sábado, 8 de dezembro de 2012

ALCOUTIM - Recordações (Crónicas e Ficções Soltas) I - Por Daniel Teixeira

 

ALCOUTIM - Recordações (Crónicas e Ficções Soltas) I - Por Daniel Teixeira

Pedindo as minhas desculpas ao amigo José Varzeano por estar a retirar-lhe a integralidade da página / tema gostaria de recordar aqui algumas das minhas memórias recolhidas neste Monte da Mesquita referida por ele, terra da naturalidade do meu avô materno.

(ver texto do José Varzeano aqui)

Conforme referi no meu texto geral sobre esta região e nas minhas demasiado curtas memórias já escritas no Alcoutim Livre sobre estes locais onde passei vários meses todos os anos, devo agora à distância confessar que sei ter algumas memórias destes meus tempos de infância e juventude, mas...por estranho que eu mesmo acho ser, tenho uma recusa quase instintiva em aprofundar muita coisa.

A explicação que eu tenho encontrado vacila muito entre o desejo de guardar desse «meu» outro Monte (Alcaria Alta) uma boa memória e prende-se também com o facto de que agora, tudo visto à distância, os laços de afinidade, eclipsando-se com o tempo e com o desaparecimento das gentes - levei muito tempo a ir regularmente a Giões a funerais de familiares directos e indirectos e seus e meus amigos - acabam por fazer definhar esses laços, acabam por os fazer perecer, e a gente, estando por lá ou falando de lá, pergunta-se interiormente, mais vezes do que gostaria, por aquelas pessoas de quem gostava e gosta tanto...

Por onde andará o meu velho avô que nas minhas memórias ainda me aparece claramente, deitado, de chapéu tombado sobre a cara, no poial da pequena cerca da arramada, de cabeça encostada a uma albarda, de botas surradas e onça de tabaco espreitando no bolsinho do colete?

Que é feito do seu ar envergonhado pedindo-me ajuda para subir o para si já pesado arado para cima da albarda do burro? O que é feito do seu ar comprometido a bater com uma esteva as redondezas do nosso poiso nocturno em noites de dormir ao relento em folhas de terra mais distantes? Seria porque já fora picado por lacraus e ele mesmo tinha medo dessa dor horrível ou seria para que isso me não acontecesse a mim?

Que é feito de minha avó, por onde andará ela, a mulher que mais cedo se levantava em Alcaria Alta e que percorria ainda noite os caminhos para chegar ao romper da luz às hortas, regar e repartir para uma outra e outra e outra antes que o sol começasse a queimar?

«Sentindo passos atrás de si, não muito longe de si, na noite escura como breu, agarrou numa pedra maior que as suas  mãos e gritou: - Quem quer que venha aí que passe para a minha frente e que mostre a cara! - Sou eu Ti Virgínia - o João!»

Este, coitado, esteve uma enormidade de anos na Alemanha, comendo o pão que o Diabo amassou, para vir morrer de ataque cardíaco não muitos anos depois do seu regresso...por isso, também, que é feito da vida que eu tive nesses sítios ? O meu amigo Juanito, morto no Ultramar, o Antonico igualmente já falecido, o seu irmão mais velho falecido há poucos anos aqui no Hospital de Faro e que na violência do seu mal nem sequer me reconheceu?

Eu, sem mal que me apoquente, não me reconheço nem reconheço a «minha» Alcaria Alta de hoje: para mim desde há alguns anos, desaparecido o laço que me mais fortemente me ligava a ela, a minha mãe, recuso-me a aceitar a Alcaria Alta de hoje.

Há tempos, li num blogue de uma pessoa que penso ser a filha da Odília Guerreiro - filha do João Baltazar  - que o senhor Zézinho Martins andava a pastar o seu próprio gado: um dos homens mais ricos de Alcaria Alta, um lavrador que enchia a cozinha ao almoço e ao jantar com pelo menos uma vintena de ganhões em tempo de arado, ele mesmo, a dar pasto ao seu próprio gado (duas ou três reses pelo que percebi).

Não é que lhe caiam os parentes na lama, não se trata disso, mas é porque não há gente para ajudar (trabalhar) e porque apesar de tudo é preciso fazer continuar a vida mesmo que ela nos escorra pelos quadradinhos do calendário. O Zé Lourenço, seu «criado» (por vezes zangava-se e ia trabalhar para a «concorrência» - o outro lavrador do Monte) que tinha medo das trovoadas e que largava tudo assim que começava a trovejar, estivesse onde estivesse: largava tudo menos as bestas, e lá vinha ele, de chapéu na mão, aterrorizado, arrastando as arreatas, sem outra reacção que não fosse rezar a Santa Bárbara...

Zé Lourenço...o «pão de centeio», talvez o último serviçal, aquele que nas noites de trovoada dormia no quarto do patrão rezando até de manhã.

Pois eu, se bem me lembro daquilo que me lembro das deslocações com meu avô ao Monte da Mesquita, é de um facto cuja importância este texto do José Varzeano me fez afinal fundamentar sobre uma percepção esquisita que eu tinha desse Monte da Mesquita. Não se via vivalma...e havia ainda gente no Monte...

Habituado à franqueza daquelas casas portuguesas que conhecia pelos montes ao redor, com oferta insistente de cafezinho e pão com queijo e presunto, com as portas das cozinhas sempre abertas - chegávamos a tornear algumas passagens por termos a barriga a estourar - na Mesquita ali ficávamos os dois, recolhendo as azeitonas, as alfarrobas e comendo solitários do farnel: nem pessoa se aproximava e no entanto meu avô era de lá, quer dizer, tinha nascido lá: deveria haver alguém que pelo menos o conhecesse ou que ele conhecesse, mas não: acho que aquele Monte já estava moribundo mesmo, desabitado mesmo que estivesse habitado, sem alma, sem memória viva.

Acontece...os Montes são quase como algumas pessoas...podem eles também morrer muitos anos antes de morrerem de facto.


Publicado pela primeira vez no Jornal Raizonline 102 de Janeiro de 2011

 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

ALCOUTIM - Recordações II (Crónicas e Ficções Soltas) - Por Daniel Teixeira

 
 
ALCOUTIM - Recordações II (Crónicas e Ficções Soltas) - Por Daniel Teixeira



Pedindo de novo as minhas desculpas ao amigo José Varzeano por estar a retirar-lhe a integralidade da página / tema (os seus trabalhos espevitam-me a memória) gostaria de recordar aqui algumas das minhas memórias recolhidas sobre este tema dos médicos de alguma forma considerados milagreiros que se encontram normalmente referidos em memórias de sítios ou locais mais pequenos e predominantemente referidos como médicos dos pobres.
 
O Dr. João Dias, referido pelo José Varzeano será um  caso à parte e como tal será referido e lembro-me concretamente que a primeira memória que tenho de ouvir falar dele através da minha falecida mãe - «especialista» em memórias e de grande memória até ao final da sua vida - foi a já por mim referida ao José Varzeano no seguimento de um artigo de um colaborador do Blogue Alcoutim Livre - salvo erro o Amílcar Felício - história da mudança de sexo de um homem que tinha nascido com uma deficiência nos órgãos genitais e que fora considerado mulher seguindo um costume médico na altura e dados os conhecimentos e meios imperfeitos que havia nesses tempos: «Em caso de dúvida, fá-la mulher» ao que me consta ensinava-se entre colegas médicos (agora obstetras) na altura.

Encontrei vestígios desse tipo de comportamento na forma não médica quando do estudo de alguns livros de antropologia através da referência em tribos indígenas tanto em Africa como na América e mesmo na Oceânia tudo levando a crer que tal comportamento tomado de forma natural tenha tido lugar em todas as partes do globo. Não havia problemas em termos sociais evidentes durante o período da infância mas em despertando a puberdade o caso acabava por tornar-se complicado mesmo nessas sociedades primitivas.
 
