segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Crónicas e ficções soltas - Por Daniel Teixeira - O CERRO DO LAGARTO DE ALCARIA ALTA E O CERRO DO «NARIZ DEL DIABLO» NO PERU

 
 
Crónicas e ficções soltas - Por Daniel Teixeira - O CERRO DO LAGARTO DE ALCARIA ALTA E O CERRO DO «NARIZ DEL DIABLO» NO PERU

O cerro do lagarto, em Alcaria Alta, é uma lenda da qual eu não me lembro de ter ouvido falar dela por outras pessoas senão pela minha mãe que me disse tê-la ouvido contar pelo meu avô. Contava-me ela que algures, numas terras, todas elas com pequenas e maiores elevações, os chamados cerros, havia uma grande pedra com um lagarto esculpido em ouro embutido que só uma pessoa tinha visto uma vez. Dizia ela tratar-se de um local conhecido como sendo o «cerro do lagarto» mas que ninguém sabia qual cerro era.

Essa pessoa, à hora do pôr do sol, teria visto um brilho grande vindo do solo e aproximando-se teria visto então o lagarto em ouro. Teria tentado arrancar o ouro sem o conseguir e não podendo trazer consigo a pedra dadas as suas dimensões e peso tinha marcado o local onde ela estava e ficara de regressar no dia seguinte munido das ferramentas necessárias para recolher o lagarto de ouro partindo a pedra. Por mais que procurasse a pedra no dia seguinte e nos seguintes não a encontrou.

Ao que consta na lenda o homem terá ficado de tal forma transtornado e obcecado que mesmo ali montou uma pequena habitação como os pastores costumam fazer com pedras empilhadas e estevas cruzadas regadas com argila em líquido a fazer de tecto e ali terá ficado buscando nas redondezas e cada vez mais longe durante anos até que a morte o levou passados muitos anos.
 
Quem o viu durante esse tempo de vida não conseguiu nunca chegar-lhe à fala porque ele fugia e escondia-se nos inúmeros barrancos que por ali haviam. Reparavam essas mesmas pessoas que ele transportava sempre consigo uma roupa em estilo de albornoz pendendo do ombro com um peso que todos achavam serem pedras. Quando se deu por certo o seu falecimento quem lá foi buscar o corpo, passados muitos dias, verificou que ele tinha a sua pequena casa e abrigo repleto de bocados de xisto, a pedra predominante naquelas paragens, todas elas partidas em pequenos bocados e algumas quase em pó.

Ora esta história foi-me de facto contada pela minha mãe: parece-me evidente tratar-se de uma lenda e o meu avô era um bom contador de histórias. Contudo de reparar que friso o seguinte: contar histórias para ele não era propriamente contar mentiras. Ele contava o que lhe constava e que lhe contavam e praticamente percorreu todo o sul do país quer em trabalho quer nos seus negócios pelo que muito terá ouvido e muito terá guardado.

A minha memória sobre este tal de cerro do lagarto esteve adormecida durante bastantes anos mas não pude deixar de a relacionar com uma outra lenda que me apareceu relatada na Net com localização no Peru (América Latina, a milhares de quilómetros de Alcaria Alta) e que tem igualmente a sua génese num cerro, o Cerro do Nariz do Diabo e que conta assim.
 
Para o Cerro do Nariz do Diabo existe uma lenda Peruana referindo o Lagarto segundo a qual uma cultura pré-inca terá habitado o território do Nariz do Diabo assim conhecido por ser encimado por um cerro (uma pequena montanha) que se destaca das outras pelo facto de ter dois orifícios no seu rochedo xistoso semelhantes a duas fossas nasais.

Essa mesma cultura pré-inca considerava os lagartos, abundantes nas proximidades do Rio Chira (um importante Rio em Sullana), como divindades pelo que confeccionaram com ouro uma imagem de um Lagarto que veneravam como um deus.

É provável que os «marcaveles», os habitantes desses locais, ao terem conhecimento da chegada das hordas de Pizarro, cobiçando o ouro e a prata, tenham enterrado o sagrado «lagarto de ouro» nas entranhas de este misterioso e legendário Cerro (do Nariz do Diabo). Dizem que o local era um cemitério e que em alguns dia do ano têm lugar visitas aos jazigos existentes. Há alguns anos às quintas feiras santas homenageavam-se os falecidos do local.
A lenda do lagarto de ouro

Neste cerro aparece um pequeno Lagarto de Ouro que dorme nas margens do rio e que sai sempre ao alvorecer encantando os que deambulam por ali com o seu brilho e adormece-os e leva-os para dentro do cerro do qual não voltam a sair nunca mais.

No mês de Abril na semana santa os marcavelenses rezavam a seguir ao meio dia e acabavam antes da meia noite pedindo que o lagarto nunca lhes aparecesse.
 
Um dia chegaram à hospedaria local uns jornalistas que tinham ouvido falar das diversas versões desta lenda do lagarto e pediram que lhes fosse contada a lenda e a pessoa que a contou preveniu-os desta faceta do lagarto de encantar as pessoas e de levá-las para o interior do cerro não saindo elas mais de lá. Quiseram no entanto saber se era apenas uma lenda ou se havia algum fundo de verdade nesta lenda.
 
