domingo, 30 de novembro de 2014

O preço dos figos - Conto de Daniel Teixeira


O preço dos figos - Conto de Daniel Teixeira

De calças compridas dali onde estava, eu nada percebia no seu corpo levantando-se e baixando-se sob uma figueira. De costas abaixadas aqui rente ao chão, a pessoa que eu via logo levantava o dorso mais além num emaranhado de ramos e ramagem onde despontavam pequenos pontos arroxeados. 

Virou-se então um pouco e ainda ao longe na minha direcção e eu, incerto, penso ter divisado um volume de seios. Talvez fosse uma mulher que colhia figos e que olhava de quando em vez em redor de si e das figueiras como se estivesse receosa. E devia estar, pensei eu.

As figueiras que pontuavam pelo pequeno monte não eram daquela pessoa, isso eu sabia e talvez fossem - e isso eu não sabia bem - de um homem de meia idade parecendo um pouco sujo e de barba salteada que por ali cirandava de quando em vez com um feltro escuro na cabeça e um colete sobre a camisa.

E então a pessoa que apanhava figos deslocou-se para uma outra árvore que estava mais perto do local onde eu observava e eu então vi perfeitamente que se tratava de uma mulher de cabelo enrolado em quase carrapito e um chapéu de palha que me pareceu desfiado nos bordos que transportava duas largas cestas de verga. 

Eu não tinha nada a ver com isso, quer dizer, nada tinha a ver com os figos e eles eram tantos ao longo das figueiras na pequena encosta que mesmo que estivessem a ser roubados pouca diferença fariam ao homem um pouco sujo do colete e do chapéu de feltro, se ele fosse mesmo o dono das árvores o que eu não sabia.

E a mulher aproximou-se ainda mais e eu, na sacada da minha varanda, três andares acima do solo que ela pisava, vi aproximar-se um miúdo, talvez com seis ou sete anos. Não deveria ter mais que isso, com certeza e tinha vestidos uns calções de ganga com suspensórios e disse-lhe «Mãe, dá-me um figo».

A mulher, talvez porque não esperasse que o miúdo ali aparecesse pareceu ficar um pouco mais assustada do que aquilo que me parecia antes e segundos depois deu-lhe um figo que o miúdo quase mastigou de uma vez. «Mãe, dá-me mais figos» disse logo em seguida o miúdo. 

Ela então respondeu-lhe que não podia dar-lhe mais figos, que os figos eram para ela ir vender mas mesmo assim o miúdo repetiu o pedido: «Mãe, dá-me mais figos» e a mulher então colocou as mãos nos quadris e disse-lhe que com o dinheiro da venda dos figos ia comprar pão e leite e massa para ele e para os irmãos e deu fim ao pequeno discurso com um autoritário «Vai para casa».

O miúdo encolheu-se um pouco mais na sua pequenez, tentou fazer outra tentativa para que a mãe lhe desse mais figos, isso eu percebi pela postura dele, mas acabou por sair dali a correr e a mulher retomou então a sua tarefa, baixando-se e levantando-se sobre a farta figueira que estava três andares de prédio abaixo de mim.

Não demorou muito que o miúdo voltasse, talvez cinco, talvez dez minutos, fazendo um pequeno ruído com os sapatos no terreno que despertou a atenção da mulher. Antes que ela tivesse oportunidade para dizer o que quer que fosse o miúdo disse-lhe então: «Mãe, vende-me figos» ao mesmo tempo que mostrava na palma da mão algumas moedas escuras.

O que ela então quis saber foi onde ele tinha arranjado o dinheiro e o miúdo respondeu que tinha sido o tio que estava à porta da taberna que lho dera, sem ele pedir, acrescentou, ele não pediu nada, ele simplesmente lho dera como fazia algumas vezes como a mãe sabia, foi dizendo.

A mulher então retirou uma mão cheia de figos de uma das cestas, com a outra mão recolheu o dinheiro e entregou então os figos, talvez meia dúzia, não mais, na concha das duas mãos do miúdo dizendo-lhe que era esse o preço dos figos, que ele fosse para casa e que se não conseguisse vender todos levaria o resto para casa, para ele e os irmãos comerem o que fez estampar um sorriso largo na face do miúdo que chamou de António.

Não pensava ficar por ali mais tempo, eu, e não teria ficado se entretanto não tivesse reparado que o homem um pouco sujo, que usava um colete por cima da camisa e um chapéu de feltro e que eu pensava ser o dono das figueiras não tivesse assomado mais abaixo junto a um canavial que corria ao longo de um ribeiro de inverno. 

Assobiou, ele, o homem, e ela, a mulher que apanhava figos olhou à volta e deixando as cestas de verga foi em direcção ao canavial. Talvez eu não devesse ter visto o que vi, talvez eu não devesse ter visto o resmalhar nas canas, talvez eu não devesse...Bem não devia mesmo. 