Estas pessoas normalmente eram colocadas numa casta social específica acabando por tornar-se pessoas com direitos desiguais e normalmente relegadas para a exclusividade dos trabalhos domésticos ou auxiliares, cuidar de crianças, etc.  não participando de forma activa na hierarquia normal da sociedade ou tribo, dependendo sempre em termos sociais e económicos dos progenitores (ou a quem fossem vendidos/vendidas). Breve, não eram nem uma coisa nem outra (homem ou mulher) o que visto segundo a linearidade lógica espontânea das sociedades primitivas teria a sua razão de ser: eram elementos desestabilizadores em estruturas delineadas secularmente: não li no entanto nada que me levasse a pensar que houvesse ou tivesse havido eliminação física dessas pessoas. (Radcliff-Brown e Daryl Forde, Engels, Espinas, Morgan, Bachofen,   R. Fortune, etc.).

Ora e em relação a esta «operação - cirurgia» do Dr. João Dias foi-me relatado pela minha melhor fonte neste plano (minha mãe) que a pessoa um causa (uma mulher com pelo menos aparente genitália «feminina» mas hormonas masculinas ) era reparada pelo facto de acompanhar muito com os homens e de dar preferência à companhia destes em vez de se integrar no meio que lhe era considerado - artificialmente mas oficialmente - natural, o meio feminino. Este reparo serve apenas para fazer notar o «distúrbio» social que o seu comportamento mais livremente efectuado levantava milhares de anos depois das tribos primitivas e do que se falava sobre o assunto embora tivesse o contra de ser um meio relativamente pequeno.

A outra referência memorial que tenho, menos médica e até um pouco humorada refere-se ao facto de me ser apontado o sítio «exacto» onde o carro do Dr. João Dias tinha ficado avariado durante dias até que o levaram à força de bestas e cordas tendo isto acontecido no caminho cercado (de cercas) da portela do Monte das Velhas. Chamava-se Portela à «porta» de saída para o Monte mais próximo por vezes, outras vezes o mais frequentemente acedido por essa tal de Portela.

Este preciosismo quanto ao local exacto do evento funcionava assim como que um ponto de honra para o pessoal de Alcaria Alta até por razões para mim paradoxais - tinham tido o carro do Dr. João Dias, ali, precisamente ali, durante dois ou três dias. O motivo da deslocação seria uma consulta a alguém do Monte (ao que me lembro um familiar de um Lavrador) e naqueles tempos para haver uma ida ou pedido de vinda de um médico - do único médico, diga-se - era porque já tinham falhado todas as tentativas caseiras. 
A
parentemente o Dr. João Dias teria enveredado directamente da estrada Alcoutim (Quatro Estradas dos Balurcos)  - Martinlongo e metido pelos terrenos de cultivo que naquela zona até são bem planos e teria chegado até ali (percorrendo talvez 6 a 10 kms de cultivo ou mato, depende da altura) vindo da direcção do Monte das Velhas em linha quase recta para Alcaria Alta. Ali chegado as lajes e as pedras irregularmente compostas no solo puseram fim à sua viagem...mas não à sua tarefa, vindo logo gente buscá-lo em besta.

Ora estas referências dão alguma quase magia aos acontecimentos: automóveis talvez houvesse mais alguns na sede do Concelho mas não mais que um ou dois, seguramente; médico o Dr. João Dias era o único (havia outro o Dr. Mendonça mas para os lados de Cachopo) e quem fizesse uma operação daquelas também só havia uma pessoa (tanto para a fazer como a quem ela poderia ser feita); alargue-se tudo isto a toda a região algarvia, isolada ainda do resto do país pela Serra do Caldeirão e por uma estrada com as tradicionais nunca contadas 365 curvas, com um caminho de ferro incipiente (o troço Faro - Vila Real de Sto António foi completado em 1906) e teremos um trabalho verdadeiramente heróico da parte do pessoal de saúde em zonas de mais difícil acesso.
 
A capacidade de improvisação era necessariamente grande e a falta de medicamentos tanto por não existirem como por serem sempre caros para quem praticamente não conhecia o dinheiro tornavam as situações propícias à legenda popular e a algum exagero milagreiro.

Em Faro (cidade) tivemos do Dr. Silva Nobre, também conhecido médico dos pobres, que também tem um busto em frente à casa onde habitou e onde foi o seu consultório, em frente a um Banco, rodeado de cervejarias e lojas de pronto a vestir e em Faro/Loulé a Dr.ª Fernanda Mealha, dermatologista e especialista conceituada em lepra, e força da especialidade - e não só - também considerada médica dos pobres, há poucos anos falecida, num relativo esquecimento, erradicada que foi - quase - a lepra.

A lição que pretendo tirar de todo este conjunto de referências acaba por responder um pouco à pergunta que o José Varzeano faz directamente e deixa também implícita outra parte no final do seu texto: o mito popular médico, tratar dos pobres, «fazer milagres» ou tratar dos mais pobres entre os pobres como o dizia Madre Teresa de Calcutá (ela também praticamente esquecida) não rende outra memória senão a memória popular. E esta, como sabemos, sendo curta de geração não tem forma de ser relembrada porque o orgulho institucional nos seus filhos ainda é bem mais curto.
 
 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Coluna Um - Os períodos eleitorais - Por Daniel Teixeira

 
 
Coluna Um - Os períodos eleitorais - Por Daniel Teixeira
 
Os períodos eleitorais são para mim um verdadeiro paradoxo quando atingem aquela febre que já se vai tornando habitual nas suas pontas finais. Penso, por aquilo que leio e ouço que o fenómeno é geral, que existe em todos os países, mas não deixa de ser curioso que o processo tenha sido adoptado nos mais diversos quadrantes, também um pouco resultado do facto das campanhas terem períodos determinados no tempo, com princípio, meio e fim.
 
É no fim, quer dizer nos últimos meses antes das ditas eleições e nos últimos dias antes da sua realização que os ânimos aquecem, quer por necessidade de dar resposta aos chamados adversários ou por iniciativa própria que os diversos intervenientes no jogo ajustam o vocabulário, aumentam o volume da sua voz e utilizam os meios que julgam necessários para conquistar pontos aos adversários, baseados em análises resultantes de sondagens, em criteriosos estudos que dividem o eleitorado em faixas etárias, faixas de género, faixas de condição económica, faixas de intenção de voto, de utilidades de voto, enfim, a terminologia daria para encher pelo menos algumas páginas.
 
Faz-me sempre lembrar os jogos de futebol em que uma equipa, que em 90 minutos de jogo não consegue meter um golo na baliza adversária, protesta, pede cartão amarelo, reclama contra as lesões dos adversários que por princípio são sempre fingidas. nesta perspectiva, nos minutos finais e em que o outro, o adversário, aproveita o tempo para fazer as substituições que não fez porque não achou necessário mas que agora já acha que são necessárias ao cair do pano, faz uma falta ou outra desnecessária, enfim, empatam-se as coisas na perspectiva de um e aceleram-se as coisas nesses tais minutos finais na perspectiva de outros.
 
Um governo, ou qualquer órgão institucional eleito tem pelo menos 4 anos para mostrar aquilo que vale e se vale alguma coisa, as oposições têm também 4 anos pelo menos para mostrar aquilo que acham que o outro não vale, mas tudo se resume (dizer resumir é excessivo) aos tais minutos finais (que podem ser duas semanas, dois meses).
 
O matraquear ou metralhar do pobre eleitor é um verdadeiro abuso e tudo se conjuga para que as ideias mais ou menos guardadas durante os tais de 4 anos (ex.) sofram uma reviravolta ou se mantenham sem reviravolta, consoante os interesses e os intervenientes. «Descobrem-se» nestes períodos os mais diversos escândalos, sejam eles financeiros sejam eles políticos ou mesmo de outras índoles e no final, quer dizer, no dia das eleições, no dia do depósito efectivo do cartãozinho na urna, pelo menos uma percentagem razoável dos eleitores vota. não com a consciência, mas com a percepção algo abstracta de que o seu voto vai no caminho certo ou é «dado» a quem de facto o merece.
 