No dia seguinte levantaram-se de madrugada e foram com o guia até ao inicio do cerro. O guia, com temor de ir mais à frente, sentou-se em frente ao cerro e via como eles riam enquanto esperavam e um deles entretanto resolveu tirar uma fotografia ao cerro pelo que desceu até ao seu sopé.

Quando voltou para junto dos seus amigos viu que o lagarto de ouro tinha aparecido e como eles começaram a seguir o lagarto deslumbrados com o brilho do ouro. Quanto mais entravam nos caminhos do cerro o lagarto ia deixando como rasto bocados de ouro até desaparecer da sua vista.

Este jornalista fugiu daquele cerro assustado enquanto se ouviam gritos espantosos. Os seus colegas nunca mais apareceram.

Quem conta esta lenda do Lagarto do Cerro do Diabo, sempre um velho, muito velho mesmo, mas bem rijo ainda nos movimentos acrescenta sempre no final a pergunta: querem ir visitar o Cerro para ver se encontram o Lagarto de Ouro? Eu levo-os...mas só vou até ao sopé do Monte...Há quem tenha visto nos olhos do velho indígena quando o sol lhe ilumina a face um brilho intenso como se fosse o brilho do ouro.

Coluna Um - A culpa é do branco

 
 
Coluna Um -  A culpa é do branco
 
Há dias, durante a visita do Primeiro Ministro Inglês a Brasília, o Presidente Lula da Silva afirmou sucintamente que a presente crise económica é resultado da actuação de indivíduos «brancos, louros e de olhos azuis», numa referência que todos entendemos estar o mesmo Lula a dizer que os países pobres (em princípio não brancos) estavam a sofrer aquilo que outros tinham fabricado, e que essas pessoas apareciam antes pelo Brasil e por outros países «julgando e dizendo que sabiam tudo».
 
É um facto que, de uma forma geral, a crise actual, resultando sobretudo de especulações financeiras subidas além do chinelo da razoabilidade, tem o seu alicerce nos países ocidentais normalmente considerados ricos e sobretudo, na medida da sua importância em termos económicos, o seu efeito é proporcional à sua capacidade financeira. Quanto maior a nau maior a tormenta e neste caso concreto maior ondulação produz a grandeza dessa nau agora sem rumo nem remos.
 
Esta coisa da moeda é algo de extraordinariamente simples na sua origem: a moeda resulta das transacções de mercadoria (para as quais se estipula um dado valor) evitando-se assim o tradicional sistema da troca directa, ainda em uso nas comunidades rurais, por exemplo, em que se paga com ovos, por exemplo, o café.
 
O intermediário capital, neste sistema, contudo, ganha vida própria, desliga-se da sua realidade de base, joga com os tempos, com remunerações para aplicação, é aplicado com remuneração, ou seja, procura reproduzir-se: quem tem mil euros disponíveis, por exemplo, entrega-os a um banco, que por sua vez o remunera numa dada percentagem e, por estranho que pareça, dizem os financeiros, esses mesmo mil euros na sua rotação podem atingir cerca de 100 voltas, ou seja, podem «transformar-se» em 100 mil euros, dos quais 99 mil são em parte substancial virtuais.
 
E digo que são em parte virtuais, estes 99 mil euros e não na totalidade, porque uma parte dessa virtualidade acaba por agregar-se a realidades e acaba por fazer parte dessa mesma realidade. Vejamos - e peço desculpa por ser tão primário no raciocínio mas não sei trabalhar de outra forma - vamos supor que nessa rotação uma parte fomenta uma actividade produtiva (ou outra complementar) e o milagre da multiplicação dos pães está feito.
 
Os mil euros iniciais, que resultavam de uma realidade, são assim acrescidos na sua realidade com mais mil, ou dois mil, ou dez mil, ou 99 mil, segundo esta lógica. É claro que isso implica um processo de rotação progressiva: não se trata de dar 100 voltas ao dinheiro e voltar a receber os mesmos mil euros. Isso seria absurdo, como é claro, e mais resultado dava tê-lo a abobrar nos cofres (não pagando remuneração nenhuma).
 
Ora visto isto, vamos aos senhores da pele branca, cabelos louros e olhos azuis: o que esse senhores fizeram foi simplesmente furar o sistema, não integrando nos tais mil euros o bastante de realidade que lhe desse um suporte aceitável.
 
Pelas minhas contas feitas assim aqui em casa, e dado o buraco que as coisas estão a apresentar, e tomando como exemplo um caso que dá brado aqui em Portugal, o famoso caso do Banco Português de Negócios (e do Banco Privado Português numa escala mais pequena em valores), o primeiro (BPN) de uma necessidade de solvabilidade (diferença entre a realidade e a virtualidade) de 450 mil euros, passou a 750 mil numa semana e a três mil milhões em dois meses.