Há coisas que não são para se ver, mas se o não tivesse feito não teria visto a mulher regressar recompondo a recomposta blusa entre as calças, não teria adivinhado como adivinhei e depois vi as lágrimas escorrendo pela face dela e não saberia que o preço dos figos, o verdadeiro preço dos figos vai por vezes muito além do valor de algumas moedas.

Daniel Teixeira



O gato preto


O gato preto

A Arminda vivia no décimo andar de um prédio cujo elevador se mantinha entaipado havia anos. Os condóminos, por razões que todos achavam certas, variavam nas suas objecções ao arranjo do mesmo, razões essas que me não cabe a mim desenvolver aqui. Aliás, nem moro lá - caso isso não tenha ficado subentendido até agora. 

Apenas sou, no que à questão residencial se refere, visitante da Arminda e quando cheguei a casa dela desta vez estava não só derreado como estava irritado e sentia na pele da face agora crestada a falta do ar condicionado dos outros dias e aquela aragem pequena mas refrescante que o contínuo mandava do rés do chão rodando o botão para o lado do sinal mais por ser para mim.

Era bom cliente, eu, naquele prédio e o porteiro sabia-o mas desta vez pareceu-me ausente não de corpo, porque ele estava lá, com a sua farda cheia de medalhas e galões à tropa, mas porque estava e não estava no seu posto.

Ou seja, o corpo dele (e os galões e as medalhas) estavam lá plantados no sítio do costume, atrás de um balcão coberto a fórmica, mas o espírito, a alma, o sopro vital dele, aquela coisa que distingue as pessoas vivas das pessoas mortas, a respiração, o bafo, andavam nos limiares do coma, e acabei por apressar o passo no Hall. 

Disse-me depois a Arminda que lhe tinha falecido um gato, um pretinho que frequentava o terceiro andar e que eu não devia conhecer porque ele nunca ia para as escadas mas eu disse-lhe que não senhor, que era capaz de ser aquele que eu tinha visto na última vez que lá tinha estado entre o primeiro e o segundo andar embora tivesse visto um gato preto como veria outro gato preto qualquer porque os gatos pretos são todos iguais.

A Arminda disse-me então que sendo assim era bem provável que eu até o tivesse visto no dia da sua morte porque ele, o porteiro, tinha encontrado o seu corpinho desfalecido precisamente na zona do rés do chão, entre as caixas vazias de uma arrecadação.

Mas deixemos isso, disse-me ela enquanto me enchia um copo de vinho do Porto para me fazer subir a alma, disse ela, coisa que eu bem precisava, de uma alma subida depois daquela subida de dez andares e peço perdão pela redundância.

Os processos de luto do porteiro eram assim, isso eu sabia de raspão, mas para ela, Arminda, este era mais profundo, acrescentou: ela já lhe tinha conhecido vários lutos felinos o que lhe permitia - e eu aceitava - pronunciar-se agora da forma peremptória como o fazia.

Ele, o porteiro, tinha vários gatos, mas o que morrera agora, um dos pretinhos, era especial como o eram todos os outros, não por ser preto, havia mais pretos, mas porque - no dizer que ele tinha dito à Arminda - era um gato que lhe tinha sido oferecido por uma pessoa que ele considerava especial e de certa forma pode dizer-se agora, sem grande dificuldade, que ele, porteiro, via talvez naquele gato um pouco daquilo que via na pessoa que lho oferecera.

Amor (?) pela pessoa ou simplesmente um respeito respeitoso ? - Perguntei eu à Arminda quando já ia no segundo copo de Porto. Ela não conhecia a pessoa, nem sequer sabia se era homem ou mulher e o porteiro nunca fora além daquelas singelas palavras: fora-lhe oferecido por uma pessoa de quem ele muito gostava e vocalizava um lento ponto e uma vírgula para não dar o irrespeitoso ar abrupto do ponto final.

Quando a Arminda tentava puxar dele um pouco mais, naquela curiosidade quase natural para tentar descortinar algo mais daquilo que haveria para dentro da farda castanha, dos botões igualmente castanhos, das medalhas coloridas e dos galões dourados ele desviava a conversa dizendo que aquele gato (o agora falecido) não lhe dava nenhuns problemas praticamente desde que viera para aquele prédio.

Tinha - dizia ele como se ela (Arminda) não soubesse - a sua caixinha próximo da janela da sacada onde fazia as suas necessidades, uma caminha em pano acolchoado com um padrão de florzinhas brancas sobre fundo azulado (o que não condizia com o gato - ciciou-me no momento a Arminda com alguma ironia) e duas tigelas também junto à janela: uma com água e outra com ração que comia parcimoniosamente. 