Já se tem assistido a verdadeiras reviravoltas no último minuto, como aconteceu na primeira eleição de Zapatero em Espanha, em que o elemento despoletador da reviravolta foi um trágico ataque terrorista e já aconteceu o inverso em França em que os distúrbios nos bairros periféricos de Paris acabaram por contribuir para eleição do então Ministro do Interior, agora Presidente Sarkosy.

Afinal será que o eleitorado anda mesmo às aranhas ou que não sabe analisar os comportamentos a longo ou a médio prazo e formar opinião ou será que tem a opinião tão frágil que um único acontecimento faz virar a balança do seu pensamento, que os últimos minutos são determinantes para a formação e consolidação dessa mesma opinião, ou será simplesmente, o mais provável na minha opinião, que o eleitorado, de uma forma geral, precisa que lhe digam mesmo de uma forma explícita em quem deve votar?

O facto de se fazerem grandes obras, de se inaugurarem outras grandes ou pequenas, até por várias vezes como já tem acontecido, terá de ser assim tão determinante para a formação de uma opinião de voto?

Afinal o resultado do voto, até que as coisas mudem, o que não convém absolutamente nada diga-se (incomoda-me verdadeiramente os países que andam em eleições quase mensais) o resultado desse voto não é para durar os tais exemplares 4 anos e não deveria ser estudado durante os anteriores 4 anos todos e não nos últimos 4 minutos da partida?

É dificil pensar em termos de estabilidade para se fazer alguma coisa quando, por exemplo em Portugal se sabe que os Presidentes da República são eleitos por um mais um mandatos, que os governos andam sempre vai não vai sem saber se ficam se vão embora, se as Câmaras Municipais, depois de atravessado um período de longas (e quase eternas) repetições eleitorais, têm ultimamente mudado globalmente a um ritmo acelerado, que as administrações dos Institutos Públicos mudam de acordo com a camisola governamental eleita, que existem milhares de cargos de nomeação que caem ou não caem depois das eleições e que, como se tudo isto não bastasse ainda se dá os tradicionais 100 dias de período de habituação aos lugares a este pessoal todo fora as alterações pontuais que se vão fazendo periodicamente.

Temos depois a também tradicional distribuição dos jobs for the boys que leva eternidades a assentar, que roda e volta a rodar consoante a adaptação de a, b, ou c para o lugar para onde foi nomeado.

Enfim é um rol quase interminável que leva a esta sensação de inconstância, de fragilidade estrutural, de trabalho de cada um por si (e para si) que os eleitores portugueses vão sufragar neste ano que corre muitos deles instavelmente durante os últimos minutos do jogo.

O Churchil dizia que a democracia era o pior dos sistemas políticos excluindo todos os outros: agora que só localizadamente existem outros sistemas talvez seja bom aperfeiçoar esta mesma coisa porque assim é mesmo desesperante.
 
 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Crónicas e ficções soltas - Por Daniel Teixeira - O CERRO DO LAGARTO DE ALCARIA ALTA E O CERRO DO «NARIZ DEL DIABLO» NO PERU

 
 
Crónicas e ficções soltas - Por Daniel Teixeira - O CERRO DO LAGARTO DE ALCARIA ALTA E O CERRO DO «NARIZ DEL DIABLO» NO PERU

O cerro do lagarto, em Alcaria Alta, é uma lenda da qual eu não me lembro de ter ouvido falar dela por outras pessoas senão pela minha mãe que me disse tê-la ouvido contar pelo meu avô. Contava-me ela que algures, numas terras, todas elas com pequenas e maiores elevações, os chamados cerros, havia uma grande pedra com um lagarto esculpido em ouro embutido que só uma pessoa tinha visto uma vez. Dizia ela tratar-se de um local conhecido como sendo o «cerro do lagarto» mas que ninguém sabia qual cerro era.

Essa pessoa, à hora do pôr do sol, teria visto um brilho grande vindo do solo e aproximando-se teria visto então o lagarto em ouro. Teria tentado arrancar o ouro sem o conseguir e não podendo trazer consigo a pedra dadas as suas dimensões e peso tinha marcado o local onde ela estava e ficara de regressar no dia seguinte munido das ferramentas necessárias para recolher o lagarto de ouro partindo a pedra. Por mais que procurasse a pedra no dia seguinte e nos seguintes não a encontrou.

Ao que consta na lenda o homem terá ficado de tal forma transtornado e obcecado que mesmo ali montou uma pequena habitação como os pastores costumam fazer com pedras empilhadas e estevas cruzadas regadas com argila em líquido a fazer de tecto e ali terá ficado buscando nas redondezas e cada vez mais longe durante anos até que a morte o levou passados muitos anos.
 
Quem o viu durante esse tempo de vida não conseguiu nunca chegar-lhe à fala porque ele fugia e escondia-se nos inúmeros barrancos que por ali haviam. Reparavam essas mesmas pessoas que ele transportava sempre consigo uma roupa em estilo de albornoz pendendo do ombro com um peso que todos achavam serem pedras. Quando se deu por certo o seu falecimento quem lá foi buscar o corpo, passados muitos dias, verificou que ele tinha a sua pequena casa e abrigo repleto de bocados de xisto, a pedra predominante naquelas paragens, todas elas partidas em pequenos bocados e algumas quase em pó.

Ora esta história foi-me de facto contada pela minha mãe: parece-me evidente tratar-se de uma lenda e o meu avô era um bom contador de histórias. Contudo de reparar que friso o seguinte: contar histórias para ele não era propriamente contar mentiras. Ele contava o que lhe constava e que lhe contavam e praticamente percorreu todo o sul do país quer em trabalho quer nos seus negócios pelo que muito terá ouvido e muito terá guardado.

A minha memória sobre este tal de cerro do lagarto esteve adormecida durante bastantes anos mas não pude deixar de a relacionar com uma outra lenda que me apareceu relatada na Net com localização no Peru (América Latina, a milhares de quilómetros de Alcaria Alta) e que tem igualmente a sua génese num cerro, o Cerro do Nariz do Diabo e que conta assim.
 
Para o Cerro do Nariz do Diabo existe uma lenda Peruana referindo o Lagarto segundo a qual uma cultura pré-inca terá habitado o território do Nariz do Diabo assim conhecido por ser encimado por um cerro (uma pequena montanha) que se destaca das outras pelo facto de ter dois orifícios no seu rochedo xistoso semelhantes a duas fossas nasais.

Essa mesma cultura pré-inca considerava os lagartos, abundantes nas proximidades do Rio Chira (um importante Rio em Sullana), como divindades pelo que confeccionaram com ouro uma imagem de um Lagarto que veneravam como um deus.

É provável que os «marcaveles», os habitantes desses locais, ao terem conhecimento da chegada das hordas de Pizarro, cobiçando o ouro e a prata, tenham enterrado o sagrado «lagarto de ouro» nas entranhas de este misterioso e legendário Cerro (do Nariz do Diabo). Dizem que o local era um cemitério e que em alguns dia do ano têm lugar visitas aos jazigos existentes. Há alguns anos às quintas feiras santas homenageavam-se os falecidos do local.
A lenda do lagarto de ouro

Neste cerro aparece um pequeno Lagarto de Ouro que dorme nas margens do rio e que sai sempre ao alvorecer encantando os que deambulam por ali com o seu brilho e adormece-os e leva-os para dentro do cerro do qual não voltam a sair nunca mais.

No mês de Abril na semana santa os marcavelenses rezavam a seguir ao meio dia e acabavam antes da meia noite pedindo que o lagarto nunca lhes aparecesse.
 
Um dia chegaram à hospedaria local uns jornalistas que tinham ouvido falar das diversas versões desta lenda do lagarto e pediram que lhes fosse contada a lenda e a pessoa que a contou preveniu-os desta faceta do lagarto de encantar as pessoas e de levá-las para o interior do cerro não saindo elas mais de lá. Quiseram no entanto saber se era apenas uma lenda ou se havia algum fundo de verdade nesta lenda.
 
