segunda-feira, 27 de agosto de 2012

COLUNA UM - Afinal em Portugal não estamos assim tão mal...no que se refere à mortalidade perinatal.

 

COLUNA UM - Afinal em Portugal não estamos assim tão mal...no que se refere à mortalidade perinatal.
 
A Euro Peristat, de cujo Comité Científico faz parte o representante português Prof. Henrique Barros do Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina do Porto, reportando-se a dados recolhidos para o ano de 2004, divulgou recentemente o seu relatório no que se refere a dados sobre as percentagens de mortalidade perinatal na sua relação com o número de nascimentos em cada um dos 25 países da Comunidade Europeia mais a Noruega em 2004.
 
Nesse relatório, que não deixa de ser curioso nas suas dramáticas conclusões, pode verificar-se um realinhamento no ranking dos países com maior ou menor taxa de mortalidade perinatal que não encontra correspondência com a imagem normalmente construída sobre o bem estar e os cuidados de saúde a nível europeu e que diferencia em quase todos os sectores os países mais ricos e os países mais pobres dentro desta mesma Comunidade Europeia (mais a então candidata à adesão Noruega).
 
Assim, Portugal, com 3.8 mortes perinatais por cada 1.000 nascimentos encontra-se em igualdade estatística (neste plano) com a Hungria, um ponto abaixo da Austria (com 3.7), da Alemanha com 3.5, da Finlândia com 3.3, da Espanha com 3.2 (havendo aqui que referenciar que este país aparece estatisticamente separado entre Espanha com 3.2 e Valência com 4.3 o que no globo dá aproximadamente 3.5), a Suécia aparece com 3.1 assim como o Luxemburgo e a Eslováquia, com a melhor performance de todos os 26 países estudados, contabiliza 2.6 mortes perinatais por cada mil nascimentos.
 
O estranho, sem deixar de ser significativo de alguma coisa (redireccionamento diferenciado de recursos na saúde, por exemplo ) é que abaixo de Portugal, com valores que vão dos 3.9 mortes perinatais da República Checa aos 9.1 da França (10.7 na parte ultramarina), vamos encontrar neste intervalo países como a Bélgica, a Dinamarca, a Estónia, a Irlanda, a Grécia, a Itália, a Letónia, a Lituânia, a Hungria, a Holanda, a Polónia, a Eslovénia, o Reino Unido, que se encontra dividido dente Inglaterra e País de Gales com 5.7, a Escócia com 6.7 e a Irlanda do Norte com 6.3 e por fim, na lista, a Noruega com 4,5.
 
Embora o critério para a definição de morte perinatal varie nalguns casos no limiar da sua definição com «aborto espontâneo» entre «0» (Espanha e Luxemburgo) e 500 grs de peso do feto e o tempo de gestação (22 semanas a 28 semanas - Portugal adopta as 24 semanas de gestação) os números apresentados no relatório da Euro Peristat não deixam de demonstrar que o factor do acompanhamento da grávida durante a gestação é um factor que merece uma maior atenção quer das entidades de saúde quer como preocupação das próprias populações nuns países mais que noutros não dependendo exclusivamente dos meios colocados à disposição das populações a sua utilização ou frequência.
 
Outros factores não deixarão de ter a sua influência nestes números, factores estes que seria interessante escalpelizar uma vez que as estatísticas atravessam os factores religiosos (comparando Espanha com a Irlanda, por exemplo) e são aparentemente independentes do factor migratório (embora a Inglaterra e a França tenham números elevados vamos encontrar o Luxemburgo com um número relativamente baixo de mortes perinatais tal como a Alemanha).
 
Daniel Teixeira
 
Crónica Publicada no nº 3 do Jornal Raizonline em Janeiro de 2009 (a do nº 2 por razões de ordem técnica - falta de tempo - foi repetição da primeira já aqui publicada.
 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

COLUNA UM - E não paramos de falar na crise.



COLUNA UM - E não paramos de falar na crise.

Só que desta vez vai ser para rir, ou pelo menos para rir amarelo dado que mais outra vez é o zé povo que vai pagar a factura, aqui e em todo o mundo. Uns senhores, que vão sendo conhecidos, e cada vez mais conhecidos pelas piores razões estão a arrasar com a imagem da Banca, aquela Banca que os nossos velhotes conheceram e que nós julgávamos conhecer pelo menos como sendo parecida àquela que os nossos avós, pais e outros antes de nós utilizaram.

