soube a coelho mas que tinha um travo de peixe misturado, e achou tratar-se de uma boa refeição para gente tão pobre que nem dinheiro tinha para comprar roupas. "Gastam tudo na comida!"- Escreveu também.

No entanto os indígenas homens não eram gordos nem mesmo fortes contrastando com a larga maioria das mulheres, sobretudo aquelas que identificava como sendo mais novas, possuidoras estas de uma quantidade de banhas desaconselhável em termos médicos, tendo vindo a descobrir mais tarde que era ideia aceite no local que a mulher quanto mais gorda é mais forte faz o filho que transportar no ventre e durante o tempo da amamentação.

Eis como Irene descreve os habitantes da Ilha dos Narigudos:

" Os homens são muito magros e andam despidos vendo-se as costelas sobressaídas no dorso. As pernas são magras mas musculadas assim como os braços. As mulheres menos velhas são todas gordas e as grávidas são ainda mais gordas ao ponto de quase não se poderem mexer e levarem muito tempo sentadas cosendo redes ou no paleio.

As velhas nunca perdem os dentes e são as donas das casas. Os homens vão à pesca ou à caça logo de manhã cedo e quando dá o meio dia já estão em casa e levam o resto do dia a tagarelar sentados na areia ou deitados em esteiras. Nunca vi tanta gente a fazer tão pouco...os miúdos brincam juntos e fazem tropelias que não parecem arreliar os mais velhos.

A mim puxavam-me o nariz mas agora já desistiram, mas às mulheres e aos homens dão caroladas com os nós dos dedinhos nas cabeças deles e fogem a rir muito escondendo-se atrás das árvores ou da vegetação e depois voltam à hora das refeições e são tratados como se nada tivesse acontecido."


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A História Interminável do Diário de Irene IV

A História Interminável do Diário de Irene IV

A Ilha dos Narigudos é uma ilha pobre, sem actividade turistica, que não consta nos roteiros de viagens e da qual a Irene apenas poderá ter ouvido falar através de alguém que a conheça. Ora quem teria falado da Ilha dos Narigudos à Irene é uma questão para a qual procurei encontrar resposta. Pessoa pouco ou nada letrada é de supôr que ela não tenha feito uma pesquisa bibliográfica tal como eu fiz, embora o facto de sofrer daquele mal do nariz enorme fosse, para uma outra pessoa, um ponto de partida viável. Mas eu não conseguia conceber tal comportamento pesquisador na Irene que eu conhecia.

Com uma história interrompida agora (desde o início do Sec XX) de disputas infelizes pela sua posse, a Ilha dos Narigudos está inserida numa zona que foi centro de tráfego de escravos que eram transportados pelos negreiros em condições mais que desumanas, e “despejados” quando morriam por esse mar fora, terra onde flibusteiros e piratas “descansavam” das suas surtidas e onde, melhor ou pior,o povo da Ilha dos Narigudos sempre procurou sobreviver tal como o faz agora.

Razões de localização geográfica e a dificuldade de acesso fizeram com que a Ilha dos Narigudos acabasse por praticamente ser abandonada aos seus nativos desde o início do Sec. XX, voltando estes à sua cultura tradicional quase por inteiro. Mas os arquivos, quer os espanhóis, quer os britânicos quer os franceses guardaram um pouco da sua história naquilo que pode ser considerado o período de visibilidade da Ilha dos Narigudos.

Diga-se que esta ilha está envolta em alguma poesia e mesmo algum mistério, tal como o seu descobridor. É assim que é relatado o primeiro contacto com ela : “ Por volta das cinco da manhã do dia 3 de Novembro de 1493, há 517 anos, um vigia a bordo da caravela Mariegalante avistou uma forma alta e verde no horizonte. No norte do percurso da nau erguia-se uma alta falésia no topo da qual o vigia da nau disse ter visto alguns indígenas com enormes narizes. Era um domingo, e Cristovão Colombo decidiu dar a essa terra, descoberta na sua segunda viagem ao Novo Mundo, o nome de Ilha dos Narigudos, em homenagem à capacidade de observação do vigia.

Mas, a tripulação não conseguiu encontrar, ao longo da acidentada costa exposta ao vento, um local apropriado para fundear e seguiu em direcção ao Norte, sem atracar; ficou-lhe, contudo, uma indelével imagem da ilha. Um membro da expedição relatou num assomo de lirismo: "A Ilha dos Narigudos é notável pela beleza das suas montanhas e pela quietude que emana da sua verdura; é preciso vê-la para acreditar ”.

No seu regresso a Espanha, Colombo descreveu a ilha a Fernando e Isabel através da imagem de uma folha de papel amarrotada, que colocou diante deles. O vigia foi chamado para descrever os habitantes que tinha visto e relatou-os como sendo de pequena estatura, com grandes narizes e como estando completamente nús. Disse ainda que dançavam e que jogaram do alto do penhasco à passagem da nau "muitas lanças que se perderam no mar".

Esta é a parte histórico-romântica da Ilha dos Narigudos que só viria a ser aprofundada e clarificada aquando da "febre" antropo-biológica que se seguia às teses de Charles Darwin. Alguns antropólogos e etnólogos esquecidos hoje pelas enciclopédias tiraram referência da Ilha dos Narigudos talvez a partir dos relatos de Colombo perguntando-se se o processo evolutivo sugerido por Darwin era assim tão linear como ele o descrevia.

Na verdade, se havia um processo evolutivo comum a toda a humanidade onde encaixavam os narigudos? Na sua maior parte os pongídeos, dos quais se diz ter derivado o homem, são reconhecidos pelo seu nariz curto, um nariz mesmo amolgado para dentro, como se tivessem levado um soco demolidor. Ora, por esta lógica, seriam os narigudos da Ilha dos Narigudos a excepção que subvertia a regra darwiniana?

Estaria o Charles (Darwin) a gozar com a ciência e com a religião, por arrasto, uma vez que esta com a sua tese do Adão e Eva e do criacionismo fora a que mais se ressentira da descoberta darwiniana? E por outro lado, teriam os escribas conventuais subvertido a história da Ilha dos Narigudos de forma a, pelo menos, descredibilizarem Darwin?

Por outro lado, e tendo por referência os factores ambientais que se acreditava moldarem as características das espécies, o que teria levado a que os narigudos fossem narigudos? Que factores odoríferos tinham influido para que se tivesse verificado o aumento do apêndice nasal? E porque razão tal tinha acontecido (?) ou o que havia naquela ilha que tornasse necessário um aumento da potencialidade de captação dos odores projectando o nariz para fora e não fazendo-o aperfeiçoar-se nas suas potencialidades intra-cranianas.

De esclarecer que estamos a comentar conhecimentos imberbes de uma (na época) ainda mais imberbe da ciência...

(Continua)


A História Interminável do Diário de Irene III

A História Interminável do Diário de Irene III

Uma ideia mais explorada colocaria neste handicap de superficialidde do real em Irene o peso da sua necessidade de levar as coisas da sua vida por uma rama sempre conveniente. Possuidora de um nariz daqueles, feia em todo o seu conjunto, compreende-se (quem quiser compreender) a conveniência de se ser superficial e de cultivar a superficialidade mesmo que ela não tenha base de existência ou carne substancial onde se apoie.

Mas o "explorador" mais atento, como foi e é o meu caso, repara que a Irene - em certas afirmações que faz, já a partir da primeira metade do seu diário - não era de todo avessa a alguns vislumbres da crua realidade. Existe, de facto, nesta segunda metade do seu diário que diferenciei, da parte dela, um esforçado desejo - vincadamente expresso por vezes - de fazer com que a realidade da qual se vai apercebendo coincida com aquela que descreveu inicialmente.