Normalmente o porteiro (é melhor dizer o nome do homem agora) senhor Jorge Kovac em anteriores períodos de luto felino desinteressava-se das coisas e não valia a pena insistir com ele porque ele olhava-nos (disse ela) com os olhos vazios, abanava a cabeça como se tivesse percebido tudo mas no final não tinha percebido nada porque não conseguia perceber.

Mas desta vez, no caso deste grato preto, o processo estava a prolongar-se no tempo e na intensidade por razões que embora se admitissem dificilmente se suportavam sobre a estreita mas sólida base do minimamente exigente profissionalismo, do brio e até do desapego que deveria haver pelas coisas pessoais durante as horas de serviço.

E eu que o dissesse, da falta de profissionalismo do Kovac - frisei à Arminda - pois tinha tido a recente e dolorosa experiência própria subindo os dez andares de escadas sem assistência suplementar de ar condicionado coisa que nunca tinha acontecido no verão e nem sequer no inverno. 

Na altura do inverno o aquecimento também me era facultado em suplemento tal como o refrescante ar extra me era facultado no verão, devo precisar, embora algumas vezes tivesse razão de queixa no Inverno porque como qualquer pessoa sabe através do esforço os corpos aquecem e a partir do quinto piso o ar quente tornava-se excessivo. 

Mas sempre perdoei ao Kovac esta sua falta de sincronização temperaturamental optando por ir tirando o sobretudo, o casaco, a blusa de gola à barco e chegando a casa da Arminda em camisa com gravata já desabotoada.

Ora - e fazendo contas simples - o J. Kovac tinha a seu cargo vários gatos, e talvez uma ou mesmo duas mortes em média anual e embora possa parecer pouco humano da minha parte referir isto seria de exigir, na minha opinião, que ele tivesse já algum calo em relação à morte natural dos seus felinos. 

Calo esse que se poderia e deveria repercutir-se sobre esta última morte mesmo sendo inopinada. Coisa que assim dita pode parecer absurda porque as mortes, salvo raras excepções, são todas inopinadas.

Mas e conforme vimos acima, e se foi verdadeira a nossa ilação de que eu tinha visto este agora falecido gato preto na última vez em que lá tinha estado (em casa da Arminda) e tendo em atenção que eu não frequentava os seus aposentos senão uma vez por semana, teremos de tirar duas conclusões que interessam ao desenrolar da história.

O gato preto tinha falecido (coitado) provavelmente no dia em que eu estivera em casa da Arminda pela última vez antes daquela, quer dizer, havia oito dias arredondados e se as coisas se tinham passado como a Arminda aventava e se a fatalidade foi detectada nesse mesmo dia (oito arredondados atrás) isso queria dizer que o Kovac estava naquele estado havia sete, oito dias, sensivelmente.

Ora isso era muito tempo de luto e alheamento social mesmo que houvesse como fundamento o caso de um gato especialmente querido. Aliás a literatura médica não trata desta questão com detalhe bastante , mas será de estipular razoavelmente para o Kovac e tendo em atenção a sua envolvência com felinos, cerca de dois, três dias no máximo de luto sentido por cada gato.

Assim sendo e fazendo uma análise apressada e muito sumária e sabido que a questão do luto do Kovac já ultrapassava as marcas da razoabilidade e atingia patamares até ali difíceis de conceber propus eu à Arminda que tratasse de se inteirar mesmo indirectamente que fosse junto dele quanto tempo mais tinha o Kovac em previsão manter aquele estado lutuoso, tendo em vista - embora possa parecer cínico da minha parte - escalar telefonicamente nova visita à Arminda numa data posterior à sua libertação depressiva.

Eu utilizava os serviços da senhora, já entradota como é normal nestas coisas, o pessoal jovem já não faz destas coisas, só querem empregos de escritório e sobretudo empregos e não trabalhos. Ora a Arminda trabalhava e meu Deus como ela trabalhava: aquilo era uma máquina autêntica, salvo seja, porque no seu métier explorava o serviço personalizado, razão pela qual eu lá ia também desde havia cerca de dois anos já.

Estávamos neste bate papo sem termos entrado ainda em quaisquer preliminares sobre aquilo que ali me levava quando ouvimos um urro, um verdadeiro urro. Era do Kovac, só podia ser ele quem estava na origem do berro seco e grosso e eu, com mais um suspiro contrariado de imediato tirei a mão do cinto das calças que ia começar a desapertar.

Estava feita a tarde, nada mais se poderia acrescentar ali na casa da Arminda, tínhamos os planos semanais furados, já abalados antes pelo meu cansaço e suprimidos agora pela necessidade de dar atenção ao rompante grito. 

Mas a coisa era grave, mesmo, tenho de reconhecer agora: alguém, por artes sádicas que só aos inumanos são atribuídas após a exemplar e irada lição de Moisés aos adoradores dos bois e outras imagens alegadamente sagradas, alguém, repito, tinha tomado a iniciativa de deixar um envelope com uma folha e letras de jornal coladas ao Kovac afirmando que ele (o anónimo) lhe tinha lançado um bruxedo por causa do gato «para ele saber que ofertas daquelas feitas por quem foram» teriam para ele Kovac, sempre, resultados funestos. 