No dia seguinte levantaram-se de madrugada e foram com o guia até ao inicio do cerro. O guia, com temor de ir mais à frente, sentou-se em frente ao cerro e via como eles riam enquanto esperavam e um deles entretanto resolveu tirar uma fotografia ao cerro pelo que desceu até ao seu sopé.

Quando voltou para junto dos seus amigos viu que o lagarto de ouro tinha aparecido e como eles começaram a seguir o lagarto deslumbrados com o brilho do ouro. Quanto mais entravam nos caminhos do cerro o lagarto ia deixando como rasto bocados de ouro até desaparecer da sua vista.

Este jornalista fugiu daquele cerro assustado enquanto se ouviam gritos espantosos. Os seus colegas nunca mais apareceram.

Quem conta esta lenda do Lagarto do Cerro do Diabo, sempre um velho, muito velho mesmo, mas bem rijo ainda nos movimentos acrescenta sempre no final a pergunta: querem ir visitar o Cerro para ver se encontram o Lagarto de Ouro? Eu levo-os...mas só vou até ao sopé do Monte...Há quem tenha visto nos olhos do velho indígena quando o sol lhe ilumina a face um brilho intenso como se fosse o brilho do ouro.

Coluna Um - A culpa é do branco

 
 
Coluna Um -  A culpa é do branco
 
Há dias, durante a visita do Primeiro Ministro Inglês a Brasília, o Presidente Lula da Silva afirmou sucintamente que a presente crise económica é resultado da actuação de indivíduos «brancos, louros e de olhos azuis», numa referência que todos entendemos estar o mesmo Lula a dizer que os países pobres (em princípio não brancos) estavam a sofrer aquilo que outros tinham fabricado, e que essas pessoas apareciam antes pelo Brasil e por outros países «julgando e dizendo que sabiam tudo».
 
É um facto que, de uma forma geral, a crise actual, resultando sobretudo de especulações financeiras subidas além do chinelo da razoabilidade, tem o seu alicerce nos países ocidentais normalmente considerados ricos e sobretudo, na medida da sua importância em termos económicos, o seu efeito é proporcional à sua capacidade financeira. Quanto maior a nau maior a tormenta e neste caso concreto maior ondulação produz a grandeza dessa nau agora sem rumo nem remos.
 
Esta coisa da moeda é algo de extraordinariamente simples na sua origem: a moeda resulta das transacções de mercadoria (para as quais se estipula um dado valor) evitando-se assim o tradicional sistema da troca directa, ainda em uso nas comunidades rurais, por exemplo, em que se paga com ovos, por exemplo, o café.
 
O intermediário capital, neste sistema, contudo, ganha vida própria, desliga-se da sua realidade de base, joga com os tempos, com remunerações para aplicação, é aplicado com remuneração, ou seja, procura reproduzir-se: quem tem mil euros disponíveis, por exemplo, entrega-os a um banco, que por sua vez o remunera numa dada percentagem e, por estranho que pareça, dizem os financeiros, esses mesmo mil euros na sua rotação podem atingir cerca de 100 voltas, ou seja, podem «transformar-se» em 100 mil euros, dos quais 99 mil são em parte substancial virtuais.
 
E digo que são em parte virtuais, estes 99 mil euros e não na totalidade, porque uma parte dessa virtualidade acaba por agregar-se a realidades e acaba por fazer parte dessa mesma realidade. Vejamos - e peço desculpa por ser tão primário no raciocínio mas não sei trabalhar de outra forma - vamos supor que nessa rotação uma parte fomenta uma actividade produtiva (ou outra complementar) e o milagre da multiplicação dos pães está feito.
 
Os mil euros iniciais, que resultavam de uma realidade, são assim acrescidos na sua realidade com mais mil, ou dois mil, ou dez mil, ou 99 mil, segundo esta lógica. É claro que isso implica um processo de rotação progressiva: não se trata de dar 100 voltas ao dinheiro e voltar a receber os mesmos mil euros. Isso seria absurdo, como é claro, e mais resultado dava tê-lo a abobrar nos cofres (não pagando remuneração nenhuma).
 
Ora visto isto, vamos aos senhores da pele branca, cabelos louros e olhos azuis: o que esse senhores fizeram foi simplesmente furar o sistema, não integrando nos tais mil euros o bastante de realidade que lhe desse um suporte aceitável.
 
Pelas minhas contas feitas assim aqui em casa, e dado o buraco que as coisas estão a apresentar, e tomando como exemplo um caso que dá brado aqui em Portugal, o famoso caso do Banco Português de Negócios (e do Banco Privado Português numa escala mais pequena em valores), o primeiro (BPN) de uma necessidade de solvabilidade (diferença entre a realidade e a virtualidade) de 450 mil euros, passou a 750 mil numa semana e a três mil milhões em dois meses.

O que é que isto quer dizer? Que inicialmente estava descoberta (dada a pressão dos pedidos de retorno dos depositantes) uma soma de 450 mil euros e que essa soma evoluiu para 3 mil milhões de euros. Fazendo umas contas ao contrário, e se entendermos que o dinheiro inicial dos depósitos, rodou 100 vezes (o que é elogioso porque a média da rotação é de 40, 50 vezes) isso quer dizer que foi incorporado no processo uma irrealidade (ou uma virtualidade pura) de 3 mil milhões de euros menos 1%, ou seja, 2.700 milhões de euros.

Se quisermos ser mais correctos podemos dizer que tendo rodado a média (40/50 vezes) a percentagem de virtualidade se reduz a metade e que em vez de haver um virtual puro de 2.700 milhões de euros há um virtual puro de 2.400 milhões de euros, sendo que o real de partida (depósitos) será no primeiro caso de 300 milhões de euros e de 600 milhões de euros no segundo caso.

Ou seja, em qualquer dos casos, em vez do milagre da multiplicação dos pães assiste-se ao milagre da microscopização dos pães: os iniciais mil euros com que começamos as nossas contas «valem» agora 1% ou 2% de si mesmos, ou seja, 10 ou 20 euros, tendo levado assim uma «dentada» de 990 euros ou 980,00 euros.

É claro que os senhores de olhos azuis não conseguiriam fazer isso se não contassem com a tradicional sofreguidão dos aplicadores de capitais entre os quais se encontram muitas instituições públicas (aqui em Portugal o Fundo da Segurança Social do Estado tinha num destes bancos 450 milhões de euros aplicados, que ao que parece levantou a tempo).

Por outro lado uma parte substancial das empresas públicas, e privadas, com capitais a disponibilizar por períodos curtos ou longos segundo as capitalizações (lucros) e os investimentos terão de vir um dia à luz do dia, e para já a recente redução dos lucros apresentados na sua maioria resulta da perda de capitais investidos em larga percentagem e numa parte bem mais pequena das reduções da procura e da disponibilidade financeira das famílias.
 
Por outro lado, essas aplicações estão a contar como capital (património) pelo valor corrente do mercado que ninguém sabe onde vai parar em termos de descida daqui a dias ou meses.

Ora, numa altura em que se pode considerar que os implicados nesta mega fraude varrem muitos quadrantes, de forma activa ou passiva (a este passivo eu chamo ganância e / ou ignorância) é muito cedo para andar a deitar todas as culpas sobre o branco, embora fique sempre bem o apelo à unidade, isto porque amanhã ou depois vai ficar-se a saber que a culpa é do branco, do preto, do amarelo e das mais cores que se forem arranjando.

Até aqueles (brancos, pretos, amarelos, etc.) que nada têm, ou que têm muito pouco, têm culpa porque deixaram nas mãos de meia dúzia de parolos a gestão dos seus destinos.
 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Coluna Um - Inversões e marcha atrás

 
 
Coluna Um -  Inversões e marcha atrás
 
 Em tempo de crise económica e social as questões que levantamos não aparecem como se tivessem estado escondidas atrás de uma pedra durante o tempo das vacas confortadas.
 
Estiveram, essas mesmas questões, antes, envolvidas no tal de manto diáfano da fantasia em que fomos vivendo através do desviante e silenciador massacre das propagandas privadas e oficiais, que através da insistência da sua própria lógica e desenvolvimento, fizeram até com que essas questões tivessem passado para uma outra dimensão quase extraterrestre.
 