Por outras palavras mais simples: a erupção da sua percepção da realidade leva-a a falsear a realidade que absorve mas não já de uma forma descuidada e sem regras como o fazia inicialmente : busca já a coerência narrativa com o já escrito o que me leva a pensar que a Irene se tenta segurar na ficção e que, de uma forma talvez não dirigida, que ela busca, ao fim e ao cabo, uma forma de encontrar um sentido nas coisas, mesmo que esse sentido seja o sentido possível e não o sentido exacto, mas de qualquer forma um sentido.

Ora esta constatação dupla fez com que eu mesmo procurasse em livros de geografia e depois de antroplogia e etnografia a Ilha dos Narigudos uma vez que ela representava para mim  não só um vislumbre da Irene na sua única acção opcional significativa que era do meu conhecimento.

Devo no entanto dizer desde já que a própria Irene depressa se apercebeu e anotou nas primeiras páginas do seu diário que afinal na Ilha dos Narigudos não havia narigudos naturais, isto é, que os seus habitantes, não tinham apêndices nasais como ela, mas sim que utilizavam uma máscara de nariz pontiagudo e que o tamanho do nariz era um sinal de estatuto social. O chefe da tribo, segundo Irene, colocava uma máscara, que utilizava sempre e não só em dias festivos, cujo nariz tinha (ainda segundo ela) o dobro do tamanho do seu.

Ora isto levará sempre a pensar que a Irene tinha tido por fito inicial encontrar na Ilha dos Narigudos pessoas como ela, com narizes enormes, e que, de uma forma que eu considero possível só nela (e em muito poucas mais pessoas) tinha partido fazendo milhares de quilómetros sem sequer ter uma noção exacta do sítio que ia visitar e sem avaliar da impossibilidade real de haver um local na terra onde só houvessem pessoas com narizes grandes.

Mas, regressando às suas primeiras páginas escritas para tentar dar uma ordem tão próximo da cronológica quanto possível a esta história de Irene, será sempre de nos  perguntarmos as razões que levaram Irene, uma sedentária por excelência e em tempo inteiro, a enveredar por um cruzeiro a uma ilha quase desconhecida e cujo alcance não era nada fácil, conforme veremos mais à frente. A sua ideia de encontrar pessoas com narizes grandes, na sua ignorância ingénua parece-me ser a razão mais correcta. Ao fim e ao cabo, caso tal fosse verdade, a Irene acabaria por sentir-se como que numa família agora que a sua família natural se resumia a ela e acabaria por integrar-se numa sociedade que absorvia a sua discriminante diferença tornando-a normal.

Mas, a Ilha dos Narigudos, para além do significado que a Irene lhe deu não é mais do que uma ilhota com pouco mais de uma centena de habitantes ainda vivendo em estado de primitividade e contém em si uma etnia ou nação próxima da extinção. O deus ou tótem desta ilha é o “Amazona Imperialis “, o papagaio imperial ou Sisserou, que, segundo os ornitólogos existe apenas nesta ilha e calcula-se que não haja mais deles do que 60 exemplares, todos em estado selvagem - como aliás os seus habitantes humanos - tendo em comum com eles, e com todos os papagaios, penso, um enorme bico onde está acoplado o nariz.

Este animal, o Sisserou, é considerado como um dos mais bonitos do mundo, com as suas asas raiadas de vermelho que podem atingir, de uma ponta à outra, mais de 75 cms; a cauda e o dorso são em verde brilhante e a cabeça é negra e tem olhos de rubi. O peito é arroxeado. Esta descrição é minha com base nas informações que recolhi, mas a Irene refere o Sisserou "como um passarouco giro" (sic), sem com isso fazer qualquer outra referência mais cuidada à beleza da ave ou qualquer ligação analógica ao facto de os habitantes da ilha venerarem os seus narizes.

Ora, para mim, e pela primeira recolha bibliográfica que fiz, pareceu-me evidente que havia uma relação entre o culto local dos grandes narizes e o Amazona Imperialis e não me enganei porque antropólogos e etnólogos que visitaram a ilha já tinham levantado essa hipótese desde o sec.XIX.

(Continua)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A História Interminável do Diário de Irene - II capitulo

Conforme disse acima eu não sabia que existia uma ilha com o nome de Ilha dos Narigudos e só tomei conhecimento da sua existência após o aparecimento do número desconhecido do Diário de Irene que chegou às minhas mãos. Como veio ele chegar às minhas mãos é coisa que prefiro não dizer desde já para preservar alguma ordem cronológica neste meu relato, mas devo dizer que procurei desde logo obter os restantes exemplares do Diário de Irene.

Tudo levava a pensar que os haveria: a Irene não iria começar um Diário apenas naquela altura, através do relato de uma viagem, e nem iria acabá-lo daquela forma, pensei. Porque...e isto ainda não vos disse, o volume que tinha nas minhas mãos dava-me a certeza de que pelo menos antes ela tinha escrito sobre si mesma, sobre a sua vida. Talvez lá estivesse uma colecção grande de desabafos, a sua verdadeira opinião sobre as pessoas e sobre si mesma, elementos sobre a sua intimidade e um rol de inevitáveis futilidades.

No plano da intimidade de Irene, se tivesse os almejados volumes na minha mão, não iria encontrar mais do que aquilo que encontrava neste volume que possuía, ou seja, nada de muito explícito porque a Irene escrevia para si mesma, para se ler ou relembrar coisas e factos passados, mas parecia ter aquele pudôr que é próprio de quem escreve sabendo que pode ser lido um dia ou uma vez.
 
Devo ainda confessar que o meu interesse, e razão porque trago aqui esta história, se deve a um conjunto de factos que irei desenvolvendo ao longo dela. Tinha alguma curiosidade em saber mais sobre a Irene mas não se tratava de mera coscuvilhice dado que nos conheciamos vagamente e ela para mim sempre tinha sido um mistério que seria interessante desvendar.

Feia e só, sem amores conhecidos ou possíveis - se quisermos - de corpo também feio, sem jeito, sem sombra de elegância, descuidada na sua aparência como se tivesse desistido de cuidar dela sem ter começado, o exemplar do Diário de Irene teve o efeito de aguçar a minha curiosidade. Como pensa alguém que nasce condenado à solidão (?) questionava-me eu. Como pensa e o que pensa alguém que é diferente devido a uma anomalia no nariz, coisa que não pode esconder ou disfarçar nem mesmo por meios técnicos elaborados como a operação plástica?

Quanto à parte do corpo, este estava mal divido: de pernas longas notava-se a desproporção com o tronco que parecia ao observador como que empurrado para cima. O pescoço, extremamente curto afundava-se ainda nessa sua mais curta parte quase fazendo a cabeça conviver com as espáduas à mesma altura.

A sua relativa magreza e o pouco peso não a faziam disfarçar em nada um andar desengonçado, de pontas de pés virados para fora como ponteiros de relógio nas dez para as duas. E depois era aquilo a que se chama vulgarmente uma casca vazia: dentro da sua caixa craniana, após curtos segundos de conversa, transparecia uma rede neuronal dispersa em leque largo como que tentando acompanhar em extensão um espaço que não conseguia preencher em concentração.