O que é que isto quer dizer? Que inicialmente estava descoberta (dada a pressão dos pedidos de retorno dos depositantes) uma soma de 450 mil euros e que essa soma evoluiu para 3 mil milhões de euros. Fazendo umas contas ao contrário, e se entendermos que o dinheiro inicial dos depósitos, rodou 100 vezes (o que é elogioso porque a média da rotação é de 40, 50 vezes) isso quer dizer que foi incorporado no processo uma irrealidade (ou uma virtualidade pura) de 3 mil milhões de euros menos 1%, ou seja, 2.700 milhões de euros.

Se quisermos ser mais correctos podemos dizer que tendo rodado a média (40/50 vezes) a percentagem de virtualidade se reduz a metade e que em vez de haver um virtual puro de 2.700 milhões de euros há um virtual puro de 2.400 milhões de euros, sendo que o real de partida (depósitos) será no primeiro caso de 300 milhões de euros e de 600 milhões de euros no segundo caso.

Ou seja, em qualquer dos casos, em vez do milagre da multiplicação dos pães assiste-se ao milagre da microscopização dos pães: os iniciais mil euros com que começamos as nossas contas «valem» agora 1% ou 2% de si mesmos, ou seja, 10 ou 20 euros, tendo levado assim uma «dentada» de 990 euros ou 980,00 euros.

É claro que os senhores de olhos azuis não conseguiriam fazer isso se não contassem com a tradicional sofreguidão dos aplicadores de capitais entre os quais se encontram muitas instituições públicas (aqui em Portugal o Fundo da Segurança Social do Estado tinha num destes bancos 450 milhões de euros aplicados, que ao que parece levantou a tempo).

Por outro lado uma parte substancial das empresas públicas, e privadas, com capitais a disponibilizar por períodos curtos ou longos segundo as capitalizações (lucros) e os investimentos terão de vir um dia à luz do dia, e para já a recente redução dos lucros apresentados na sua maioria resulta da perda de capitais investidos em larga percentagem e numa parte bem mais pequena das reduções da procura e da disponibilidade financeira das famílias.
 
Por outro lado, essas aplicações estão a contar como capital (património) pelo valor corrente do mercado que ninguém sabe onde vai parar em termos de descida daqui a dias ou meses.

Ora, numa altura em que se pode considerar que os implicados nesta mega fraude varrem muitos quadrantes, de forma activa ou passiva (a este passivo eu chamo ganância e / ou ignorância) é muito cedo para andar a deitar todas as culpas sobre o branco, embora fique sempre bem o apelo à unidade, isto porque amanhã ou depois vai ficar-se a saber que a culpa é do branco, do preto, do amarelo e das mais cores que se forem arranjando.

Até aqueles (brancos, pretos, amarelos, etc.) que nada têm, ou que têm muito pouco, têm culpa porque deixaram nas mãos de meia dúzia de parolos a gestão dos seus destinos.
 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Coluna Um - Inversões e marcha atrás

 
 
Coluna Um -  Inversões e marcha atrás
 
 Em tempo de crise económica e social as questões que levantamos não aparecem como se tivessem estado escondidas atrás de uma pedra durante o tempo das vacas confortadas.
 
Estiveram, essas mesmas questões, antes, envolvidas no tal de manto diáfano da fantasia em que fomos vivendo através do desviante e silenciador massacre das propagandas privadas e oficiais, que através da insistência da sua própria lógica e desenvolvimento, fizeram até com que essas questões tivessem passado para uma outra dimensão quase extraterrestre.
 
Não há muitos anos, fazendo uma viagem à terra dos meus avós e meus bisavós, uma triste terra, é um facto, onde se aplicava integralmente desde havia muitos anos antes o ditado popular que «a agricultura era a arte de empobrecer alegremente», um técnico, que estava comigo presente na altura segredou-me perante a descoladora imagem de uma população envelhecida que apesar de tudo continuava a insistir em cavar terras e a plantar alguns pés de trigo, cevada, couves e batatas, que ele, se tivesse meios e poderes, pagava àquela gente para se ir embora «para ter uma vida condigna».
 
Relembrando o passado e recolhendo na memória dos outros, o passar de cavalo para burro aplicava-se ali integralmente; de duas vacas, seis ovelhas, dois cavalos e uma égua trinta anos antes, um dos presentes na pequena conferência da semi-taberna estava naquela altura na posse de dois velhos burros cujos potenciais compradores, em caso de necessidade, seriam apenas e só os indivíduos de etnia cigana se ele os encontrasse e se eles estivessem nessa disposição.
 
O pão caseiro, de uma excelência de forno de estevas e loendros, saindo a respirar como gente da boca do seu mundo, era já, naquela altura (cerca de vinte anos) batido aos pontos económicos pelo pão de padaria industrial e era fácil fazer as contas: cerca de 5 vezes mais caro - mesmo não contabilizando todos os factores -. O pão verdadeiramente caseiro estava ali também a despedir-se deste mundo na altura em que lá estivemos.
 