A tradicional imagem de seriedade, até do empregado de balcão bancário, gerente de conta, caixa ou outro título elevador, de fatinho ou sempre de gravata, faça sol ou faça chuva, até essa imagem não vai conseguir resistir a mais este ataque do «sistema financeiro» que tem forçosamente de abalar as «sólidas» estruturas das entidades bancárias.

Mesmo quando não satisfaziam os nossos pedidos, este senhores banqueiros conseguiam fazer com que nós de lá saíssemos não propriamente cantarolando mas largamente convencidos que o melhor para nós, para a saúde das nossas finanças, era aquela solução que nos tinha sido apresentada: comprar o produto «a» em vez do produto «b» ou ir de retro sem o empréstimo que, por «a» mais «b» se comprovava que nós iríamos ter dificuldade em pagar, arrasando assim com o nosso equilíbrio familiar e metendo a nossa família (a nossa querida família, os nossos filhos, os nossos cônjuges) em apuros prolongados. Ficávamos sem o tal computador que tínhamos idealizado oferecer no Natal à nossa estudiosa filha, sem o carro novo que substituísse o nosso que caía aos bocados, mas...eles estavam certos e só queriam o nosso bem.

Granda malta!!! Pois bem, estes mesmos senhores são aqueles que, para além de estarem na origem da maior crise financeira de sempre (mais de mil e quinhentos milhões de dólares fora as curvas que ainda não apareceram) devido à ganância, estes senhores são os mesmos, que devido à mesma ganância enfiam agora um barrete de 50 /75 mil milhões de dólares (e vamos ver a suite que pelos meus cálculos vai pelo menos dobrar) num esquema financeiro de pirâmide que todos conhecemos por sermos bombardeados constantemente por propostas semelhantes na Net. Por este sistema, uns pagam aos outros o que quer dizer que quando se acabam os outros não há quem pague aos «uns». O processo até podia ter ficado escondido por mais uns tempos não fora o efeito despoletador da crise financeira: os «uns» começaram a pedir aquilo que os «outros» já não pagavam e como resumo temos este esquema de pirâmide furada em que não há faraó que lhe valha.

Mas o que levou à crise inicial foram os mesmos princípios, não tenhamos dúvida, ainda que de forma não abertamente declarada: tratou-se de um processo em espiral que é bastante parecido ao processo em pirâmide. Como não tenho dinheiro para investir acabo, modestamente, por ficar feliz por não ser apanhado nessa gigantesca engrenagem do barrete que desqualifica os já ténues vestígios de credibilidade e de confiança que a Banca, como sistema, no seu todo, tinha: banqueiros que jogam desta forma com o dinheiro dos outros é coisa que até há pouco tempo era impensável. E curiosamente, ou talvez não, são logo os maiores bancos que entram nestas coisas, já tendo muitos confirmado ontem ter feito investimentos nos activos vendidos pela sociedade do «piramidal» Bernard Madoff, acumulando perdas de milhares de milhões de dólares. Só na Suíça, as perdas ultrapassam os 4,2 mil milhões de dólares.

O banco britânico HSBC e o Royal Bank of Scotland estão na larga lista de alegadas vítimas do investidor, tal como o francês BNP Paribas, o espanhol Santander e o gigante nipónico Nomura. O BNP Paribas, por exemplo, Francês / Holandês ainda há pouco mais de um ano foi considerado pelos experts bancários de Wall Street como o banco mais bem sucedido naquele ano. O Santander, foi dos poucos bancos que anunciou há poucos dias (ou meses) um lucro extraordinariamente superior a outros bancos da mesma envergadura ou mesmo maiores afirmando estar afastado da crise. Mas, infelizmente, continuamos a ver só a ponta do iceberg que alimentou marmanjos a dar com um pau, que pagou viagens e estadias milionárias, que fomentou ordenados faustosos a gestores . Uma vez que nada nos restará fazer senão pagar em impostos estas tretas todas digamos como Napoleão: «Soldados, do alto destas pirâmides, quatro mil anos de pagamentos vos contemplam!». Daniel Teixeira


Nota: Esta crónica foi publicada no 1º número do Jornal Raizonline em finais de 2008.