Mas, e voltando ao diário, eu achava (lido o volume) que não era certo que a Irene tivesse escrito após acabar aquele volume que me chegou às mãos. O final, embora não fosse esclarecedor, podia ter sido mesmo o final das confissões pessoais escritas de Irene, até mesmo por razões estranhas à sua inicial vontade: talvez por ter atingido a consciência da inutilidade prática daquilo que escrevia, talvez por ter mudado de tal forma a sua vida que um diário - normalmente conotado com a adolescência - não cabia nela ou por uma outra razão qualquer que representasse uma mudança substancial na sua forma de viver.

E digo isto desta forma porque eu, sabendo que a Irene estava condenada a viver só, sem amores, sem companhias senão as amigas de ocasião, ao mesmo tempo pensava que não era possível que tal acontecesse em definitivo, ou seja - e isto é bastante dificil de explicar - eu aceitava a fatalidade à posteriori mas não aceitava a fatalidade à priori.

Aceitava que ela vivesse toda a sua vida conservando o estigma da sua solidão e da sua feiúra mas não lhe  retirava a esperança de que as coisas mudassem enquanto ela fosse viva, embora me confrontasse com a quase imbecilidade dela e com a sua incapacidade de fazer algo ou querer algo que fizesse mudar as coisas a seu maior favor.

As descrições feitas pela Irene sobre a ilha são repetitivas e bastante influenciadas - pelo menos inicialmente e na quase totalidade da primeira parte do seu diário - por uma visão romântica, idílica directamente retirada não da sua imaginação mas das suas leituras côr de rosa e em certos aspectos teremos grande dificuldade em aceitar que ela retrate a realidade real, o palpável daquilo que viveu no episódio da Ilha dos Narigudos.

Por outro lado a sua falta de capacidade de análise faz-me sentir que as suas palavras são apenas um pobre guia quase cego que me conduz nesta minha demanda que vos vou descrevendo. Em rigor o diário de Irene não é um trabalho rico senão pelo facto de a retratar tal como ela era.

Possuidora de uma incapacidade de análise profunda às coisas, a Irene vivia numa superficialidade misturada com crenças absurdas que tomava como realidades e a análise da sua mente tornou-se para mim um objectivo tão importante quanto o são os indícios de uma realidade para mim diferente para onde ela aponta.

Porquê uma viagem às Caraíbas quando ela praticamente nunca tinha saído da nossa terra?
Porquê uma viagem à Ilha dos Narigudos como primeira opção? Exorcismo psicológico? Erro de informação? Desejo, puro e simples? E, por último, quem é de facto a Irene (!?) ou como são as pessoas que têm narizes enormes? Para tudo isto e muito mais eu queria e quero encontrar respostas...


A História Interminável do Diário de Irene

A História Interminável do Diário de Irene

Ela não era bonita, nunca tinha sido bonita, nunca seria bonita o que me leva à constatação de que há pessoas que nascem, crescem e morrem sem nunca serem bonitas. No caso dos homens o problema resolve-se, penso eu, corre por aí que as mulheres não se importam muito com essas coisas, mas no caso da Irene (ainda por cima se chamava Irene) ser feia era um traço que lhe tinha sido escrito em cima por algo que se pode chamar destino.

Mas tratava-se ainda, nesta altura que refiro, quando ela tinha cerca de trinta anos mais ou menos (não sou muito bom em datas) de pensar num percurso de feiúra ainda a percorrer. Qualquer mente, mesmo sem ser muito dotada para a imaginação sentia-se quase na obrigação de projectar para ela um percurso crescente de feiúra: era fatal, penso eu, que alguém não visse, desde a primeira vez que via a Irene que o que lhe restava a ela pela frente era ser precisamente igual à sua mãe, boa senhora, por sinal, conformada com a sua fatalidade.

Quando se olhava para a Irene via-se logo o realce em zoom e profundidade das rugas à volta dos olhos, o crescimento dos chamados papos, o encarquilhar lento mas irremediavelmente progressivo dos lábios, agora ainda relativamente carnudos, empurrados para dentro dela pela perca de alguns dentes (primeiro os sobressaídos da frente) e aligeirado o afundamento pela colocação de uma daquelas placas em prótese branquérrima, denunciando, não (!) clamando (!!) em voz alta desde logo a sua artificialidade.

Via-se perfeitamente que a placa descolaria do céu da boca quando ela se risse muito, coisa que fazia agora, rir sem complexos, e sabia-se que o queixo dela se afundaria cada vez mais, misturando-se com as rugas do pescoço (se engordasse talvez se misturasse com o papo) mas o que interessava era que por mais voltas que a sua fisionomia desse nunca ela ou outros veriam decrescer aquele nariz enorme, um autêntico triângulo bermudiano apontando para uma distância incalculada nos mares à sua frente, uma penca desproporcionada, uma verdadeira intrusão de um corpo num espaço roubado, um geométrico apêndice de arestas afiadas no perfil, uma agressiva e quase cortante intrusão no espaço vital de quem a visse de frente.

Pois...a Irene não tinha passado de beleza, não tinha presente de beleza e o futuro era ainda mais ameaçador para ela. Mas, e há sempre um mas que merece ser metido em altura oportuna, consta que constava que a Irene confidenciava repetidasmente às suas amigas, já trintona nesta altura em que escrevo, um segredo que era simultaneamente sentido como um chamamento: " Tenho de casar rapidamente!"- dizia - como que a constatar aquilo que eu tenho descrito atrás e acima. "Tenho de casar rapidamente, antes que a minha feiúra progrida ainda mais!"- era o qe a Irene queria dizer, digo eu.

Possibilidade de fazer plásticas não havia: a Irene era apenas e só economicamente remediada: tinham, ela e a mãe - o pai falecera oportunamente - algumas rendas de pequenas propriedades, de casas antigas, algum dinheirito a render, pouco, seguramente e trabalhar por conta de outrem não era tradição na família nem sequer sei que actividade poderia exercer a Irene porque nunca a essa ideia se dedicara e o tempo normal de começar estas coisas já tinha passado.

Não sei exactamente como tudo se passou antes, nem quais os preparativos que a Irene terá eventualmente feito e também não consta que tenha dado conta de alguns desses preparativos às amigas mais chegadas, mas o certo é que um dia a Irene foi num cruzeiro à Ilha dos Narigudos.

Eu calculo que possam os meus escassos leitores achar absurdo o rumo que esta história está a levar, mas confesso com toda a sinceridade que não acrescento nem deturpo nenhum ponto a esta história: nem eu mesmo sabia que havia uma Ilha dos Narigudos antes do amarelecido diário da Irene ter chegado às minhas mãos.

Um livrinho com cerca de 500 páginas, manuscrito numa letra extremamente feia, uma letra à Irene, ao fim e ao cabo. Mas o volume que me chegou, infelizmente, apenas abrange algum tempo do período seguinte à sua viagem à Ilha dos Narigudos o que me leva a fazer este reparo que se segue, não sem antes dizer que fiz todos os esforços para conseguir o volume ou volumes anteriores e mesmo posteriores se os houvesse, (os posteriores) e o que recebi não vinha numerado.

Pois bem... (início do reparo) tendo eu conhecido a Irene, a sua vida, por contactos relativamente próximos: éramos e somos, penso eu, pessoas da mesma geração, é na parte do seu diário, naquela parte que ela desenvolve e que me chegou às mãos, que é a parte da sua vida após o cruzeiro à Ilha dos Narigudos, que eu ponho a Irene a falar na primeira pessoa.

O que antecede este reparo foi obtido através de ilações deduzidas de algumas palavras escritas no seu diário misturadas com observações pessoais do nosso tempo de vida relativamente próxima. (Fim do reparo).

Entretanto, e isso soube-se como seria normal num pequeno meio como o nosso, a mãe da Irene faleceu no período que antecede imediatamente a viagem da Irene em cerca de três meses.