Ciúme, certamente, ciciei eu para a atónita Arminda enquanto esta temerosa se benzia, acrescentando que ainda hoje me parece impossível que haja pessoas que, por ciúmes, se esqueçam da existência da sua própria alma.

Ressalvando a morte do pobre do animal que me ficou a roer na consciência durante bastante tempo (meses, mesmo) afastei-me por isso da minha costureira de arranjos Arminda, e por carambola do Kovac nunca mais vindo a saber nada desse pessoal. 

De facto, o meu limite, o final da minha trilha, a beira do meu precipício mental, lá onde estaco o meu cavalo é quando chego ao ponto em que um oportuno lampejo memorial revolucionário me faz ficar instantaneamente convencido de um meu absurdo comportamental. 

Para este caso e neste caso, durante dois anos fui estúpido pois que nada justifica andar a subir e a descer dez andares para ter botões cozidos ou bainhas de calças levantadas.

Daniel Teixeira



segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O cavalo que morria devagar - Conto de Daniel Teixeira

O cavalo que morria devagar - Conto de Daniel Teixeira

Havia um cavalo pastando e um velho sentado numa pedra olhando o cavalo.

Havia também os dois netos do velho e um pequeno prado murado e com muitas pedras soltas musgadas. Parecia um prado tão velho quanto o velho. Ou talvez mais. Eu sempre o conheci assim, aquele prado e aqueles muros meio derrocados.

Poderia ter perguntado ao velho quanto velho era aquele prado e aquela cerca que o cercava quase por completo. Porque havia uma parte do muro que arrendava dois finos troncos cruzados que o velho certamente levantava e baixava para fazer entrar de manhã cedo e fazer sair à tarde, já quase noite, o cavalo.

Podia ter perguntado a idade daquelas pedras ali assim colocadas e talvez ele me soubesse responder. Mas o velho estava absorto, pensava naquelas coisas que os velhos pensam e cofiava o bigode e remexia o solo com o seu grosso cajado.

Não sei no que os velhos pensam quando estão assim absortos mas achei melhor não lhe perguntar nada e deixei que ele continuasse a pensar no que pensava.

Os dois netos dele, esses não tiveram o meu cuidado, eram crianças e as crianças nem sempre resguardam os tempos de pensamento de cada um e eu sei isso porque já fui criança, já tive filhos que foram pequenos e um dia, se calhar terei também netos como os dois netos do velho.

Os miúdos tagarelaram um pouco entre si e eu percebi que eles iam fazer uma pergunta ao velho: esticaram o pescoço como se quisessem ficar mais próximos do velho e disseram: «Avô!! É hoje que o cavalo vai morrer?»

O velhote voltou-se então para eles, como se fosse surpreendido pela sua presença ali, ou pela pergunta, não fiquei a saber, mas ele pareceu acordar de um mundo que era o dos seus pensamentos e ficar desperto num outro que demorou um pouco a parecer perceber.

Depois respondeu aos seus netos: «Não me parece que seja hoje, o cavalo está a comer bem e quando se come bem não se está a morrer.» Não percebi logo se a última parte da frase era também um subtil conselho aos netos mas acho que é verdade que quando se come bem não se está a morrer.

Os netos abriram os olhos com um misto de entusiasmo e de alegria, disseram mais algumas coisas entre eles e partiram em direcção à meia dúzia de casas que ficavam logo ali. Iam brincar, certamente: talvez tivessem os amigos por ali. Poucos, certamente, deviam ser poucos os seus amigos porque a aldeia estava quase deserta de vida e isso eu tinha visto logo que cheguei.

Reparou então em mim o velho e reconheceu-me. A mim, eu que já havia tantos anos que ali não ia e isso mesmo também foi o que ele disse logo. Sem se levantar da pedra onde estava sentado fez-me um aceno como se fosse um cumprimento e eu entrei então na cerca e no prado para o cumprimentar.

Já há mais de vinte anos, disse-lhe eu, há mais de vinte anos que aqui não venho. «Pois está tudo na mesma, como vês, quase nada mudou. O pessoal foi-se indo embora para as cidades, outros morreram, mas o resto ficou tudo na mesma.»

E para ele estava tudo na mesma, ou quase tudo estava na mesma porque quem fica não vê as coisas da mesma maneira dos que estão ausentes muito tempo. Vinte anos, repeti eu, e em vinte anos muita coisa mudara mesmo que o senhor Afonso achasse que estava tudo na mesma.

Ele não fumava, eu também não e ali ficamos um bocado olhando o cavalo que pastava. Já não era novo, não e era certo aquilo que os netos do senhor Afonso temiam: que o cavalo morresse e eu disse-lhe isso. Não quis criticá-lo por ter dito isso de o cavalo estar a morrer aos netos, longe de mim tal ideia mas ele deve ter percebido aquilo que eu respeitosamente não lhe disse.