Veio depois o plantio dos infalíveis eucaliptos, ditos de crescimento rápido e a vivência das miseráveis reformas de toda aquela gente. Desapareceu um mundo, ali, em várias fases, mas sem outras opções de sobrevida. Uma forma de ver vencida pela roda trituradora do alegado progresso. Falta saber se foi mesmo um progresso...

Na situação em que estamos penso que não haverá grandes dúvidas de que eucaliptos não dão de comer a ninguém, salvo a meia dúzia de pessoas e durante períodos limitados de tempo. Dão de comer sim aos grandes industriais, às suas grandes empresas que investem na bolsa ou noutros locais menos conhecidos e que agora estão cai não cai no domínio da intervenção económica estatizante.

Pode assim fazer-se um balanço, ainda que os indicadores não sejam todos favoráveis à tese de que «antes era melhor». Não era, de facto, melhor trabalhar de sol a sol, com meios técnicos rudimentares, envelhecendo prematuramente, não tendo condições de apoio à saúde, trabalhar para o boneco, praticamente, porque o resultado económico obtido era inferior ao esforço e aos meios envolvidos, não era melhor. Só que agora é ainda pior...

Aqui em Portugal 150 milhões de euros dão para alargar o período de benefício do subsídio de desemprego, mais 150 milhões de euros dão para reduzir temporariamente para metade uma parte substancial dos pagamentos mensais de quem comprou casa a crédito (sob garantia hipotecária antes e agora). Isso soma 300 milhões de euros.

Só para alegadamente garantir os depósitos de um banco que só não se chama de falido porque ainda ninguém se lembrou disso foram dados, pelo Estado, 750 milhões de euros. Para um outro, que segundo alguns é um caso de polícia, já se vai perto, com as novas exigências de reequilíbrio, dos 300 mil milhões de euros (não são 300 milhões, são 300 mil milhões, repete-se).
 
Isto numa altura em que o Governo Alemão já mandou às urtigas este tipo de apoios e em que a França se debate com forte contestação social que pode resultar no habitual. Entretanto em Espanha vai fervendo em fogo lento...
 
Fazendo contas simples, toda essa massaroca, cerca de 400 mil milhões de euros, davam para aumentar a garantia do benefício do subsídio de desemprego mais dez anos, garantindo ao mesmo tempo alguma confiança social, dava para reduzir as prestações de pagamento de casas à banca em período de carência durante outros dez anos, contribuindo para descomprimir os gastos no consumo corrente, fomentando e reforçando empresas e credibilizando a hipótese da retoma, e, de uma forma ou de outra, o retorno seria certo e seguro (o dinheiro ironicamente já é desde logo também deles). E alinda sobrava algum pois que 300 milhões vezes dez dá 300 mil milhões e estamos a falar de um plafond concedido e a conceder de 400 mil milhões.
 
E isto retornaria, todo este dinheiro retornaria, porque os desempregados arranjariam emprego ou reformavam-se sem andarem por aí a viver de forma pouco digna nalguns casos (a maioria), revoltados, fervendo ainda em águas mansas e os proprietários de casas compradas nestas condições acabariam por ter de resolver a situação logo que pudessem.

Ora, também, reactivar algumas actividades que têm substância de desenvolvimento e de produção efectiva e outras que estejam relacionadas com actividade verdadeiramente produtiva é trabalho que deve preocupar qualquer pessoa que tenha alguma altura de testa.
Mas não...arranja-se dinheiro ou crédito para fazer grandes investimentos que bem poderiam esperar, pressiona-se a banca para conceder crédito às pequenas e médias empresas de vida periclitante, como se a banca estivesse em condições de andar a fornecer dinheiro sem garantias efectivas de retorno sob risco de piorar ainda mais a sua situação e entrar mais no ciclo vicioso da intervenção estatal.

Ora, dentro daquilo que foi jogado fora, incluindo as oportunidades de aplicar melhor os fundos que já não voltam, e repetindo parte do sermão aos peixes do Padre António Vieira, o que terão até agora feito os homens senão manter no mar aquilo que eventualmente tem hipóteses de ser reactivado e de fomentar o encaminhamento da resolução de situações?
Que tem feito esse tal de aparelho de estado para ver estas coisas? Por onde anda a razão mais simples que qualquer um usa no dia a dia ao ir buscar coisas que por pequenas desvantagens relativas em relação ao novo colocou na prateleira/armazém para resolver agora temporariamente os inconvenientes da falência da sua máquina nova?

Esta gente não pensa ?? Não sabe pensar?? Não consegue pensar!!???
 
 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

COLUNA UM - A violência nas escolas e os massacres

 
 
COLUNA UM -  A violência nas escolas e os massacres
 
 
Todos, ou quase todos, andámos na Escola e todos sabemos melhor ou pior aquilo que o tradicionalmente chamado de sadismo infantil pode produzir. O assunto anda muito mal estudado, e mesmo a nível da psicologia publicada a situação, sendo de alguma forma clara, acaba por ficar escondida dada a delicadeza do tema. Ninguém está interessado em mostrar a jovens em formação psíco - social aquilo que eles mesmos fazem (quando fazem) ou aquilo que eles mesmo não fazendo têm ou podem ter vontade de fazer .
 