Sabe-se também que não foram tempos fáceis para a Irene encarar tão grande fatalidade: a sua vida com a sua mãe era talvez o elo mais sólido da sua vivência e as amizades que ela tinha nunca conseguiriam ajudar à necessária superação de tal perca.

( Continua )

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Conto Infantil / Juvenil de Cremilde Vieira da Cruz (Avómi) - A PEROLA PERDIDA - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

Culinária e Doçaria por Karolina Felipe - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

«Chevrolet Service, boa tarde! Com que eu falo?»-Death Wish I... - Por Se-Gyn - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

CORONEL FABRICIANO - 052 - Minha filha - �BENEDITO FRANCO - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

CORONEL FABRICIANO - 052 - Minha filha - �BENEDITO FRANCO - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

COLUNA DE HAROLDO P. BARBOZA - Solidariedade da cidade - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

TEXTO DE LILIANA JOSUE - SIMBOLISMO / CAMILO PESSANHA - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

Recordar o Raizonline - Trabalhos de números de arquivo - Análise da Poesia de Francisco Arcos - Por Daniel Teixeira - Texto inicialmente publicado no número 19, 1º número �de Maio de 2009 (link) - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

Recordar o Raizonline - Trabalhos de números de arquivo - Análise da Poesia de Francisco Arcos - Por Daniel Teixeira - Texto inicialmente publicado no número 19, 1º número �de Maio de 2009 (link) - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

Poesia de Maria Custódia Pereira - ALENTEJO; Coração; QUANDO A SAUDADE FICA - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

Poesia de Sylvia Beirute - Pergunta intacta na sombra da minha porta ; Dias debaixo da força das raízes; Poema Homoerótico - Jornal , Portal e Rádio Raizonline

Link

Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - Ilus�o ; O martelar dos saltos ; O Poema da Orqu�dea Rosa - Jornal , Portal e R�dio Raizonline

Link

POESIA DE JOEL LIRA - Adeus, at� sempre ou at� j�!; Lisboa no meu olhar ; Rua Augusta - Jornal , Portal e R�dio Raizonline

Link

Poesia de Theca Angel - AMA-ME ASSIM...; Noites de Primavera; O TEMPO LEVOU OS VER�ES... - Jornal , Portal e R�dio Raizonline

Link

Jornal Raizonline n� 127 de 4 de Julho de 2011 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - A cultura da evid�ncia - Jornal , Portal e R�dio Raizonline

Link

UMA TRISTE SEMANA - Carta de Jo�o Furtado a Arlete Piedade - Querida Amiga Arlete - Jornal , Portal e R�dio Raizonline

Link

segunda-feira, 27 de junho de 2011

MANUEL VICENTE, TRAMA E EMOÇÃO

MANUEL VICENTE, TRAMA E EMOÇÃO


 

MANUEL VICENTE, TRAMA E EMOÇÃO
Manuel Vicente, Trama e Emoção
“Um sítio para habitar” ou “O espaço do ser” é como Manuel Vicente (Lisboa, 1934) define a arquitectura. Esta exposição é uma retrospectiva dos cinquenta anos de busca por esse ideal de prazer e emoção ou, simplesmente, do sublime que pode existir no nosso quotidiano. Uma leitura antológica da obra de arquitectura de Manuel Vicente.
A mostra é composta por uma selecção de obras, da década de 60 do século XX ao século XXI, da escala da habitação ao território, traçando uma panorâmica da obra do arquitecto. Desenhos originais, maquetas de análise, imagens e textos apresentam os projectos e os espaços edificados. Integra ainda um conjunto de filmes, realizados em Macau no início deste ano, e que propõem uma reflexão sobre a apropriação de algumas dessas obras; um testemunho particular das últimas décadas da presença portuguesa.
Esta exposição faz parte do programa “Manuel Vicente, trama e emoção” de divulgação da sua obra, a propósito da qual se reflecte sobre a importância da arquitectura na sociedade contemporânea e se questiona a relação de Portugal com Macau. Iniciativa da Atalho, laboratório de arquitectura e urbanismo, a exposição é co-organizada com o Departamento de Arquitectura e Urbanismo do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa e o Centro de Documentação da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, projecto financiado pelo Ministério da Cultura/ Direcção Geral das Artes.
Galeria Nascente, 24 Junho a 7 Agosto 2011

Folclore da Indonesia

COMPANHIA BIREUN SEUDATI UPH


 

COMPANHIA BIREUN SEUDATI UPH
30 Julho
companhia BIREUN SEUDATI UPH
dança indonésia
21.30
Auditório

Bireun Seudati, a companhia profissional de dança da Universidade Pelita Harapan (UPH), de Jacarta, foi criada em 2005, como forma de os jovens universitários partilharem as suas ideias sobre arte, tradição e herança cultural.
O riquíssimo folclore da Indonésia, um país com 700 grupos étnicos espalhados por milhares de ilhas, tem viajado pelo mundo graças à companhia profissional de dança da Universidade Pelita Harapan (UPH), de Jacarta. Cerca de duas dezenas de bailarinos em palco apresentam coreografias e trajes tradicionais, acompanhados de um grupo de músicos num espectáculo pleno de cor e de sonoridades exóticas.
A dança indonésia, a par da música e dos trajes, reflectem a diversidade étnica e cultural do país: populações de raiz austronésia, formas tribais melanésias e populações de influência asiática e até ocidental, por via da colonização. Cada grupo étnico tem as suas danças próprias o que faz que, no país, existam mais de 3000 danças originais, divididas em três períodos - a era pré-histórica, a era hindu/budista e a era do Islão – e em dois grandes géneros: a dança da corte e a dança folclórica.


terça-feira, 14 de junho de 2011

FILOSOFIA DA HISTÓRIA - Juan Cruz Cruz

FILOSOFIA DA HISTÓRIA - Juan Cruz Cruz
Peso: 450 gr


Livro FILOSOFIA DA HISTÓRIA
de Juan Cruz Cruz
307 páginas
Língua: Português
Tradução: Fernando Marquezini
Editora: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência "Raimundo Lúlio" (Ramon Llull)
ISBN: 978-85-89294-10-2
Colecão: Manuais
Nº da Edição: 1ª
Ano de edição: 2007
Livro disponível para entrega

O que é o fato histórico? Como se constitui? Como se conhece? Qual é seu princípio e seu fim? O professor Juan Cruz Cruz, com sua conhecida habilidade didática, explica ao leitor todas as noções relacionadas com a História: o testemunho, a narrativa, o tempo, a tradição, a evolução, o sujeito da História. Ficam extraordinariamente clarificados os diversos modelos historiológicos, os temas do progresso e da revolução e, não poderia faltar, o tema da liberdade. Pela primeira vez no Brasil, um completo manual de Filosofia da História, imprescindível para filósofos e historiadores. Clique aqui para ver o índice.