«Tenho cá os meus netos e eles adoram o cavalo, sabes (?). Não quero que eles se afeiçoem muito a ele para não terem um desgosto muito grande quando ele morrer. Mas ele está morrendo devagar, muito devagar. Parece que sabe que eu não quero que os meus netos tenham esse desgosto e espera que eles voltem para a escola, para a cidade.»

Olhando a aldeia deserta, as hortas sem verdura, pensando nos meus que tinham ali morrido pensei sem lhe dizer: afinal tudo e todos nós morremos um pouco devagarinho a cada dia que passa e o senhor Afonso pensa que o seu cavalo morre todos os dias um pouco mais devagar. 

Talvez, talvez não seja assim mas é bom que ele o continue a pensar.

Daniel Teixeira


Reflexão - Texto/Conto de Daniel Teixeira


Reflexão - Texto/Conto de Daniel Teixeira

O terreno à minha frente está escuro, acinzentado. Parece que por ele passou labareda. E passou mesmo, digo-o a mim enquanto olho para aquele espaço tristemente defunto. Passou o fogo dos dias tórridos de um estio que não sei bem se destrói ou se purifica a terra. Ou faz as duas coisas, destrói e purifica, deve ser assim que as coisas se passam, penso eu agora.

Deve ser por isso que os traços do tractor revolveram as raízes do que quer que lá havia, e um tractor não risca os solos sem ter uma razão, uma lógica, um princípio. São assim os homens e os tractores, pensam de igual modo, pensam sempre o mesmo uns e outros.

O homem e o tractor arrancaram ao que quer que ali havia o alimento que lhes vinha da terra e deixaram os caules de raízes expostas à sorte que se calhar todos os anos lhes é destinada. Eu não conheço os terrenos, não sei como as coisas se passam nas terras nem o que se passa dentro delas: apenas posso reflectir e é isso e só isso que faço.

Se calhar estrumarão a terra, pode dizer-se, farão isso, entranhando-se mortos na terra e renascendo-se aos poucos aqui e ali quando as chuvas começarem a cair no composto. O solo matizar-se-à então naquele cinzento escuro com verde dos rebentos, primeiro, depois ficará tudo verde e não haverá mais cinzento queimado até ao ano seguinte.

Mas ainda não, não há verde que desponte no solo. Apenas há três ou quatro canas encostadas ao declive que se transforma num estreito ribeiro no Inverno. Erectas e muito verdes entre as outras amareladas que se deitaram, são o verde que por aquele lado há.

O homem passeia o cão ou o cão passeia o homem do cajado. Tem um boné que lhe tapa os olhos mas parece-me ser já velho, certamente que é, vejo pelo andar dele, um pouco arrastado.

Tem uma trela na mão mas a trela não conduz o cão. Este corre com a liberdade que os chamamentos do velho lhe permitem. Logo ali à frente há a estrada por onde corre veloz um trânsito que leva muita gente e mercadorias.

Um carro foi deixado ali, no terreno, um pouco à direita, um carro que já foi azul e que agora tem a cor da sucata azul. Ninguém o mexe e ele já não vai mexer-se por si mesmo. Está ali plantado no bordo das laranjeiras pequenas que não cresceram mais. A nora está tão morta como o solo escurecido e já não rega nada.

Foi uma horta verdejante, isto que eu vejo e agora já não é. Vai para construção, certamente, é o que acontece a todas as hortas verdejantes por estes lados. Aqui, donde eu vejo o que hoje vejo dentro de anos não haverá mais ervas que renascem, nem laranjeiras, nem carro morto.

Só o velho de cajado continuará a passear o cão ou o cão a passeá-lo a ele, espero.

Daniel Teixeira

A Marta - Conto de Daniel Teixeira

A Marta - Conto de Daniel Teixeira

Pensava muito eu, dizia-me ela, «Pensas e pensas, mas não é só da reflexão interior que as coisas saem. Se eu não tivesse tanto que fazer levava-te pela noite fora pelos bares até de madrugada…depois, bem, depois levavas-me a casa e talvez eu te convidasse a subir e tomar mais uma bebida…talvez, talvez…!» e depois ria-se naquele jeito sugestivo que eu tão bem lhe conhecia, acariciava-me as mãos, revolvia-me o cabelo e acabava por vezes com um beijo na testa.

Nunca daria em nada, em nada de especial, pensava eu, o sexo estava quase naturalmente afastado da nossa relação naquela altura e eu sabia bem, tinha aprendido isso tudo sem ter feito qualquer tentativa e aprendera também que era bem melhor nem sequer o tentar.

