terça-feira, 21 de agosto de 2012

COLUNA UM - E não paramos de falar na crise.



COLUNA UM - E não paramos de falar na crise.

Só que desta vez vai ser para rir, ou pelo menos para rir amarelo dado que mais outra vez é o zé povo que vai pagar a factura, aqui e em todo o mundo. Uns senhores, que vão sendo conhecidos, e cada vez mais conhecidos pelas piores razões estão a arrasar com a imagem da Banca, aquela Banca que os nossos velhotes conheceram e que nós julgávamos conhecer pelo menos como sendo parecida àquela que os nossos avós, pais e outros antes de nós utilizaram.

A tradicional imagem de seriedade, até do empregado de balcão bancário, gerente de conta, caixa ou outro título elevador, de fatinho ou sempre de gravata, faça sol ou faça chuva, até essa imagem não vai conseguir resistir a mais este ataque do «sistema financeiro» que tem forçosamente de abalar as «sólidas» estruturas das entidades bancárias.

Mesmo quando não satisfaziam os nossos pedidos, este senhores banqueiros conseguiam fazer com que nós de lá saíssemos não propriamente cantarolando mas largamente convencidos que o melhor para nós, para a saúde das nossas finanças, era aquela solução que nos tinha sido apresentada: comprar o produto «a» em vez do produto «b» ou ir de retro sem o empréstimo que, por «a» mais «b» se comprovava que nós iríamos ter dificuldade em pagar, arrasando assim com o nosso equilíbrio familiar e metendo a nossa família (a nossa querida família, os nossos filhos, os nossos cônjuges) em apuros prolongados. Ficávamos sem o tal computador que tínhamos idealizado oferecer no Natal à nossa estudiosa filha, sem o carro novo que substituísse o nosso que caía aos bocados, mas...eles estavam certos e só queriam o nosso bem.

Granda malta!!! Pois bem, estes mesmos senhores são aqueles que, para além de estarem na origem da maior crise financeira de sempre (mais de mil e quinhentos milhões de dólares fora as curvas que ainda não apareceram) devido à ganância, estes senhores são os mesmos, que devido à mesma ganância enfiam agora um barrete de 50 /75 mil milhões de dólares (e vamos ver a suite que pelos meus cálculos vai pelo menos dobrar) num esquema financeiro de pirâmide que todos conhecemos por sermos bombardeados constantemente por propostas semelhantes na Net. Por este sistema, uns pagam aos outros o que quer dizer que quando se acabam os outros não há quem pague aos «uns». O processo até podia ter ficado escondido por mais uns tempos não fora o efeito despoletador da crise financeira: os «uns» começaram a pedir aquilo que os «outros» já não pagavam e como resumo temos este esquema de pirâmide furada em que não há faraó que lhe valha.

Mas o que levou à crise inicial foram os mesmos princípios, não tenhamos dúvida, ainda que de forma não abertamente declarada: tratou-se de um processo em espiral que é bastante parecido ao processo em pirâmide. Como não tenho dinheiro para investir acabo, modestamente, por ficar feliz por não ser apanhado nessa gigantesca engrenagem do barrete que desqualifica os já ténues vestígios de credibilidade e de confiança que a Banca, como sistema, no seu todo, tinha: banqueiros que jogam desta forma com o dinheiro dos outros é coisa que até há pouco tempo era impensável. E curiosamente, ou talvez não, são logo os maiores bancos que entram nestas coisas, já tendo muitos confirmado ontem ter feito investimentos nos activos vendidos pela sociedade do «piramidal» Bernard Madoff, acumulando perdas de milhares de milhões de dólares. Só na Suíça, as perdas ultrapassam os 4,2 mil milhões de dólares.

O banco britânico HSBC e o Royal Bank of Scotland estão na larga lista de alegadas vítimas do investidor, tal como o francês BNP Paribas, o espanhol Santander e o gigante nipónico Nomura. O BNP Paribas, por exemplo, Francês / Holandês ainda há pouco mais de um ano foi considerado pelos experts bancários de Wall Street como o banco mais bem sucedido naquele ano. O Santander, foi dos poucos bancos que anunciou há poucos dias (ou meses) um lucro extraordinariamente superior a outros bancos da mesma envergadura ou mesmo maiores afirmando estar afastado da crise. Mas, infelizmente, continuamos a ver só a ponta do iceberg que alimentou marmanjos a dar com um pau, que pagou viagens e estadias milionárias, que fomentou ordenados faustosos a gestores . Uma vez que nada nos restará fazer senão pagar em impostos estas tretas todas digamos como Napoleão: «Soldados, do alto destas pirâmides, quatro mil anos de pagamentos vos contemplam!». Daniel Teixeira


Nota: Esta crónica foi publicada no 1º número do Jornal Raizonline em finais de 2008.

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