A ESCRITA DA HISTÓRIA - Jaume Aurell

A ESCRITA DA HISTÓRIA - Jaume Aurell
Peso: 450 gr

Livro A ESCRITA DA HISTÓRIA - Dos positivismos aos pós-modernismos
de Jaume Aurell
247 páginas
Língua: Português
Editora: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência "Raimundo Lúlio" (Ramon Llull)
ISBN: 978-85-89294-20-1
Coleção: História
Edição: 1ª
Ano de Edição: 2010
Livro disponível para entrega




Este novo livro de Jaume Aurell é imprescindível para os estudiosos da História. O autor expõe todas as correntes historiográficas desde finais do século XIX até o presente, explica o seu método e apresenta seus protagonistas. Do que se trata? Ele explica que a historiografia começa com as obras pioneiras de Eduard Fueter e Herbert Butterfield. Em pleno século XX a história passa por uma transformação, e evolui desde os limites impostos pela disciplina até uma reflexão teórica interdisciplinar, apoiada no estudo das epistemologias e nas correntes intelectuais. Surge o resultado de um estudo cada vez mais sutil da história, porque os historiadores refletem sobre o contexto social, institucional e político. Foram os historiadores Georg G. Iggers, alemão, juntamente com o francês Charles O. Carbonell, os que deram esse impulso. Já o ponto de partida do pós-modernismo historiográfico é o livro que Hayden V. White publica em 1973, Meta-história. A imaginação histórica na Europa do século XIX. Trata-se, ao mesmo tempo, de um estudo da história intelectual; de um estudo de historiografia, cuja fonte principal são os textos históricos do século XX; e de um objeto historiográfico em si mesmo considerado. No panorama historiográfico atual crescem os debates sobre o relativismo histórico. Por exemplo, Claude Lévi-Strauss e Karl Popper consideraram que a história nunca é totalmente objetiva porque cada historiador possui um ponto de vista, e sua obra tem validade somente no tempo e para a cultura onde foi articulada. Para Jaume Aurell as coisas não são tão simples assim. Evidentemente, cada escola reflete a tradição e as condições culturais que a envolvem. O que ele não está de acordo é que o entorno seja o fator determinante do relato histórico. Entre o texto e o contexto existe uma relação de complementaridade, o que faz com que o texto adequadamente tratado afirme-se como instrumento irrenunciável para alcançar o conhecimento objetivo da história. Clique aqui para ler mais.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Cidade dos Mortos

A Cidade dos Mortos


‎Ontem, ‎12‎ de ‎Junho‎ de ‎2011, ‏‎20:30:39 | bestcineIr para o artigo completo
“A Cidade dos Mortos”, no Cairo, é a maior necrópole do mundo. Um milhão de pessoas vivem dentro do cemitério – em casas tumulares ou nos edifícios que cresceram em redor. Dentro do cemitério há de tudo: padarias, cafés, escolas para as crianças, teatros de fantoches… “A Cidade dos Mortos” estende-se por mais de dez quilómetros ao longo de uma auto-estrada, mas não deixa de ser uma aldeia, com mães à caça de um bom partido para as filhas, rapazes a correr atrás das raparigas, disputas entre vizinhos. Preparado e rodado ao longo de cinco anos (2004-2009), este filme procura dar a ver o a alma invisível deste cemitério.
A Cidade dos Mortos
Sinopse:
Cairo, Egipto. Um cemitério que é uma cidade dentro da própria cidade, ao longo de dez quilómetros de auto-estrada.
Entre túmulos, ou dentro deles, um milhão de pessoas monta as suas casas sobre os familiares que partiram. Tudo nesta cidade é igual a qualquer outra: existem lojas, oficinas, cafés, escolas.
“Aquele, no filme, é o ‘meu’ cemitério do Cairo, é a expressão daquilo que sinto”, confessa Sérgio Tréfaut que afirma ainda encontrar-se nesta simultaneidade: “a consciência da materialidade das coisas, a podridão da carne, o estarmos próximos dos vermes e uma enorme capacidade espiritual daquelas pessoas, uma enorme fé e energia na vida. Uma noção da finitude das coisas sem resignação nem niilismo”.
Trailer:
Realizador: Sérgio Tréfaut
Argumento: Sérgio Tréfaut
Intérpretes: (nada a assinalar)
Estreia Mundial: 2009
Estreia em Portugal: 14 de Abril de 2011
Mais Info: IMDB

O filme “Miral” é um drama centrado numa rapariga orfã palestiniana

‎Hoje, ‎13‎ de ‎Junho‎ de ‎2011, ‏‎há 2 horas atrás | bestcineIr para o artigo completo

O filme “Miral” é um drama centrado numa rapariga orfã palestiniana que cresce durante a primeira guerra Árabe-Israelita, num dilema entre os ensinamentos da mulher que a acolheu, bem como a outras centenas de orfãos, sobre tolerância e o activismo político da homem por quem se apaixona. Freida Pinto será protagonista do filme e contracena ainda com Willem Dafoe e Vanessa Redgrave.
Miral

Sinopse:
Em 1948, após o massacre de Deir Yassin perpetrado por israelitas numa aldeia nos arredores de Jerusalém, Hind Al-Husseini (Hiam Abbass), uma jovem mulher, recolhe 55 crianças desamparadas, criando a Dar al-Tifl al-Arabi, um orfanato para as crianças desfavorecidas na capital da Palestina.
Em 1978, após o suicídio da mãe, Miral, de apenas sete anos, é levada para ser educada na que, com o passar dos anos, se tornou na melhor escola de raparigas do país.
Dez anos depois, com o país em guerra, Miral (Hiam Abbass) tem de tomar a maior decisão da sua vida: abandonar o conforto e protecção da escola e lutar pelos seus ideais, associando-se a um grupo de idealistas decididos a lutar, ou seguir os estudos e ajudar o seu povo de uma outra maneira.
Realizado por Julian Schnabel (“Basquiat”, “Antes que Anoiteça”, “O Escafandro e a Borboleta”) é baseado na obra autobiográfica da jornalista Rula Jebreal que, no filme, entra como argumentista.
Trailer:

www.youtube.com/watch?v=XdPZEmtk7CA

Realizador: Julian Schnabel
Argumento: Rula Jebreal
Intérpretes: Freida Pinto, Hiam Abbass, Willem Dafoe, Yasmine Elmasri, Omar Metwally, Alexander Siddig, Ruba Blal, Vanessa Redgrave, Makram Khoury
Estreia Mundial: 2010
Estreia em Portugal: 16 de Junho de 2011
Mais Info: IMDB
Site Oficial: clique aqui

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Portugal em Annecy com a maior presença de sempre

Cinema

Portugal em Annecy com a maior presença de sempre

O Festival Internacional do Cinema de Animação de Annecy, que decorrerá entre os dias 06 a 11 de Junho, é o mais importante de divulgação deste género cinematográfico, recordou o realizador.
Na competição de curtas-metragens foram escolhidos três filmes portugueses: "Viagem a Cabo Verde", de José Pedro Ribeiro, "O sapateiro", de David Doutel e Vasco Sá, e "Conto do vento", de Nelson Martins e Cláudio Jordão.
Fora de competição serão exibidos "A única vez", de Nuno Amorim, e "Os olhos do farol", de Pedro Serrazina.
Na secção competitiva de séries de televisão estará um episódio da produção "Dodu, o rapaz de cartão", de José Miguel Ribeiro.
"Afonso Henriques, o primeiro Rei", de Pedro Lino, feito no âmbito dos 900 anos do nascimento do monarca, integra a competição de filmes educativos, científicos e empresariais.
A produtora Sardinha em Lata terá ainda um espaço de divulgação do seu trabalho, em parceria com a Agência da Curta-Metragem, no MIFA, o mercado internacional de filmes de animação, que decorrerá em paralelo ao festival.
Mesmo que os filmes não conquistem qualquer prémio, José Miguel Ribeiro disse que a presença em Annecy é importante por causa da "visibilidade mundial".
"As grandes compensações dos festivais são a visibilidade. Estão lá programadores, produtores que podem levar depois os filmes para os seus festivais", disse.
A presença de tantos filmes portugueses num festival como Annecy acontece poucos meses depois do agentes do cinema de animação em Portugal terem elaborado uma carta estratégica para o setor para os próximos dez anos, reivindicando mais verbas.
Produtores, realizadores, argumentistas defendem a vitalidade de um setor que tem tido reconhecimento e prémios internacionais e que consideram ter "potencial para o país".
"Ao contrário de tudo o que tem acontecido de mau, vêm estas boas notícias de seleção para festivais como o de Annecy e que há pelo menos o reconhecimento internacional de que em Portugal há filmes de qualidade e que há pessoas a fazer cinema de animação", disse José Miguel Ribeiro.
Foi no festival de Annecy que a realizadora Regina Pessoa venceu em 2006 o grande prémio com a curta-metragem "História Trágica com Final Feliz".
Este ano a realizadora integra o júri que atribui o prémio à melhor curta-metragem.
(ES)