A minha escola, contudo, foi antes da escola e depois da escola, como com toda a gente. A maior parte das pessoas não liga uma coisa à outra e até por comodismo psicológico prefere estabelecer a existência de dois ou diversos compartimentos estanques: antes da escola e depois da escola, vida familiar e vida escolar, vida na escola e vida fora da escola, etc.
 
A institucionalização que a Escola apresenta e fomenta sempre foi um problema muito mal digerido na sua compreensão: sejam elas instituições totais, quer dizer instituições onde as pessoas passam a esmagadora parte da sua vida ou uma parte substancial dela com contacto ou não com a sociedade á sua volta, seja ela a micro - sociedade local, seja ela a sociedade em geral, sejam elas ainda instituições às quais se adere voluntariamente ainda que com algum grau de obrigação, caso das escolas de escolaridade dita obrigatória, do serviço militar obrigatório, etc.
 
A utilização de uma lógica de grupo não espontaneamente constituída, a variedade dos graus de formação social e capacidades económicas e intelectuais diferenciadas, é tudo agrupado num conjunto de regras gerais, tipo lógica de código penal, em que sumariamente se diz, ainda que de forma indirecta, as sacramentais iniciais frases do penalismo:«Aquele que...fizer isto ou aquilo...incorre nisto ou naquilo».
 
Para uma criança, ou para um jovem, é, por vezes difícil entender muita coisa, nomeadamente quando se trata de regras com algum grau de preventivismo: por exemplo não se pode ir à casa de banho das meninas, mesmo que ela esteja vazia e se deixe um colega à porta prevenindo, estando a casa de banho dos meninos com enorme fila e apertando a fisiologia em extremo incontível.
 
Claro que a ideia é não romper o princípio, manter a privacidade de um sexo e outro, mas para quem tem de fazer o que quer que seja nas calças e sujeitar-se á chacota posteriormente a norma é nitidamente absurda, naquelas condições. São inúmeros os exemplos daquilo que se pode compreender metendo-nos agora dentro da nossa mente que também já foi infantil e juvenil. Ficamos com a ideia, para esta crónica, de que há coisas que se entendem numa leitura mas não se entendem (compreendem) numa outra leitura.
 
Os fenómenos actuais que se relacionam com a violência juvenil, seja ela nas escolas ou fora delas, nascem onde calha, ou seja, nascem consoante a ocasião, e muito pouco têm a ver com a escola em si senão pelo facto de aí poder haver uma maior regulamentação evidente e por aí se passar, de forma concentrada, socialmente, um largo tempo de vida, acrescido na sua
potencialidade de captação pelas limitações do espaço, pela uniformidade relativa do ambiente, pelo número de potencialidades do acontecer.
 
Se alguma vez fossem feitas as contas, e hoje fazem-se estatísticas para quase tudo, seria interessante saber-se a quantidade de eventos diferenciados e uniformizados acontecidos em ambiente escolar em comparação com aqueles que têm lugar fora do ambiente escolar. Só como
exemplo, e porque me veio à ideia, num estudo americano (são sempre os americanos) num outro campo, chegou-se à conclusão que os enfermeiros (os questionados, cerca de 900) são distraídos da actividade que executam entre 4 e 6 vezes em média e que o leque de distracções dessa sua actividade abrange 11 itens.
 
Ora, continhas destas nunca foram feitas nem nas escolas nem nos miúdos (sejam eles mesmo miúdos ou menos miúdos) e o curioso deste estudo que falei sobre os enfermeiros é que ele foi feito a partir da altura em que os enfermeiros começaram a estar sujeitos também ao conceito do erro médico (de enfermagem, neste caso). Ou seja, foi feito porque começaram a entrar em jogo indemnizações, entidades publicas e privadas, seguradoras, etc.
 
Quanto à violência nas escolas, nada estando feito e ninguém se interessando por isso, assistimos com alguma frequência a verdadeiros massacres incompreendidos, a chantagens (bullyng) entre alunos, a pressões das mais diversas ordens, a violência física, a violações, etc.
 
Ora o mundo parece que acorda para a novidade cada vez que uma destas coisas é conhecida ou mais tragicamente acontece, quando deveria procurar conhecer o que está por detrás dos fenómenos. Uma Universidade, todas as Universidades, reforçam as medidas de segurança depois que um trágico caso acontece, mas em termos de inteligência, quer dizer, de informação, o que fazem. Nada, que eu saiba...
 
São capazes até de ser injustos em procedimentos, penso que é o próximo passo dentro desta lógica que tem mais de repressiva do que de preventiva, ao ponto de construírem bases de dados de alunos - problema, fazerem circular entre si essa informação, quando nada garante que cesteiro que faz um cesto faça um cento, apesar do ditado popular, anexando assim ao sistema de informação geral (social) aquilo que se manifesta em ambiente escolar em circunstâncias bem específicas e por razões igualmente específicas quantas vezes.
 