Não há muitos anos, fazendo uma viagem à terra dos meus avós e meus bisavós, uma triste terra, é um facto, onde se aplicava integralmente desde havia muitos anos antes o ditado popular que «a agricultura era a arte de empobrecer alegremente», um técnico, que estava comigo presente na altura segredou-me perante a descoladora imagem de uma população envelhecida que apesar de tudo continuava a insistir em cavar terras e a plantar alguns pés de trigo, cevada, couves e batatas, que ele, se tivesse meios e poderes, pagava àquela gente para se ir embora «para ter uma vida condigna».
 
Relembrando o passado e recolhendo na memória dos outros, o passar de cavalo para burro aplicava-se ali integralmente; de duas vacas, seis ovelhas, dois cavalos e uma égua trinta anos antes, um dos presentes na pequena conferência da semi-taberna estava naquela altura na posse de dois velhos burros cujos potenciais compradores, em caso de necessidade, seriam apenas e só os indivíduos de etnia cigana se ele os encontrasse e se eles estivessem nessa disposição.
 
O pão caseiro, de uma excelência de forno de estevas e loendros, saindo a respirar como gente da boca do seu mundo, era já, naquela altura (cerca de vinte anos) batido aos pontos económicos pelo pão de padaria industrial e era fácil fazer as contas: cerca de 5 vezes mais caro - mesmo não contabilizando todos os factores -. O pão verdadeiramente caseiro estava ali também a despedir-se deste mundo na altura em que lá estivemos.
 
Veio depois o plantio dos infalíveis eucaliptos, ditos de crescimento rápido e a vivência das miseráveis reformas de toda aquela gente. Desapareceu um mundo, ali, em várias fases, mas sem outras opções de sobrevida. Uma forma de ver vencida pela roda trituradora do alegado progresso. Falta saber se foi mesmo um progresso...

Na situação em que estamos penso que não haverá grandes dúvidas de que eucaliptos não dão de comer a ninguém, salvo a meia dúzia de pessoas e durante períodos limitados de tempo. Dão de comer sim aos grandes industriais, às suas grandes empresas que investem na bolsa ou noutros locais menos conhecidos e que agora estão cai não cai no domínio da intervenção económica estatizante.

Pode assim fazer-se um balanço, ainda que os indicadores não sejam todos favoráveis à tese de que «antes era melhor». Não era, de facto, melhor trabalhar de sol a sol, com meios técnicos rudimentares, envelhecendo prematuramente, não tendo condições de apoio à saúde, trabalhar para o boneco, praticamente, porque o resultado económico obtido era inferior ao esforço e aos meios envolvidos, não era melhor. Só que agora é ainda pior...

Aqui em Portugal 150 milhões de euros dão para alargar o período de benefício do subsídio de desemprego, mais 150 milhões de euros dão para reduzir temporariamente para metade uma parte substancial dos pagamentos mensais de quem comprou casa a crédito (sob garantia hipotecária antes e agora). Isso soma 300 milhões de euros.

Só para alegadamente garantir os depósitos de um banco que só não se chama de falido porque ainda ninguém se lembrou disso foram dados, pelo Estado, 750 milhões de euros. Para um outro, que segundo alguns é um caso de polícia, já se vai perto, com as novas exigências de reequilíbrio, dos 300 mil milhões de euros (não são 300 milhões, são 300 mil milhões, repete-se).
 
Isto numa altura em que o Governo Alemão já mandou às urtigas este tipo de apoios e em que a França se debate com forte contestação social que pode resultar no habitual. Entretanto em Espanha vai fervendo em fogo lento...
 
Fazendo contas simples, toda essa massaroca, cerca de 400 mil milhões de euros, davam para aumentar a garantia do benefício do subsídio de desemprego mais dez anos, garantindo ao mesmo tempo alguma confiança social, dava para reduzir as prestações de pagamento de casas à banca em período de carência durante outros dez anos, contribuindo para descomprimir os gastos no consumo corrente, fomentando e reforçando empresas e credibilizando a hipótese da retoma, e, de uma forma ou de outra, o retorno seria certo e seguro (o dinheiro ironicamente já é desde logo também deles). E alinda sobrava algum pois que 300 milhões vezes dez dá 300 mil milhões e estamos a falar de um plafond concedido e a conceder de 400 mil milhões.
 
E isto retornaria, todo este dinheiro retornaria, porque os desempregados arranjariam emprego ou reformavam-se sem andarem por aí a viver de forma pouco digna nalguns casos (a maioria), revoltados, fervendo ainda em águas mansas e os proprietários de casas compradas nestas condições acabariam por ter de resolver a situação logo que pudessem.

Ora, também, reactivar algumas actividades que têm substância de desenvolvimento e de produção efectiva e outras que estejam relacionadas com actividade verdadeiramente produtiva é trabalho que deve preocupar qualquer pessoa que tenha alguma altura de testa.
Mas não...arranja-se dinheiro ou crédito para fazer grandes investimentos que bem poderiam esperar, pressiona-se a banca para conceder crédito às pequenas e médias empresas de vida periclitante, como se a banca estivesse em condições de andar a fornecer dinheiro sem garantias efectivas de retorno sob risco de piorar ainda mais a sua situação e entrar mais no ciclo vicioso da intervenção estatal.

Ora, dentro daquilo que foi jogado fora, incluindo as oportunidades de aplicar melhor os fundos que já não voltam, e repetindo parte do sermão aos peixes do Padre António Vieira, o que terão até agora feito os homens senão manter no mar aquilo que eventualmente tem hipóteses de ser reactivado e de fomentar o encaminhamento da resolução de situações?
Que tem feito esse tal de aparelho de estado para ver estas coisas? Por onde anda a razão mais simples que qualquer um usa no dia a dia ao ir buscar coisas que por pequenas desvantagens relativas em relação ao novo colocou na prateleira/armazém para resolver agora temporariamente os inconvenientes da falência da sua máquina nova?

Esta gente não pensa ?? Não sabe pensar?? Não consegue pensar!!???
 
 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

COLUNA UM - A violência nas escolas e os massacres

 
 
COLUNA UM -  A violência nas escolas e os massacres
 
 
Todos, ou quase todos, andámos na Escola e todos sabemos melhor ou pior aquilo que o tradicionalmente chamado de sadismo infantil pode produzir. O assunto anda muito mal estudado, e mesmo a nível da psicologia publicada a situação, sendo de alguma forma clara, acaba por ficar escondida dada a delicadeza do tema. Ninguém está interessado em mostrar a jovens em formação psíco - social aquilo que eles mesmos fazem (quando fazem) ou aquilo que eles mesmo não fazendo têm ou podem ter vontade de fazer .
 
A minha escola, contudo, foi antes da escola e depois da escola, como com toda a gente. A maior parte das pessoas não liga uma coisa à outra e até por comodismo psicológico prefere estabelecer a existência de dois ou diversos compartimentos estanques: antes da escola e depois da escola, vida familiar e vida escolar, vida na escola e vida fora da escola, etc.
 
A institucionalização que a Escola apresenta e fomenta sempre foi um problema muito mal digerido na sua compreensão: sejam elas instituições totais, quer dizer instituições onde as pessoas passam a esmagadora parte da sua vida ou uma parte substancial dela com contacto ou não com a sociedade á sua volta, seja ela a micro - sociedade local, seja ela a sociedade em geral, sejam elas ainda instituições às quais se adere voluntariamente ainda que com algum grau de obrigação, caso das escolas de escolaridade dita obrigatória, do serviço militar obrigatório, etc.
 
A utilização de uma lógica de grupo não espontaneamente constituída, a variedade dos graus de formação social e capacidades económicas e intelectuais diferenciadas, é tudo agrupado num conjunto de regras gerais, tipo lógica de código penal, em que sumariamente se diz, ainda que de forma indirecta, as sacramentais iniciais frases do penalismo:«Aquele que...fizer isto ou aquilo...incorre nisto ou naquilo».
 