O receio de quebrar a estátua com algum grau de sacralidade que para mim era a Marta fazia-me conter, escolher caminhos de diversão e repetir constantemente para mim mesmo que o risco de tentar era demasiado elevado por maiores e mais sugestivas que fossem as acções e as palavras dela.

Talvez tenha esperado de mais, não sei, ou talvez tenha esperado justamente o tempo necessário. Eu não sei e acho que essas coisas nunca se sabem antes de terem o seu lugar. É sempre melhor guardar esta incerteza, esta indefinição…é sempre melhor não se ficar com a sensação que se perdeu alguma coisa, ou que se perdeu muito.

O meu problema, a minha falta de entendimento desta realidade derivava do facto de durante bastante tempo ter tomado os seus jogos sensuais como prova de uma ligação entre mulher e negócio, o que ela fazia, de facto, mas tendo sempre presente, de forma pouca clara ao observador, que este tipo de sensualidade era antes um instrumento e nunca uma forma profunda de sentir.

Não representava propriamente dois papéis nem ela mesma tinha dentro de si duas faces, a de mulher e a de editora, mas conseguia muito bem uma coisa que era manter esses dois campos convivendo dentro dela e projectá-los para uma exteriorização bem nítida que só ela sabia desenhar.

Eu limitei-me a conhecer a existência dela, dessa demarcação, desse traço que separava a sensualidade instrumento da sensualidade expressão de sentimento. A partir de uma dada altura aceitei bem o princípio que me parecia consequente de que nenhum destes dois campos competia ou prejudicava ou anulava o outro porque viviam mesmo em campos diferentes embora a sua forma de expressão fosse a mesma. E daí talvez não fossem as mesmas, talvez fosse eu, o observador, que unificava.

E fora então, depois de me dizer do engraçado da terriola para onde me mandava para acabar o romance que tinha em mãos que a Marta cruzara as pernas, como ela costumava fazer, a saia subia-lhe e expunha as coxas, como ela fazia muitas vezes, fazendo-me desviar os olhos.

Era difícil dar uma idade bem definida à Marta, tinha um corpo forte, pernas fortes e bem elegantes e era bonita, tinha uma cara bonita, bem bonita mesmo. E tinha umas coxas extraordinariamente belas e sugestivas e ela não só sabia disso como sabia tirar partido disso.

Ela conhecia-me bem e conhecia bem o que os homens pensavam que as mulheres pensavam deles ou podiam pensar e sabia que eu reagiria assim, que eu ficaria embaraçado por pensar que ela pensava que eu estava a olhar-lhe para as coxas e depois eu saí do seu gabinete com o papel rabiscado com as indicações do local que ela achou que eram suficientes.

Quanto à sensualidade demovente, como eu lhe chamava, a Marta era assim mesmo, nunca tinha tido a coragem de lhe dizer que sabia o que ela fazia com aquela coisa de mostrar as coxas, ou mesmo os seios quando estava inclinada à minha frente, ou à frente de outros homens, mas eu sabia que era uma forma que ela tinha de se desembaraçar de momentos ou perguntas que lhe não convinham.

Eu via-a a fazer isso mesmo em festas, ou recepções, ou nas sessões de autógrafos e ficar depois a rir-se para si mesma com o embaraço dos outros e eu sentia mais que via o seu sorriso interior. Pessoas que a respeitavam muito, como eu, e que não pensariam nunca que aquelas posições e aqueles gestos tinham outra causa senão o descuido. E era uma sensação que ela explorava muito bem, porque era uma mulher muito inteligente a Marta.

Quando me retirava dos embrulhos das conversas de grupo que me aborreciam ela agarrava-me pela mão, puxava-me para um canto ou contra uma parede e afagava-me o cabelo carinhosamente. Por vezes encostava o ventre dela ao meu e nem ela sabia a sensação de embaraço e não só que isso me dava. «Vamos provocar um bocado estes gajos» – segredava-me. E sobretudo as gajas – não dizia mas eu entendia – fazendo-me ali e daquela forma virtualmente seu, exclusivamente seu.

Havia assim já bastante tempo que a Marta me dava sinais do seu  interesse por mim só que eu não os interpretava dessa forma, achava que aquilo que ela fazia não devia ser só comigo, quer dizer, ela representava vários escritores, tinha duas poetizas, três romancistas incluindo eu e um ensaísta, fora os ocasionais que iam e vinham mas era a maneira dela e nunca pensei que fosse mais que isso, nunca pensei mesmo que ela só fizesse aquilo comigo daquela forma e com sentimento mas agora era agradável pensar assim, sentir-me especial, sentir ter sido diferente aos olhos da Marta.

Nunca se casara, segundo se sabia e ela mesma dizia e eu não sabia qual era a sua vida para além da sua função de editora, nem eu nem ninguém, ao que penso. Sempre achei que a Marta não se interessava mesmo por relações duradouras ou não: tinha a sua carreira que geria com sucesso, com escritores e poetas de sucesso, que acarinhava. Eu talvez fosse a sua mais recente «aquisição» e já havia dois anos que trabalhava com ela quando tudo aconteceu.