Tenho lido sobre violência nas escolas desde há muitos anos, pelo menos dez, e tenho visto que as soluções apontadas para resolução de problemas não são razões estudadas: na maior parte dos casos fazem-se experiências, como é o caso do aluno moderador que não será difícil confundir com o aluno «bufo» em terminologia escolar.
 
 Ir à fonte dos problemas, poucas pessoas querem, até mesmo os pais e suas associações muitas vezes primam pela envolvência emocional desviando desde logo a possibilidade de uma análise cuidada dos factos.
 
Não digo que a violência nas escolas (até mesmo contra professores) ou que os massacres escolares que vimos a saber periodicamente estejam inteiramente dependentes e sejam resolúveis na sua incidência através desses estudos que qualquer ser racional hoje sente a falta.
 
Mas era bom ter uma ideia, quanto mais não fosse uma ideia, daquilo que se passa realmente nestas mentes sem ser a tradicional resposta desculpa do ambiente familiar (quando é mesmo desculpa pilatiana), da sociedade (esse saco enorme), da Net, da televisão, dos jogos de computador ou de qualquer outra coisa.
 
Tal como estamos, nada feito!!
 
Daniel Teixeira
 
 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

COLUNA UM - Porque CPLP e não CPLL?

 
 
COLUNA UM -  Porque CPLP e não CPLL?
 
 Há bastante tempo que tenho notado a insistência quase inocente em «transformar» os povos de língua portuguesa em povos de língua lusa: na verdade fala-se de lusofonia, de comunidade de países lusófonos, de diáspora lusófona, etc. e aplica-se tudo isso a qualquer ser falante ou coisa que mexa que fale ou tenha nela escrita uma palavra em português.
 
Ora uma coisa e outra não são bem a mesma coisa: falar-se português não é falar-se luso embora se fale a língua que os lusos (hipoteticamente existentes) falam e para estes tal seja indiferente.
 
A lusitanidade é (?) uma cultura, uma forma de ver as coisas, embora em tempos se tenha também achado por bem procurar-se uma raça (agora diz-se etnia) tipicamente lusa.
Fizeram-se escavações de rebentar picaretas, com ilustres etnólogos - antropólogos - arqueólogos (agrupa-dos no termo filósofo) de cigarrilha na boca e bules de chá ou garrafas de típica vinhaça luso - portuense, escreveram-se toneladas de folhas (eu próprio caí na asneira de andar a tirar fotocópias quase ao quilo) para se chegar à conclusão que é excelente ter-se dinheiro para andar a perder tempo e que as sociedades ilustradas não são forçosamente ilustres na economia.
 
Ora a lusitanidade cada vez que se ergue, como princípio, tem sempre grande dificuldade em manter-se numa perspectiva não imperialista e a tendência à confusão entre os conceitos tradicionais de esquerda e direita esbatem-se de tal forma que um lusitano de esquerda ou democrático encontra sempre grande apoio num lusitano não democrático e de direita, extrema na maior parte dos casos, ainda que adocicada pelos laivos da inocente nobreza populista.

Por aqui e por ali andam uns senhores, que sempre andaram ao fim e ao cabo - isto é como as carraças - a apregoar agora que o famoso quinto império «português» é o império da língua: assim, nada mais bonito que ser-se lusófono, participar nos eventos solidários ou não com os povos que falam português e um belo dia ou todos os dias (até é fácil) deitarem-se à sombra da imaginária bananeira do seu contentamento e da sua satisfação por verem o seu «império» realizado ou a realizar-se.
 
A coisa chega a parecer ridícula (e é !) quando dentro destas linhas de pensamento aparecem pessoas (a psiquiatria é uma arte muito mal servida em termos de cuidados primários) a sugerir que seja concedida a nacionalidade portuguesa a todas as pessoas que o peçam desde 1.500 (é D.C. e não A.C. para minha e sua maior tranquilidade) desde que demonstrem por «a» ou «b» que descendem de descendentes de qualquer forma existentes nos países (antigas postos ou possessões ultramarinas) onde os portugueses tenham estado.
 
Dá-se inclusivamente o exemplo da India, em que tudo o que for miscenizado tem grandes hipóteses de ser português de quinta ou sexta ou vigésima geração, pois que o portugueses foram os primeiros brancos a lá chegar e que logo, todo aquele que não tiver as características tipicamente locais tem grandes hipóteses de ter sido fecundado pelos «lusos». Nem é preciso jogar a moeda ao ar.
 
Seja, para mim tanto se me dá - como a situação está e com o país que é Portugal não vai haver muitos interessados - e não me importo absolutamente nada, nesta era da globalização, de ser compatriota de um parente de alguém que ninguém sabe quem foi que tenha batido terras do Oriente, de Africa ou das Américas (a Austrália parece que está safa!).
 