Ministério e EGEAC assinam protocolo sobre a Colecção Bastin

Museus

Ministério e EGEAC assinam protocolo sobre a Colecção Bastin

O documento foi assinado no Museu da Música pelo Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) e pela Empresa Municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC)/Museu do Fado, as duas entidades que adquiriram por 1,1 milhão de euros a colecção.
O protocolo abre caminho a “serem produzidas edições áudio ou iconográficas de natureza comercial a partir dos fonogramas desta coleção” e esclarece que “todas as receitas líquidas que possam ser obtidas através [destas] operações devem reverter a favor da gestão e estudo da ‘Colecção Bruce Bastin’, bem como da eventual compra de espólio que possa complementá-la e alargar a sua compreensão”.
O secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle, afirmou que o protocolo prevê a “gestão partilhada do espólio que potencia e enquadra cientificamente num museu próprio e qualifica tecnicamente a investigação em torno deste espólio”.
O protocolo constituído por quatro cláusulas atesta que “uma vez que o Ministério da Cultura financiou em 70% a compra da Colecção, compete ao Museu do Fado a angariação de recursos financeiros, técnicos e humanos, bem como a gestão do orçamento necessário à concretização do presente Protocolo, designadamente no que respeita aos processos de aquisição de bens e serviços indispensáveis ao desenvolvimento dos trabalhos”.
A Colecção encontra-se no Museu do Fado, lê-se no mesmo protocolo, e aí permanecerá até à cessação do actual contrato que “cessará mediante comunicação do Museu da Música com 90 dias de antecedência relativamente à data da sua abertura ao público nas futuras instalações”, localizadas em Évora no Convento de S. Bento de Castris (Malagueira).
Summavielle salientou que “as peças raríssimas que há na colecção” e afastou quaisquer divergências em torno da mesma.
“Estão ultrapassadas todas as demandas”, sustentou o governante, questionado sobre o anúncio em Maio de 2008 pelo Ministério da Cultura e pela EGEAC de que faltavam discos e havia repetições no espólio.
O comunicado emitido dava conta de que a comissão de avaliação do espólio denunciou a "inexistência de conformidade entre o espólio entregue e a listagem anexa ao contrato" assinado.
“Não há nenhum contencioso a esse respeito”, rematou o secretário de Estado.
A colecção, segundo informações dadas à imprensa pelo colecionador, inclui gravações, maioritariamente de fado, mas também de outros géneros musicais, efetuadas entre 1904 e 1945 com algumas vozes de referência da cena musical portuguesa da primeira metade do século XX.
A colecção integra gravações feitas pela His Master's Voice, Columbia, Homokord, Victor ou Grammophone, que estavam, na sua maioria, dadas como perdidas.
Entre vozes de referência estão gravadas as de Júlia Florista, Maria Vitória, Reinaldo Ferreira, José Bastos, Isabel Costa, Almeida Cruz, Eduardo de Souza, Rodrigues Vieira ou Delfina Victor, além de nomes como Berta Cardoso, Alfredo Marceneiro e Ercília Costa.
(IB)


quarta-feira, 8 de junho de 2011

A Vida acima de tudo – Life Above All

A Vida acima de tudo – Life Above All

 bestcineIr para o artigo completo

A acção do drama “A Vida acima de tudo” passa-se numa pequena comunidade da África do Sul, onde mãe e filha têm de se entreajudar para travarem uma luta contra os preconceitos que abundam na comunidade. Realizado pelo sul-africano Oliver Schmitz (“Paris, Je t’aime”), o filme é baseado no premiado romance “Chanda’s Secrets”, escrito por Allan Stratton.
A Vida acima de tudo - Life Above All

Sinopse:
Numa pequena vila nos arredores de Joanesburgo, África do Sul, a vida, apesar de dura, é levada com orgulho e as tradições com rigor. Chanda (Khomotso Manyaka) é uma menina de 12 anos cuja inteligência e sensatez faz prever um futuro auspicioso.
Porém, tudo se transforma quando a sua irmã recém-nascida morre e a sua mãe, inconsolável, entra em depressão profunda e foge. Sem ninguém para cuidar da família, Chanda é obrigada a deixar a escola para cuidar dos seus dois irmãos ainda pequenos.
Com o passar do tempo, percebe que os vizinhos alteraram drasticamente a forma como lidavam com ela e com a sua família e que se contam boatos cuja explicação ela nunca chega a perceber.
Suspeitando que tudo se deve à doença da mãe e à morte da irmã, Chanda decide enfrentar as crenças e preconceitos da comunidade e partir em busca da progenitora.
Realizado pelo sul-africano Oliver Schmitz (“Paris, Je t’aime”), é baseado no premiado romance “Chanda’s Secrets”, escrito por Allan Stratton.
Trailer:

www.youtube.com/watch?v=mTWZrLK2TME

Realizador: Oliver Schmitz
Argumento: Dennis Foon, Allan Stratton
Intérpretes: Khomotso Manyaka, Keaobaka Makanyane, Harriet Lenabe, Lerato Mvelase, Tinah Mnumzana, Aubrey Poolo, Mapaseka Mathebe, Thato Kgaladi, Kgomotso Ditshweni
Estreia Mundial: 2011
Estreia em Portugal: 09 de Junho de 2011
Mais Info: IMDB
Site Oficial: clique aqui

Empire of Silver

Empire of Silver

 bestcineIr para o artigo completo

“Empire of Silver” é um filme/biografia que nos traz a história de um jovem conhecido como “Terceiro Mestre”, que é o herdeiro de uma fortuna bancária, pela qual pouco se importa. No entanto, após a esposa do seu irmão ser raptada, ele relutantemente se submete à pressão do seu título e do seu pai, o Senhor Kang. A relação tensa entre o “Terceiro Mestre” e Senhor Kang é ainda mais complicada pelos sentimentos do filho pela sua bela e jovem madrasta…


Empire of Silver

Sinopse:
China, 1899. Numa terra de beleza e tradição intemporal um jovem conhecido como “Terceiro Mestre” é o herdeiro de uma fortuna bancária, pela qual pouco se importa. No entanto, após a esposa do seu irmão ser raptada, ele relutantemente se submete à pressão do seu título e do seu pai, o Senhor Kang.
O Senhor Kang está determinado em preparar o seu filho para a liderança financeira moldando o “Terceiro Mestre” à sua própria imagem. Mas os métodos do empresário de temperamento forte não assentam bem com as linhas do “Terceiro Mestre”, que vê a salvação de seu negócio ao seguir o caminho da rectidão dos seus antepassados.
A relação tensa entre o “Terceiro Mestre” e Senhor Kang é ainda mais complicada pelos sentimentos do filho pela sua bela e jovem madrasta – o seu primeiro e único amor -- roubado por ele e pelo seu próprio pai.
O destino do império bancário e sua família mais poderosa está agora com um jovem idealista dividido entre as necessidades do povo, o direito à sua família, e o amor eterno de uma mulher.
Trailer:

www.youtube.com/watch?v=v7Bpb-ysEVE

Realizador: Christina Yao
Argumento: Christina Yao, Cheng Yi
Intérpretes: Aaron Kwok, Lantian Chang, Zhicheng Ding, Lei Hao, Shih Chieh King, Jonathan Kos-Read, Zhen Yu Lei, John Paisley, Jennifer Tilly
Estreia Mundial: 2009
Estreia em Portugal: sem data prevista
Mais Info: IMDB
Site Oficial: clique aqui