Aconteceu daquela forma que qualquer pessoa julga que é possível acontecer dado o que disse atrás: foi ela que avançou, foi ela que quebrou o gelo da cautela que me envolvia, foi ela em quase tudo e só depois fui eu.

Ainda hoje, que já passou algum tempo, penso, por vezes, qual terá sido o momento exacto em que ela, a Marta, saiu do campo do seu faz de conta erótico para entrar no campo da nossa realidade amorosa e penso que talvez desde sempre as coisas entre nós se passassem neste nosso campo agora aqui definido.

Talvez ela estivesse também receosa, não sei, tal como eu estava.

Enfim...há muita coisa que é possível mas não há nada que eu possa afirmar como certo.
Mas as coisas depois não se passaram como nos contos de fadas: fomos muito felizes, sim, essa parte existiu, mas não tivemos nem muitos meninos nem felicidade para sempre e tudo acabou percorrendo o caminho inverso daquele como tudo tinha começado.

E eu também não sei qual o momento exacto ou a razão exacta, se é que nestas coisas há razões, para que tudo tenha acabado. Posso supor mas não há nada que eu possa dizer com certeza.

E hoje, sentado nesta esplanada à frente da qual tantas mulheres e tantos homens passam e estando eu pensando em mim e na Marta, penso que eles, aqueles que por aqui passam, todos eles, sabem os momentos exactos em que as coisas começam e sabem os momentos e as razões, quando as há, para que as coisas acabem. E eu acho que talvez nunca o saiba.

Daniel Teixeira


O café suspenso - Conto de Daniel Teixeira

O café suspenso - Conto de Daniel Teixeira

O homem espreitou pela porta entreaberta e perguntou ao senhor do balcão se havia algum café suspenso que ele pudesse tomar e este respondeu-lhe que não havia nenhum café suspenso mas que ele podia arranjar. Ele que entrasse, disse-lhe.

A pastelaria estava vazia e o senhor que estava atrás do balcão e que limpava copos com um pano branco perguntou então ao homem que tinha já entrado se ele não queria outra coisa, talvez uma sandes e um galão, disse.

Ele disse que sim, o homem, disse que agradecia. Não lhe disse, nem iria dizer a ninguém que não fosse um mendigo como ele e se isso calhasse em conversa, que era já o quarto café que pedia nos estabelecimentos da zona e que até ali não tinha encontrado nenhum café suspenso.

Agora tinha ali a sorte de lhe sair uma oferta de uma sandes e um galão em vez de um só café, como buscava, o que era bem melhor, conforme também tinha dito o senhor que estava atrás do balcão. E era verdade, certo que era verdade.

O facto de ser aquele o quarto estabelecimento onde perguntava por um café suspenso, era coisa para ele pensar para si mesmo ou para falar com outros amigos mendigos se calhasse a jeito porque estas e outras coisas menos boas os mendigos não dizem a ninguém que não seja mendigo.

E não dizem a mais ninguém senão a mendigos, explicava-se ele a si mesmo enquanto ia entrando na pastelaria, porque se o dizem ninguém os ouve e se os ouvem fazem como se não ouvissem. 

Nada deve ser mais insignificante para aqueles que não são mendigos do que as palavras de um mendigo, porque só os mendigos entendem os mendigos. Ele sabia bem isso quase desde sempre. Os outros, os que não são mendigos, têm muita coisa em que pensar e se jogam uma moeda para o boné que ele mete no chão fazem-no quase mecanicamente, sem consumirem uma nesga do seu pensamento.

No fundo devem ter pensado um dia, há muito tempo já e isso ficou-lhes gravado na memória reflexa para sempre, que um ser que arrasta a sua miséria pelas ruas tem não um dom mas o defeito de ser pouco visível, de não contar mesmo como gente.

Por vezes, pensava ele, que se retirasse o boné do chão à sua frente ninguém notaria que ele estava onde estava. Gostava de pensar assim estas coisas, que seria, sem o boné no chão, um obstáculo a contornar assim como se contorna um cesto de papéis ou uma caixa de cartão abandonada no solo.

No último café onde tinha assomado o homem do balcão até o tinha insultado, e esse tinha mesmo reparado nele ao contrário dos outros dois anteriores que responderam com um curto «não» à sua pergunta por um café suspenso. Tinha esse homem corrido em direcção a ele vindo lá do fundo contornando as mesas mas a presença dos dentes afiados do seu lobo, como ele lhe chamava, levou-o a recuar vociferando. «Deixa, Lobo, não vale a pena...» disse então ele ao cão afagando-lhe a cabeça e puxando-o pela trela.