Mas um pouco de tento e um pouco de realismo nunca fizeram mal a ninguém: um país onde uma larga maioria da população não tem onde cair morta e até os «sete palmos de terra e o caixão» se vendem a prestações, escusa de se estar a cantar de galo como se fosse um grande favor que fizesse ao mundo conceder-lhe a «benesse» do selo e do carimbo branco.
 
Por isso, e sem estar a dar novidade nenhuma, povos que falam português, fujam destes «lusos» ...
 
Daniel Teixeira
 

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

COLUNA UM - A interdependência em tempo de crise.

 
 
COLUNA UM
 
A interdependência em tempo de crise.
 
 
Quem ouve falar em conjugação de esforços, em união em torno de objectivos comuns, em partilha, tem uma tendência quase paradoxal para ver as coisas por um único prisma, (o da vantagem) dividido contudo este entre o tal ser social- associal humano referido por Kant (e não só) e a ponderação disso com as vantagens que venham a compensar (muito bem, bem ou razoavelmente) aquilo que possa parecer uma marginal invasão na associabilidade kantiana atrás referida.
 
Não vamos fazer aqui um texto antropo- filosófico sobre a matéria, mas buscando dentro de nós mesmos e sem grande esforço, despidos que estejamos da condicionante supervisão social, encontramos nas nossas rotinas pessoais mantidas ou quebradas um pouco disto tudo : estamos a fim de passar uma noitada em frente ao ecrã com uma mão cheia de filmes para escolha, todos eles interessantes e alguém nos telefona para irmos a tal sítio, onde eventualmente se vai passar algo que nunca nos teria entrado no programa dessa mesma noite.
 
Por si o acontecimento não tem relevância para nós, pelo menos como opção próxima, mas quem nos telefona é «fulano» ou «beltrana»: por reverência por esses aqui anónimos convidantes somos colocados perante hipóteses que analisamos desde logo: pode dizer-se um rotundo não (?), arranjaremos uma desculpa razoável e credível para dizer «não» ou perante o peso do convite temos de afastar desde logo essas possibilidades denegatórias !?
 
Bem...não quero estender-me muito pelo que o que interessa aqui é direccionar o discurso para o plano em que temos de pesar (ponderar) as coisas e saber quais os argumentos ou factos que consideramos válidos para tomar uma posição ou outra (neste caso responder ou não positivamente à chamada que nos foi feita por alguém linhas atrás).
 
Resumindo fazemos sempre uma ponderação custo - benefício e, em termos abstractos estamos sempre a fazer um «negócio» ou a negociar seja connosco mesmos seja com o outro (a). O nosso objectivo não é sempre o de ganhar, naquele sentido de fazer mais - valia, mas de qualquer forma tentamos sempre não ficar a perder: ou seja, pelo menos queremos que seja feita uma tal de justiça interior em que as coisas fiquem a «valer» para nós tanto como valiam ou que noutros casos diferidos venha a ser mais tarde compensado esse tal de prejuízo imediato.
 
As uniões, federações, mercados comuns são, em rigor, despidas da sacramental envolvência ideológica, a mesma coisa. Podemos estar a perder hoje mas mantemos sempre em stock a possibilidade de recuperação. Inversamente estamos a ganhar hoje mas mantemos sempre em stock a possibilidade de restituição.
 
O problema coloca-se feio, mesmo muito feio, é quando as necessidades de recuperação se tornam prementes por razões da mais diversa ordem e por formas das mais diversas. Esgotada que esteja a possibilidade de diferir por mais tempo uma dada concessão antes acordada, salta-se em cima do alegado devedor (a «factura» até pode não estar vencida) e quando se trata de sociedades no seu todo ou em larga parte as coisas têm o seu quê de assustador.
 
Nada assusta mais aqueles que têm do que a revolta daqueles que nada têm embora o problema neste momento se torne complicado porque em princípio ninguém tem e todos não têm. Apenas há os que não têm um pouco menos do que aqueles que não têm mesmo nada. Não gostaria de ser muito pessimista (continuo a guardar uma extraordinária confiança no engenho humano) mas os tempos estão mesmo maus.
 
Os indicadores do desemprego são essa tal ameaça ou antecâmara latente da revolta, o incremento da criminalidade (que com pudor se desligou sempre da situação económica envolvente) é um sinal pouco tranquilizador também, enfim...
 
Mas o nosso mundo virtual, talvez o único refúgio tranquilo, é realmente uma máquina: vejam lá se cabe na cabeça de alguém aceitar que o gordo Ronaldo tenha feito uma noitada e chegado atrasado ao treino e se há alguma razão palpável nas nossas mentes para que a Ditinha se tenha separado do Fábio ou mesmo que o Cristiano Ronaldo esteja outra vez a ser assediado pelo Real Madrid.
 
Qual quê!? Crise só no mundo real!!
 