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Serpa cria o "Musibéria"

Cultura Outros

Serpa cria o "Musibéria"

Segundo declarações de João Rocha, presidente da edilidade, veiculadas pela agência Lusa, este Centro é um "projecto inovador" criado pelo município de Serpa, que tem como objectivo "conservar, defender e divulgar" o património das músicas e danças de raiz luso-espanhola, através de actividades educativas e culturais.
Para João Rocha o Musibéria deverá constituir-se no "braço especializado" de instituições de ensino e ainda um "centro de excelência" que prestará formação adequada sobre matérias como música e dança de raiz luso-espanhola a artistas, alunos, professores e público em geral, através de cursos de curta duração, semestres académicos e simpósios.
Samba, tambores africanos, bossa nova, calipso, tebe, flamengo, tango e son, chorinho, morna, kuduro, fado, rumba, coladeira, marrabenta e cante alentejano serão os géneros de música e de dança que estarão na base da formação que será ministrada no Musibéria.
Para além disso, segundo o autarca, o Centro tem também como objectivo ser "um espaço de divulgação, encontro e miscigenação da cultura da diáspora luso-espanhola", no que respeita à música e à dança, promovendo actividades culturais, como concertos, exposições e conferências.
O Musibéria será inaugurado no último dia do Encontro de Culturas de Serpa, exactamente a 18 de Junho, e a actividade pedagógica terá o seu início em Julho com a realização do primeiro módulo "A voz e a guitarra no fado e no flamenco".
O músico Laurent Filipe, será o coordenador da actibidae do Centro que se centrará em três vertentes "Formação Especializada em Música e Dança", "Educação para a Vida" e "Difusão Cultural".
A "Formação Especializada em Música e Dança" é direccionada particularmente para artistas e professores e inclui áreas como qualificação instrumental em música e dança, história da música luso-espanhola e teoria e prática pedagógica.
A "Educação para a Vida" serve toda a comunidade, em particular os estudantes do concelho de Serpa, e prevê ainda a realização de oficinas de dança, de música e de história da cultura luso-espanhola.
Quanto à "Difusão Cultural" é preferencialmente para artistas e inclui a promoção de festivais interculturais, concertos e espectáculos, e também a produção de materiais, como gravações de discos, e a pesquisa e divulgação.
O Musibéria vai funcionar na antiga fábrica de moagem de Serpa, cuja obra de reabilitação, apoiada que foi por fundos comunitários, implicou um investimento de "cerca de dois milhões de euros", esclareceu o presidente da edilidade.
O Musibéria está instalado em dois edifícios interligados da antiga fábrica, um correspondente à recuperação do imóvel que existia e outro construído de raiz, e inclui espaços de ensino, auditórios, estúdios de gravação, um bar, uma loja e um espaço museológico.



Zita Ferreira Braga

Portal Matriz Cultural Imaterial já online

Museus

Portal Matriz Cultural Imaterial já online

O portal foi apresentado durante o seminário “MATRIZ: Novas Perspetivas para o Inventário, Gestão e Divulgação do Património Móvel e Imaterial”, organizado pelo Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) e pela BOND – Building on Network Dynamics, que se realizou no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA).

"Trata-se de um novo portal onde as entidades detentoras de manifestações do património cultural imaterial podem aceder e introduzir de forma a serem inventariadas", indicou Paulo Ferreira Costa, director do Departamento do Património Imaterial do IMC, acrescentando que a criação deste instrumento representa o cumprimento, por Portugal, da convenção da UNESCO sobre esta área.

A convenção da UNESCO sobre esta matéria foi criada em 2003, entrou em vigor em Portugal em 2008, e no ano seguinte criou um quadro jurídico de salvaguarda de Património Cultural Imaterial.

Paulo Ferreira Costa indicou que a criação deste portal, que servirá para a criação de um inventário sobre o património imaterial do país, "é a condição para a futura apresentação de candidaturas de património imaterial por Portugal" à UNESCO.

O fado é a primeira expressão de património imaterial que Portugal apresentou oficialmente à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, com avaliação prevista para novembro deste ano, em reuniões que vão decorrer em Bali, na Indonésia.

Além desta, está em preparação a candidatura da dieta mediterrânica, recordou.

Metade dos museus do país possui já no seu acervo fundos documentais na área do património imaterial, como fotografias, filmes e som, segundo os dados preliminares de um inquérito nacional realizado em 2010 por este departamento do IMC.

O director do departamento adiantou ainda que o portal Matriz PCI vai conter, traduzida pela primeira vez para português, toda a informação sobre as mais de 200 expressões de património imaterial mundial já classificadas pela UNESCO.

"Essa informação já constava no site da UNESCO, mas nas línguas oficiais, não em português", comentou.

No seminário foram também apresentados outros dois instrumentos: a nova versão 3.0 do Matriz, sistema de informação integrado para inventário, gestão e divulgação de património, cultural móvel, imóvel e imaterial, e uma nova versão do MatrizNet, o catálogo online dos museus e palácios do IMC.

Estas ferramentas desenvolvidas pelo IMC "fazem parte de um grande projeto estruturante para os museus do país”, sublinhou o responsável, lembrando que o projeto Matriz, como software, foi criado em 1994, e já teve várias evoluções.

No quadro da internacionalização do projeto Matriz, e através de parcerias com a entidade homónima do IMC no Brasil (o Instituto Brasileiro dos Museus) e noutros países de língua portuguesa, está ainda em construção um projeto de recolha para inventariação online do património cultural do mundo lusófono.
(ES)


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Com voz de fado e instrumentais de qualidade superior os Atlanthida em disco