Ali, onde agora estava sabia que era bem melhor, o galão, é claro: era cedo, para aí sete horas e pouco da manhã e desde o jantar na Misericórdia às sete da véspera ainda não tinham comido nada nem ele nem o lobo que aguardava obedientemente na rua, perto da porta e à volta dos sacos.

Tinha passado a noite no local do costume, entre as escadas e o vento frio que enregela os ossos e tinha dormido aos poucos uma hora agora, meia hora depois, respondendo por vezes aos rosnares do lobo, que dormia e fazia a guarda dos poucos haveres de ambos.

Fazia-lhe uma festa na cabeça logo que se apercebia que era falso alarme, mas noutros dias nem sempre era falso alarme. Mas os dentes do lobo e o seu corpanzil metiam respeito mesmo.

Havia bêbados e meninos mimados que se aproximavam por vezes e até mesmo outros mendigos recém chegados à cidade ou de outras zonas daquela que frequentava e que não respeitavam nada nem ninguém.

Os bêbados, os meninos mimados e os mendigos estranhos eram quase iguais para ele, tinham quase o mesmo valor que para ele era nada. Mas eram um nada diferente daquele que ele era, como mendigo, porque há várias formas de se ser nada.

Era assim, grande e sempre vigilante o seu lobo, como lhe chamava. Já havia anos que o tinha encontrado, magro e sujo e cheio de fome e frio numa ruela escura catando o lixo de um contendor e fora amizade à primeira vista, como costumava dizer para si mesmo. Ele e o lobo naquela noite estavam ambos sozinhos neste mundo e cada um deles precisava do outro. Foi assim que isso começou.

Cuidara dele como pudera, aos poucos foi tratando da papelada, das vacinas e hoje estava tão legal como ele se é que ele estava mesmo legal o que nem sempre sabia porque nestas coisas um mendigo tem um estatuto à parte, bem mais exigente do que aquele do comum dos cidadãos.

Tinha estudado e lembrava-se bem que havia um autor que tinha dito que havia seres humanos que eram mais iguais que outros, mas sempre que pensava nele, como agora estava a pensar, dizia para si mesmo que ele se esquecera, esse autor, que para além desta desigualdade entre iguais havia ainda mais desigualdades. Na verdade há desiguais que são mais desiguais ainda que outros desiguais e ele reaprendia isso todos os dias.

O senhor fez então a sandes e o galão e disse-lhe para ele se sentar ali mesmo, ao balcão. Sempre estava melhor, acrescentou enquanto olhava para a montra e via o cão espreitando cuidadoso. Perguntou então se o cão era dele e ele disse que sim acrescentando que ele não ia entrar na pastelaria, que estava bem ensinado.

Mas não era isso que o senhor da pastelaria queria saber e acabou por lhe perguntar se o cão não teria fome também e o sem abrigo, que era ele, respondeu que lhe ia dar a metade da sandes que tinha posto de parte no prato.

Pode comer a sandes toda , disse o senhor do balcão que devia ser o dono do café, que eu arranjo-lhe qualquer coisa para o cão. E abriu uma porta que estava por detrás do balcão e começou então a juntar numa embalagem de alumínio alguns rissóis arrendados e pastéis de carne, daqueles compridos cobertos de pão ralado.

Eram da véspera acrescentou o dono do estabelecimento - só podia ser o dono, pensou - mas estavam bons, ele mesmo os comia durante o dia porque a clientela só quer coisas frescas e a brilhar. E ele, o mendigo, não gostava de falar muito com pessoas assim, que não fossem tão desiguais como ele, mas balbuciou então que sim, que estavam mesmo com bom aspecto, os rissóis e os croquetes.

Acabou de beber o galão e de comer a sandes e encaminhava-se já para a porta com a os pastéis que dariam para ele e para o cão ao mesmo tempo que ia agradecendo - isso dizia sempre - quando o homem saiu de trás do balcão e lhe disse para esperar um pouco ao mesmo tempo que metia a mão num bolso das calças e dizia «Tome lá dez euros, não é muito mas é o que posso dar a esta hora, ainda não fiz nada de caixa.»

O mendigo pensou se devia ou não devia aceitar mas não podia recusar também, ficava mal e ainda disse que era muito, mas o homem meteu-lhe mesmo os dez euros na mão e regressou para trás do balcão.

Chegado à rua tratou de dar logo dois pastéis ao lobo e já a meio da rua, enquanto arrastava os sapatos na calçada, disse ao lobo no tom peremptório que ele entendia bem:

«Não vamos voltar aqui, lobo, nunca mais. Nunca mais, ouviste!?» e como se ele, o lobo, ainda lambendo a boca e olhando para ele lhe tivesse perguntado porquê respondeu-lhe: «As pessoas que dão muito mais do que aquilo que se lhes pede, não são aquilo que parecem e nem são boa gente. Têm, sim, muito contrabando na alma que querem que lhes seja perdoado!»

Daniel Teixeira