terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Criolo

Criolo


Sou um artista cuja busca não reside exatamente na novidade.

Ela, que veio dar à praia na parceria de Gil com os Paralamas, me encanta, seduz, mas não é o meu gol primeiro.

Penso na beleza e na conformidade possível entre artífice e obra: cantor e canção; ator e palco.

Busco a excelência!

Vivo numa corda bamba existencial para produzir a minha arte e aí, neste lugar nada confortável mas tão estimulante quanto o tesão por pernas e braços e caras do mundo, vou seguindo e encontrando o que me motiva.

Vivendo na Bahia ainda hoje, sou espectador participante de cenários musicais que animam/incrudescem a sensibilidade.

Estou à margem da festa maior.

Estou completamente dentro de uma anti-festa festiva e pulsante, produzindo música que se converte num discurso sócio-político que - graças a Deus – encontra ecos muitas vezes longe da
Baía de Todos os Santos, mas (e aí, é bem melhor) pertinho do coração.

Tenho fãs e grandes amigos em Minas, Rio, São Paulo, Santa Catarina, Bélgica, Espanha, Inglaterra e etc...

O mundo não reside apenas na Bahia.
Graças a Oxaguiã!

Tudo isso como prólogo para falar dele.
Crioulo é uma expressão utilizada no Brasil (emprestada pelo fitro da ignorância que grassa, mesmo) pejorativamente para designar nego, neguinho, preto, pretinho e todas as demais palavras atiradas algumas vezes como ofensas ao ser negro nesta parte da América.
Criollo é o nome dado historicamente ao branco nascido na América espanhola, se bem me lembro dos meus tempos de aula em História da América.

O meu Criolo é um artista.

Revertendo negatividades, o cantor paulista (de ascendência notória no Nordeste brasileiro) é um negro/ mouro/mulato cuja música executada há cerca de vinte anos, mas chegada a mim agora, se torna discurso político dos mais necessários para elites, vulgatas e medianidades nesta terra chamada Brasil.

Assisti uma entrevista extraordinária (parafraseando expressão regularmente utilizada pela outra referencial Daniela Mercury sobre vários assuntos) de Criolo com a jornalista Marília Gabriela que me legou uma madrugada pensativa.

Criolo.

Me irmanei com seu pensamento, sua beleza (física e espiritual) e sua presença artística inconteste.

- As pessoas que trabalham comigo vão agradecer a você por este comentário...

Assim disse o cantor e compositor sobre o fato de Marília confessar que o pensamento do preto era complexo.

E é.

Gilberto Gil disse numa bela peça do final dos anos oitenta ter a "mania da compreensão".

Ele próprio, que dá nó nas cabeças, parece ancestre das palavras e ações de Criolo: a complexidade é necessária.

Nó na orelha é o nome do disco de Criolo, que caiu nas graças de uma classe média festiva e “mtvística” que o premiou, percebendo muito tempo depois o quanto sua capacidade de interfaciar rap/samba/reggae/bolero/salsa/drogas/Deus/São Paulo/Mundo pode ser fundamental para entendermos novidades como elas realmente são.

O antigo vocalista do Planet Hemp, Marcelo D2 já vem propondo samba com rap há algum tempo, verdade.

Mas o trabalho de Criolo me traz sensações de uma integridade amalgamando suas referências como aquela que só ocorre para quem as matrizes compõem profundamente; em quem vemos serem elementos constitutivos de uma leitura de mundo.

- Ney Matogrosso é um artista completo; solta o Criolo paulista/cearense, mostrando que suas matrizes soltas na plataforma do ar são belamente complexas, como tudo neste
meu preto (como se diz aqui na Bahia) de agora.

As canções de seu disco trazem a urbanidade paulista a partir de uma ótica problematizadora: drogas, amor/desamor, boates, Deus/não-Deus. Tudo isso junto e (não) misturado.
Cada coisa em seu lugar, e os lugares se (re) configurando pelas coisas, tal como o mapa em forma de cachorro da maior cidade da América do Sul.

Chico Buarque cantou a versão de Criolo para Cálice (Chico / Gil).

Criolo aproximou o martírio de Jesus/do brasileiro na ditadura militar na canção antes vetada pela censura com o martírio cotidiano dos paulistas/baianos/cariocas/pernambucanos/gaúchos nas ruas à espera do ônibus, à espera de chegar em casa.
E Criolo nos faz pensar: Será que chegarão?

Eu não pretendo inventar nada. Sou um discípulo, daqueles que levam mensagens adiante a partir do que é - verdadeiramente -original: o eu/ego/self artístico!

Sou um self que se irmana com outros.

Minha roda já está inventada há muito tempo.

Não invento a dança do verão nem o samba de Angola velho/novo do Atlântico Negro!

Por isso gosto do novo que tem o cheiro do ancestral.

Na minha religião, iniciado o é por quem já foi antes. Não se nasce Ebômi pelas mãos de Abiã. E só se é Ebômi por que um dia se foi Abiã.

Quer mais? Procure saber...

Criolo canta, agora, um samba falando de Cebolinha, Mônica e Cascão, num ambiente entre o samba-de-roda da Bahia e o samba-de-breque do Rio de Janeiro.

Talvez por isso ele esteja falando ao meu coração!

Minha Bahia:

Isso é o novo de verdade!

O preto paulista me conquistou...
Postado originalmente em:

domingo, 15 de janeiro de 2012

Capa e Regulamento dos Jogos Florais do Bonjoanense

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