Discos

Com voz de fado e instrumentais de qualidade superior os Atlanthida em disco

O projecto Atlanthida apresentou o seu disco "Uma canção genuinamente portuguesa", no Cinema S. Jorge, em Lisboa.
Com uma sonoridade bastante atrativa e bela, os seis elementos que compõem este grupo oriundo do Porto, encantaram as dezenas de espectadores que se deslocaram ao S. Jorge para os escutarem.
Trata-se de um propjecto totalmente acustico, onde o acordeão, a guitarra, a vilola e o violoncelo acompanham a bela e cativante voz de Gisela.
A história da banda é contada por seis músicos e uma fadista. Oriundos dos mais distintos géneros musicais, os Atlantihda viajaram pelo mundo da música nacional e internacional, absorvendo várias influências para se encontrarem num projecto que acabaria por ligar a música de raiz tradicional e rural, com aquela que é a nossa música popular urbana: O Fado.
O seu agente, Helder Moutinho, fala-nos sobre os músicos Falando que compõem os Atlanthida afirmando que João Campos descobre a sua vocação no Rock e nos Blues quando, mais tarde, vem a descobrir outros instrumentistas e compositores, desde Mark Knofler a Paco de Lucia, ou ainda John Williams a Roland Dyens.
Por sua vez, Miguel Teixeira, passou pelo Heavy Metal para mais tarde se debruçar numa vasta escolha de preferências musicais que vão de Carlos Paredes, a Pat Metheny ou Rabih Abou Khalil. Fátima Santos tocava acordeão nos Ranchos Folclóricos da sua aldeia na região de Oliveira do Hospital e com o crescimento como instrumentista acabou por se apaixonar por outros géneros relacionados como as músicas de Ástor Piazzolla, Richard Galliano e Maximilliano Pitoco.
Mélanie nasceu em Paris e aos dez anos foi viver para Viana do Castelo, cidade atlântica mais "nortenha" de Portugal onde a música tradicional tem um grande relevo. Aí frequentou tertúlias bem como romarias e, como violoncelista, ingressou muito nova orquestras clássicas absorvendo referências de grandes instrumentistas e compositores como Bach, Rostropovitch, Yo-Yo Ma e Truls Mørk.
José Flávio Martins, autor das letras e músico autodidacta, sempre se dedicou à música tradicional. As suas influências misturam-se, tal como os outros elementos da banda, entre grandes ícones internacionais que vão desde os Chieftains a Dead can Dance.
Por sua vez, Gisela João é desde sempre e incondicionalmente uma “Fadista”. Nasceu em Barcelos e aos vinte anos foi viver para o Porto, onde iniciou o seu percurso nas casas de fado da “Cidade Invicta” para posteriormente se mudar para Lisboa. A sua escolha musical fora do fado vai desde Ella Fitzgerald a Matthew Herbert ou Sérgio Godinho mas na realidade, é com as vozes de Amália, Lucília do Carmo e Camané, entre outros, com que mais se identifica.
Um disco que o Hardmusica recomenda a quem goste de boa música.

Os Atlanthida marcarão presença no festival Super Bock Super Rock a 15 de Julho na Herdade do Cabeço da Flauta, Meco.



Frederico Santos Silva

PSP detém outra menor envolvida nas agressões a jovem de 13 anos

Vídeo polémico

PSP detém outra menor envolvida nas agressões a jovem de 13 anos

31 | 05 | 2011 13.45H
A rapariga de 15 anos filmada a agredir violentamente uma outra jovem, de 13 anos, foi esta manhã detida pela PSP de Loures, por ordem do Tribunal de Menores. A notícia é avançada pela TVI 24.
A jovem estava até hoje em parte incerta, mas acabou por ser encontrada pelas autoridades.
De acordo com a TVI 24, a menor será interrogada nas próximas 48 horas, estando por definir se será internada num centro educativo.
Além da co-autora das violentas agressões documentadas no vídeo que foi partilhado no Facebook já estavam detidos outra jovem de 16 anos e o autor do vídeo, de 18 anos.

APENAS 1% DOS LICENCIADOS EM INFORMÁTICA PELA UPT PROCURA EMPREGO

NOS ÚLTIMOS 10 ANOS


APENAS 1% DOS LICENCIADOS EM INFORMÁTICA PELA UPT PROCURA EMPREGO



CURSO É O SEGUNDO, ENTRE TODAS AS ÁREAS, COM MENOS DESEMPREGO EM PORTUGAL


Nos últimos 10 anos, apenas 1% dos alunos que se licenciaram em Informática pela Universidade Portucalense (UPT) está à procura de emprego, revela o Departamento de Inovação, Ciência e Tecnologia (DICT) daquela Instituição.

Este curso da UPT apresenta, aliás, a melhor taxa de empregabilidade entre todos os cursos de Informática leccionados ao nível do Ensino Superior entre os anos lectivos de 1999/2000 e 2008/2009 e é o segundo curso em Portugal com menos desemprego entre todos os cursos, de todas as áreas do saber.

Para atingir estas conclusões, o DICT baseou-se em dados disponibilizados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional, do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

“Os dados que recolhemos e analisamos são um forte indicador de que o modelo de ensino que implementamos cumpre o seu grande desígnio, que é o de preparar devidamente os alunos, dotando-os de todas as competências técnicas e humanas para que possam triunfar no mercado de trabalho”, refere Filomena Castro Lopes, Directora do DICT da UPT.

A análise da UPT contempla o cruzamento do número total de licenciados em Portugal continental entre os anos lectivos de 1999/2000 e 2008/2009, com o número de licenciados no mesmo período registados como desempregados até Junho de 2010.

Administrador de sistemas, programador, gestor de redes e administrador de base de dados são algumas das principais profissões desempenhadas pelos licenciados em Informática pela Portucalense ao ingressarem no mercado de trabalho.


terça-feira, 31 de maio de 2011

Filme controverso de Terence Malick nos cinemas portugueses

Cinema

Filme controverso de Terence Malick nos cinemas portugueses

Nesta sua longa metragem, Terence Malick mostra a relação tumultuosa entre pai e filho numa família comum, e explora essa relação ligando-a ao longo dos tempos desde o início do universo, numa viagem pela história da vida, em imagens fabulosas de beleza.

No centro desta montagem de sentidos está uma família americana, dos anos 50, do interior do Texas, com um pai severo em demasia, e reflectindo a sua história, Malick vai às origens da Vida, com fabulosas imagens do cosmos, acompanhando uma reflexão religiosa profunda.
E com estas imagens de um cosmos enfurecido ou brilhante de beleza, temos uma banda sonora que parece ter sido escolhida em simultâneo com a montagem.

Sean Penn é Jack, o filho mais velho, que no percurso do filme nos recorda a vivência da família e o golpe sofrido com a morte de um irmão.
Mas a história desta família dissolve-se nas imagens que retratam a dor eo sofrimento da perda.
Neste filme o protagonista é a realização porque os actores diluem-se numa acção conduzida por imagens absorventes de beleza e imaginação acompanhadas por uma banda sonora que acompanha passo a passo a câmara, ou será a câmara que acompanha a banda sonora?

"A Árvore da Vida", um filme que levou mais de dois anos a montar, deu origem a pateada na sua apresentação em Cannes, mas isso não dissuadiu o juri, presidido por Robert de Niro da atribuição da Palma de Ouro.

"A Árvore da Vida" é um filme que se ama ou se odeia.

O Hardmusica aconselha os seus leitores a não perderem este controverso, polémico, insólito mas espectacular filme, quanto mais não seja, pela beleza da sua fotografia e da banda sonora.



Zita Ferreira Braga

Los Angeles distingue André Badalo

Cinema

Los Angeles distingue André Badalo

Escrita e realizada por André Badalo, a curta-metragem "Catarina e os Outros" foi produzida pela produtora algarvia Original Features e conta no elenco com Victoria Guerra, Rui Porto Nunes, Cândido Ferreira, Maria João Bastos, Philippe Leroux, Pedro Carvalho, Tiago Aldeia, Luís Garcia e Arminda Badalo.
Segundo a produtora, o Prémio de Excelência é atribuído a uma seleção de curtas-metragens a nível mundial (no caso de 2011 foram distinguidas sete, incluindo a de Badalo), por “mérito artístico e relevância social”.
Em 2010, o realizador algarvio André Badalo foi premiado no mesmo festival de Los Angeles com uma menção honrosa para o filme "Shoot me", distribuído em 44 salas de cinema nacionais e também em Angola, Cabo Verde e Moçambique, juntamente com o filme "A Cidade", do realizador americano Ben Affleck.
Os LAMA atribuem anualmente cerca de 300 prémios em 11 categorias, com o objetivo de “celebrar o cinema independente e as artes literárias”, segundo se lê no sítio oficial do festival.
(ES)