Para uma criança, ou para um jovem, é, por vezes difícil entender muita coisa, nomeadamente quando se trata de regras com algum grau de preventivismo: por exemplo não se pode ir à casa de banho das meninas, mesmo que ela esteja vazia e se deixe um colega à porta prevenindo, estando a casa de banho dos meninos com enorme fila e apertando a fisiologia em extremo incontível.
 
Claro que a ideia é não romper o princípio, manter a privacidade de um sexo e outro, mas para quem tem de fazer o que quer que seja nas calças e sujeitar-se á chacota posteriormente a norma é nitidamente absurda, naquelas condições. São inúmeros os exemplos daquilo que se pode compreender metendo-nos agora dentro da nossa mente que também já foi infantil e juvenil. Ficamos com a ideia, para esta crónica, de que há coisas que se entendem numa leitura mas não se entendem (compreendem) numa outra leitura.
 
Os fenómenos actuais que se relacionam com a violência juvenil, seja ela nas escolas ou fora delas, nascem onde calha, ou seja, nascem consoante a ocasião, e muito pouco têm a ver com a escola em si senão pelo facto de aí poder haver uma maior regulamentação evidente e por aí se passar, de forma concentrada, socialmente, um largo tempo de vida, acrescido na sua
potencialidade de captação pelas limitações do espaço, pela uniformidade relativa do ambiente, pelo número de potencialidades do acontecer.
 
Se alguma vez fossem feitas as contas, e hoje fazem-se estatísticas para quase tudo, seria interessante saber-se a quantidade de eventos diferenciados e uniformizados acontecidos em ambiente escolar em comparação com aqueles que têm lugar fora do ambiente escolar. Só como
exemplo, e porque me veio à ideia, num estudo americano (são sempre os americanos) num outro campo, chegou-se à conclusão que os enfermeiros (os questionados, cerca de 900) são distraídos da actividade que executam entre 4 e 6 vezes em média e que o leque de distracções dessa sua actividade abrange 11 itens.
 
Ora, continhas destas nunca foram feitas nem nas escolas nem nos miúdos (sejam eles mesmo miúdos ou menos miúdos) e o curioso deste estudo que falei sobre os enfermeiros é que ele foi feito a partir da altura em que os enfermeiros começaram a estar sujeitos também ao conceito do erro médico (de enfermagem, neste caso). Ou seja, foi feito porque começaram a entrar em jogo indemnizações, entidades publicas e privadas, seguradoras, etc.
 
Quanto à violência nas escolas, nada estando feito e ninguém se interessando por isso, assistimos com alguma frequência a verdadeiros massacres incompreendidos, a chantagens (bullyng) entre alunos, a pressões das mais diversas ordens, a violência física, a violações, etc.
 
Ora o mundo parece que acorda para a novidade cada vez que uma destas coisas é conhecida ou mais tragicamente acontece, quando deveria procurar conhecer o que está por detrás dos fenómenos. Uma Universidade, todas as Universidades, reforçam as medidas de segurança depois que um trágico caso acontece, mas em termos de inteligência, quer dizer, de informação, o que fazem. Nada, que eu saiba...
 
São capazes até de ser injustos em procedimentos, penso que é o próximo passo dentro desta lógica que tem mais de repressiva do que de preventiva, ao ponto de construírem bases de dados de alunos - problema, fazerem circular entre si essa informação, quando nada garante que cesteiro que faz um cesto faça um cento, apesar do ditado popular, anexando assim ao sistema de informação geral (social) aquilo que se manifesta em ambiente escolar em circunstâncias bem específicas e por razões igualmente específicas quantas vezes.
 
Tenho lido sobre violência nas escolas desde há muitos anos, pelo menos dez, e tenho visto que as soluções apontadas para resolução de problemas não são razões estudadas: na maior parte dos casos fazem-se experiências, como é o caso do aluno moderador que não será difícil confundir com o aluno «bufo» em terminologia escolar.
 
 Ir à fonte dos problemas, poucas pessoas querem, até mesmo os pais e suas associações muitas vezes primam pela envolvência emocional desviando desde logo a possibilidade de uma análise cuidada dos factos.
 
Não digo que a violência nas escolas (até mesmo contra professores) ou que os massacres escolares que vimos a saber periodicamente estejam inteiramente dependentes e sejam resolúveis na sua incidência através desses estudos que qualquer ser racional hoje sente a falta.
 
Mas era bom ter uma ideia, quanto mais não fosse uma ideia, daquilo que se passa realmente nestas mentes sem ser a tradicional resposta desculpa do ambiente familiar (quando é mesmo desculpa pilatiana), da sociedade (esse saco enorme), da Net, da televisão, dos jogos de computador ou de qualquer outra coisa.
 
Tal como estamos, nada feito!!
 
Daniel Teixeira
 
 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

COLUNA UM - Porque CPLP e não CPLL?

 
 
COLUNA UM -  Porque CPLP e não CPLL?
 
 Há bastante tempo que tenho notado a insistência quase inocente em «transformar» os povos de língua portuguesa em povos de língua lusa: na verdade fala-se de lusofonia, de comunidade de países lusófonos, de diáspora lusófona, etc. e aplica-se tudo isso a qualquer ser falante ou coisa que mexa que fale ou tenha nela escrita uma palavra em português.
 
Ora uma coisa e outra não são bem a mesma coisa: falar-se português não é falar-se luso embora se fale a língua que os lusos (hipoteticamente existentes) falam e para estes tal seja indiferente.
 
A lusitanidade é (?) uma cultura, uma forma de ver as coisas, embora em tempos se tenha também achado por bem procurar-se uma raça (agora diz-se etnia) tipicamente lusa.
Fizeram-se escavações de rebentar picaretas, com ilustres etnólogos - antropólogos - arqueólogos (agrupa-dos no termo filósofo) de cigarrilha na boca e bules de chá ou garrafas de típica vinhaça luso - portuense, escreveram-se toneladas de folhas (eu próprio caí na asneira de andar a tirar fotocópias quase ao quilo) para se chegar à conclusão que é excelente ter-se dinheiro para andar a perder tempo e que as sociedades ilustradas não são forçosamente ilustres na economia.
 
Ora a lusitanidade cada vez que se ergue, como princípio, tem sempre grande dificuldade em manter-se numa perspectiva não imperialista e a tendência à confusão entre os conceitos tradicionais de esquerda e direita esbatem-se de tal forma que um lusitano de esquerda ou democrático encontra sempre grande apoio num lusitano não democrático e de direita, extrema na maior parte dos casos, ainda que adocicada pelos laivos da inocente nobreza populista.

Por aqui e por ali andam uns senhores, que sempre andaram ao fim e ao cabo - isto é como as carraças - a apregoar agora que o famoso quinto império «português» é o império da língua: assim, nada mais bonito que ser-se lusófono, participar nos eventos solidários ou não com os povos que falam português e um belo dia ou todos os dias (até é fácil) deitarem-se à sombra da imaginária bananeira do seu contentamento e da sua satisfação por verem o seu «império» realizado ou a realizar-se.
 
A coisa chega a parecer ridícula (e é !) quando dentro destas linhas de pensamento aparecem pessoas (a psiquiatria é uma arte muito mal servida em termos de cuidados primários) a sugerir que seja concedida a nacionalidade portuguesa a todas as pessoas que o peçam desde 1.500 (é D.C. e não A.C. para minha e sua maior tranquilidade) desde que demonstrem por «a» ou «b» que descendem de descendentes de qualquer forma existentes nos países (antigas postos ou possessões ultramarinas) onde os portugueses tenham estado.
 
Dá-se inclusivamente o exemplo da India, em que tudo o que for miscenizado tem grandes hipóteses de ser português de quinta ou sexta ou vigésima geração, pois que o portugueses foram os primeiros brancos a lá chegar e que logo, todo aquele que não tiver as características tipicamente locais tem grandes hipóteses de ter sido fecundado pelos «lusos». Nem é preciso jogar a moeda ao ar.
 