Daniel Teixeira  
 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

COLUNA UM - Os gastos em Cultura e a falta de lupas

 
 
COLUNA UM -  Os gastos em Cultura e a falta de lupas
 
 Portuguesinho que sou, e habituado,  dificilmente «habituado» mas mesmo assim habituado / rotinado nestes últimos tempos a procurar distinguir entre aquilo que é o comunicado e aquilo que é o feito e em que águas se move aquilo que é comunicado - para pelo menos tentar saber o «valor» do comunicado na sua relação com a realidade profunda - deparei-me há já alguns dias (desde o dia 3 de Fevereiro) com a anúncio feito pela Secretaria de Estado da Cultura de S. Paulo do seu Programa Cultural para o Ano 2009.
 
 Como S. Paulo (estado e cidade) são mais ou menos iguais em termos populacionais com o país que é Portugal, achei curioso procurar alguns pontos de encontro entre os dois embora sabendo também que a organização política e administrativa dos dois países é diferente e que diferente será a orçamentação.
 
 Mas nem em tudo as coisas serão liminarmente diferentes, porque nós aqui em Portugal também contamos com um Governo Federal (a União Europeia) e para o que me interessa desenvolver neste plano as minhas análises e ilações  têm todas as condições para serem explicadas e desenvolvidas.
 
O Brasil não deixa de me surpreender e embora tenha tido sempre bastante ligação com o Brasil, não só por razões históricas, não conhecia e continuo a não conhecer as particularidades deste grande país.
 
Mas o ser humano é «grosso modo» igual em todo o Mundo e uma aldrabice dita em português de raiz e feita em Portugal e uma aldrabice dita em português do Brasil (ou brasileiro como se entender mais próprio) e feita no Brasil não deixa, para todos os efeitos, de ser uma aldrabice apenas variando a sua posição geográfica.
 
Indo à questão e analisando com os meios disponíveis a Programação Cultural para 2009 no Estado de S. Paulo verifiquei que nem uma santa alminha nesse país irmão se lembrou de ir ver o Orçamento do Estado de S. Paulo para tentar pelo menos saber qual o volume e o impacto da anunciada e bastante difundida Programação dentro de tal orçamentação. Se por acaso alguém o fez (não quero os direitos de autor como é claro) isso não apareceu nem nos órgãos de comunicação nem nesse imenso universo blogueiro que segue a par e passo o andamento do mundo.
 
Universos esses que, relacionados com a Cultura, têm em princípio alguma massa crítica em stock. Nada! Nada encontrei e não foi por falta de esforço e nem por falta de tempo. Entre a data do anúncio e hoje vão quase dois meses = 60 dias = 60 edições. Pois bem, o Orçamento do Estado de S. Paulo destina para o sector cultura em 2009 a bonita soma de 743,7 milhões de Reais; se formos a comparações com outros sectores  orçamentados pelo Estado SP. veremos que não é assim tão bonita, mas não é esse o meu objectivo nem o meu espaço neste jornal.

Ora, e com algum esforço, consegue-se «apanhar» nesta programação cultural para 2009 do Estado de S. Paulo mais de 10% e menos de 20% dessa verba orçamentada. O Proac (Plano de Acção Cultural) que se distribui entre os agentes culturais e cuja descrição se junta foi «instituído pela Lei nº 12.268 de 20/2/06, tem por objetivo apoiar e patrocinar a renovação, o intercâmbio e a divulgação da produção artística do Estado, bem como preservar e difundir o seu patrimônio cultural material e imaterial. Em 2008, o Programa de Ação Cultural lançou 25 editais de apoio a projetos culturais no Estado de São Paulo, totalizando um investimento de R$18 milhões de reais no setor.
 
Também em 2008, o Programa de Ação Cultural recebeu centenas de projetos para o patrocínio dos contribuintes do ICMS – Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Sobre Prestação de Serviços de Transportes Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação. Foram aprovados 252 projetos, e liberados R$ 50 milhões para a captação, em áreas como Dança, Museu, Circo, Eventos Carnavalescos, Rádio e TV e Patrimônio Histórico.»
 
Ou seja, o Proac gasta 20  (29%) milhões em editais e dá 50 (71%) milhões aos respondentes aos tais de editais de 10% do Orçamento do Estado para a Cultura e abarca sob a sua capa tudo aquilo que se pode ler acima, desde o património físico ao não físico. Só como exemplo em 2008 este programa de verbas mais ou menos semelhantes «deu» a excelente soma de 4 milhões de Reais para a a produção de 4 telefilmes e premiação de 10 roteiros de filme para TV. E aparentemente toda a gente ficou satisfeita com os 0,72 % do «bolo» global de cerca de 550 milhões de Reais no ano. É preocupante...
 
Para mim é preocupante, embora se possa dizer que não tenho nada a ver com isso. E é preocupante porque não estamos a falar de gente analfabeta onde tudo aquilo que viesse à rede era bom peixe. Estamos a falar de entidades, instituições, pessoas que trabalham com a CULTURA. Que têm a obrigação de ser CULTOS. Têm a obrigação de ver as coisas, de questionar.
 
Quando se perde ou não se usa a faculdade de questionar o ser humano perde um pouco da sua essência.

Daniel Teixeira

Publicado pela primeira vez no Jornal Raizonline nº 9 de Fevereiro de 2009