Seja, para mim tanto se me dá - como a situação está e com o país que é Portugal não vai haver muitos interessados - e não me importo absolutamente nada, nesta era da globalização, de ser compatriota de um parente de alguém que ninguém sabe quem foi que tenha batido terras do Oriente, de Africa ou das Américas (a Austrália parece que está safa!).
 
Mas um pouco de tento e um pouco de realismo nunca fizeram mal a ninguém: um país onde uma larga maioria da população não tem onde cair morta e até os «sete palmos de terra e o caixão» se vendem a prestações, escusa de se estar a cantar de galo como se fosse um grande favor que fizesse ao mundo conceder-lhe a «benesse» do selo e do carimbo branco.
 
Por isso, e sem estar a dar novidade nenhuma, povos que falam português, fujam destes «lusos» ...
 
Daniel Teixeira
 

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

COLUNA UM - A interdependência em tempo de crise.

 
 
COLUNA UM
 
A interdependência em tempo de crise.
 
 
Quem ouve falar em conjugação de esforços, em união em torno de objectivos comuns, em partilha, tem uma tendência quase paradoxal para ver as coisas por um único prisma, (o da vantagem) dividido contudo este entre o tal ser social- associal humano referido por Kant (e não só) e a ponderação disso com as vantagens que venham a compensar (muito bem, bem ou razoavelmente) aquilo que possa parecer uma marginal invasão na associabilidade kantiana atrás referida.
 
Não vamos fazer aqui um texto antropo- filosófico sobre a matéria, mas buscando dentro de nós mesmos e sem grande esforço, despidos que estejamos da condicionante supervisão social, encontramos nas nossas rotinas pessoais mantidas ou quebradas um pouco disto tudo : estamos a fim de passar uma noitada em frente ao ecrã com uma mão cheia de filmes para escolha, todos eles interessantes e alguém nos telefona para irmos a tal sítio, onde eventualmente se vai passar algo que nunca nos teria entrado no programa dessa mesma noite.
 
Por si o acontecimento não tem relevância para nós, pelo menos como opção próxima, mas quem nos telefona é «fulano» ou «beltrana»: por reverência por esses aqui anónimos convidantes somos colocados perante hipóteses que analisamos desde logo: pode dizer-se um rotundo não (?), arranjaremos uma desculpa razoável e credível para dizer «não» ou perante o peso do convite temos de afastar desde logo essas possibilidades denegatórias !?
 
Bem...não quero estender-me muito pelo que o que interessa aqui é direccionar o discurso para o plano em que temos de pesar (ponderar) as coisas e saber quais os argumentos ou factos que consideramos válidos para tomar uma posição ou outra (neste caso responder ou não positivamente à chamada que nos foi feita por alguém linhas atrás).
 
Resumindo fazemos sempre uma ponderação custo - benefício e, em termos abstractos estamos sempre a fazer um «negócio» ou a negociar seja connosco mesmos seja com o outro (a). O nosso objectivo não é sempre o de ganhar, naquele sentido de fazer mais - valia, mas de qualquer forma tentamos sempre não ficar a perder: ou seja, pelo menos queremos que seja feita uma tal de justiça interior em que as coisas fiquem a «valer» para nós tanto como valiam ou que noutros casos diferidos venha a ser mais tarde compensado esse tal de prejuízo imediato.
 
As uniões, federações, mercados comuns são, em rigor, despidas da sacramental envolvência ideológica, a mesma coisa. Podemos estar a perder hoje mas mantemos sempre em stock a possibilidade de recuperação. Inversamente estamos a ganhar hoje mas mantemos sempre em stock a possibilidade de restituição.
 
O problema coloca-se feio, mesmo muito feio, é quando as necessidades de recuperação se tornam prementes por razões da mais diversa ordem e por formas das mais diversas. Esgotada que esteja a possibilidade de diferir por mais tempo uma dada concessão antes acordada, salta-se em cima do alegado devedor (a «factura» até pode não estar vencida) e quando se trata de sociedades no seu todo ou em larga parte as coisas têm o seu quê de assustador.
 
Nada assusta mais aqueles que têm do que a revolta daqueles que nada têm embora o problema neste momento se torne complicado porque em princípio ninguém tem e todos não têm. Apenas há os que não têm um pouco menos do que aqueles que não têm mesmo nada. Não gostaria de ser muito pessimista (continuo a guardar uma extraordinária confiança no engenho humano) mas os tempos estão mesmo maus.
 
Os indicadores do desemprego são essa tal ameaça ou antecâmara latente da revolta, o incremento da criminalidade (que com pudor se desligou sempre da situação económica envolvente) é um sinal pouco tranquilizador também, enfim...
 
Mas o nosso mundo virtual, talvez o único refúgio tranquilo, é realmente uma máquina: vejam lá se cabe na cabeça de alguém aceitar que o gordo Ronaldo tenha feito uma noitada e chegado atrasado ao treino e se há alguma razão palpável nas nossas mentes para que a Ditinha se tenha separado do Fábio ou mesmo que o Cristiano Ronaldo esteja outra vez a ser assediado pelo Real Madrid.
 
Qual quê!? Crise só no mundo real!!
 
Daniel Teixeira  
 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

COLUNA UM - Os gastos em Cultura e a falta de lupas

 
 
COLUNA UM -  Os gastos em Cultura e a falta de lupas
 
 Portuguesinho que sou, e habituado,  dificilmente «habituado» mas mesmo assim habituado / rotinado nestes últimos tempos a procurar distinguir entre aquilo que é o comunicado e aquilo que é o feito e em que águas se move aquilo que é comunicado - para pelo menos tentar saber o «valor» do comunicado na sua relação com a realidade profunda - deparei-me há já alguns dias (desde o dia 3 de Fevereiro) com a anúncio feito pela Secretaria de Estado da Cultura de S. Paulo do seu Programa Cultural para o Ano 2009.
 
 Como S. Paulo (estado e cidade) são mais ou menos iguais em termos populacionais com o país que é Portugal, achei curioso procurar alguns pontos de encontro entre os dois embora sabendo também que a organização política e administrativa dos dois países é diferente e que diferente será a orçamentação.
 
 Mas nem em tudo as coisas serão liminarmente diferentes, porque nós aqui em Portugal também contamos com um Governo Federal (a União Europeia) e para o que me interessa desenvolver neste plano as minhas análises e ilações  têm todas as condições para serem explicadas e desenvolvidas.
 
O Brasil não deixa de me surpreender e embora tenha tido sempre bastante ligação com o Brasil, não só por razões históricas, não conhecia e continuo a não conhecer as particularidades deste grande país.
 
Mas o ser humano é «grosso modo» igual em todo o Mundo e uma aldrabice dita em português de raiz e feita em Portugal e uma aldrabice dita em português do Brasil (ou brasileiro como se entender mais próprio) e feita no Brasil não deixa, para todos os efeitos, de ser uma aldrabice apenas variando a sua posição geográfica.
 
Indo à questão e analisando com os meios disponíveis a Programação Cultural para 2009 no Estado de S. Paulo verifiquei que nem uma santa alminha nesse país irmão se lembrou de ir ver o Orçamento do Estado de S. Paulo para tentar pelo menos saber qual o volume e o impacto da anunciada e bastante difundida Programação dentro de tal orçamentação. Se por acaso alguém o fez (não quero os direitos de autor como é claro) isso não apareceu nem nos órgãos de comunicação nem nesse imenso universo blogueiro que segue a par e passo o andamento do mundo.
 
Universos esses que, relacionados com a Cultura, têm em princípio alguma massa crítica em stock. Nada! Nada encontrei e não foi por falta de esforço e nem por falta de tempo. Entre a data do anúncio e hoje vão quase dois meses = 60 dias = 60 edições. Pois bem, o Orçamento do Estado de S. Paulo destina para o sector cultura em 2009 a bonita soma de 743,7 milhões de Reais; se formos a comparações com outros sectores  orçamentados pelo Estado SP. veremos que não é assim tão bonita, mas não é esse o meu objectivo nem o meu espaço neste jornal.

Ora, e com algum esforço, consegue-se «apanhar» nesta programação cultural para 2009 do Estado de S. Paulo mais de 10% e menos de 20% dessa verba orçamentada. O Proac (Plano de Acção Cultural) que se distribui entre os agentes culturais e cuja descrição se junta foi «instituído pela Lei nº 12.268 de 20/2/06, tem por objetivo apoiar e patrocinar a renovação, o intercâmbio e a divulgação da produção artística do Estado, bem como preservar e difundir o seu patrimônio cultural material e imaterial. Em 2008, o Programa de Ação Cultural lançou 25 editais de apoio a projetos culturais no Estado de São Paulo, totalizando um investimento de R$18 milhões de reais no setor.
 
Também em 2008, o Programa de Ação Cultural recebeu centenas de projetos para o patrocínio dos contribuintes do ICMS – Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Sobre Prestação de Serviços de Transportes Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação. Foram aprovados 252 projetos, e liberados R$ 50 milhões para a captação, em áreas como Dança, Museu, Circo, Eventos Carnavalescos, Rádio e TV e Patrimônio Histórico.»
 
Ou seja, o Proac gasta 20  (29%) milhões em editais e dá 50 (71%) milhões aos respondentes aos tais de editais de 10% do Orçamento do Estado para a Cultura e abarca sob a sua capa tudo aquilo que se pode ler acima, desde o património físico ao não físico. Só como exemplo em 2008 este programa de verbas mais ou menos semelhantes «deu» a excelente soma de 4 milhões de Reais para a a produção de 4 telefilmes e premiação de 10 roteiros de filme para TV. E aparentemente toda a gente ficou satisfeita com os 0,72 % do «bolo» global de cerca de 550 milhões de Reais no ano. É preocupante...
 
Para mim é preocupante, embora se possa dizer que não tenho nada a ver com isso. E é preocupante porque não estamos a falar de gente analfabeta onde tudo aquilo que viesse à rede era bom peixe. Estamos a falar de entidades, instituições, pessoas que trabalham com a CULTURA. Que têm a obrigação de ser CULTOS. Têm a obrigação de ver as coisas, de questionar.
 
Quando se perde ou não se usa a faculdade de questionar o ser humano perde um pouco da sua essência.

Daniel Teixeira

Publicado pela primeira vez no Jornal Raizonline nº 9 de Fevereiro de 2009

 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A migração no concelho de Alcoutim

 
 
A migração no concelho de Alcoutim

Daniel Teixeira
 
 
Na região de Alcoutim, mais concretamente em Alcaria Alta, num Monte da Freguesia de Giões, todos os anos passava pelo menos um mês das largas férias que então a Escola Primária e depois a Escola Secundária proporcionavam, e isto enquanto não comecei a trabalhar.
 
A agricultura da qual viviam os meus avós, melhor ou pior, era então vista em certas regiões como sendo «a arte de empobrecer alegremente» o que de facto acontecia com eles, por razões também externas ao próprio facto agrícola mas de alguma forma com ele relacionados em termos estruturais.
 
As migrações eram quase uma opção de evidência comparativa e durante os primeiros anos da minha infância passaram por minha casa (a minha mãe tinha sido das primeiras a migrar) talvez duas ou três dezenas de pessoas, todas fazendo parte daquele conceito de família alargada que já não se usa. Mesmo quando havia necessidade de recorrer ao Hospital de Faro (agora Misericórdia) era a minha casa que essas pessoas iam bater o que acontecia quase naturalmente.

Como vivíamos numa casa composta por várias casas agregadas, um quintal enorme rodeado de casas que se tornavam habitáveis, mantiveram-se por lá algum tempo primos, primas e mais os eventuais que cobriam o seu tempo enquanto não arranjavam trabalho e habitação que se lhes ajustasse. Ora estas migrações tinham sangrado o ambiente rural, extremamente pobre em termos de produtividade e com uma falta de entusiasmo e iniciativa desoladora.
 
Lembro-me que sempre achei estranho e que referi várias vezes, mesmo criança e posteriormente jovem, que não compreendia porque é que as pessoas todas no monte não aproveitavam a água que escorria dos telhados durante as abundantes chuvadas de Inverno através da colocação de algerozes e bidões (não havia naquele tempo, de plástico) ou outras vasilhas (em barro eram abundantes e com tamanhos e formatos muito diversos).

Tínhamos (eu e meus irmãos) de alguma forma de «pagar» a nossa estadia e aligeirar um pouco a tarefa dos ainda não muito velhotes pelo que colaborávamos nas tarefas de agricultura na medida das nossas possibilidades e saber e idade.
 
A organização familiar, em termos económicos, respondia às necessidades e constrangimentos do tempo, segundo aquele velho princípio que se aponta à vida campesina: comida não falta, dinheiro é que não há. Lembro-me do meu avô se revoltar quando recebia o talão de pagamento do Imposto anual: 14$00 o que eu achava uma ninharia (meu pai ganhava na altura sensivelmente 400$00 por mês).
 
Minha avó, vinda de uma família remediada casara com o meu avô igualmente vindo de uma família remediada, mas sendo ambos de famílias numerosas o que lhes coubera como herança eram dois remedeios médios / reduzidos. Por opção acabaram por vir viver para a terra da minha avó que era simultaneamente o monte onde a maior parte da propriedade estava situada e onde o meu avô comprou casa (mil escudos ou dez notas) estando o restante da propriedade comum na terra (local de naturalidade) do meu avô situado a cerca de duas a três horas de marcha a pé, ainda que montados, no meu tempo já em burros.
 
As deslocações ao seu Monte, Mesquita (Freguesia de Vaqueiros), muito episódicas, processavam-se apenas em período de recolha dos frutos de algumas árvores, estando o resto do solo (que não era muito) sem tratamento ou cultivo. A nossa deslocação era feita praticamente a voo de pássaro (vol d’oiseau), se não tivéssemos de ter em conta os desvios que era necessário fazer para seguir os terrenos menos acidentados através de um caminho talhado a passo de pessoas e de bestas.
 
Quando referi acima que íamos (quando íamos) montados em burros é para esclarecer que quando mais jovem o meu avô (e a minha avó) tinham possuído uma égua, uma parelha de muares (mulas), duas vacas e um pequeno rebanho de ovelhas e algumas cabras. No meu tempo estavam reduzidos neste plano do gado a dois burros…
 
O facto de só terem tido filhas sobreviventes não deixa de ter aqui a sua importância: minha avó teve sete filhos três dos quais faleceram praticamente à nascença e morreu-lhes uma filha já com cerca de 20 anos.
 
Assim e como apanhado geral destas linhas temos que em termos de migração o pólo de atração, pelo menos final, parece ter sido Faro sendo que as causas da mesma se devem neste caso ao facto dos meus avós maternos não terem tido quem desse continuidade ao seu cultivo por não terem tido filhos do género masculino.
 
É claro que as filhas poderiam ter casado lá, na sua terra, substituindo assim essa necessidade, mas por aquilo que entendo as condições de futuro já eram fracas e a produção da propriedade detida insuficiente. Aliás essa migração já se desenhava havia anos através das expedições temporárias do meu avô e da minha avó e filhas: o meu avô trabalhou na construção dos caminhos-de-ferro (linha do Sul) e na construção da estrada que liga actualmente (ainda que renovada) Castro Marim a Alcoutim. A minha avó e as suas filhas, entre as quais ainda a minha mãe, faziam deslocações em tempo de ceifa ao Alentejo.
 
Acrescentou ainda o meu avô alguma actividade (na altura relativamente inocente) de contrabandista com Espanha – ovos, queijo e outros produtos alimentares – e uma outra de comerciante no sistema de trocas de utensílios de barro (feitos em Martinlongo) por outros produtos, muito nomeadamente figos secos vindos da Serra de Tavira.
 
Ora e tentando resumir o retrato parece-me evidente que o cultivo na serra algarvia não era de muita rentabilidade e que se tratava sobretudo de uma agricultura de sobrevivência a roçar já os limites mínimos: batatas, couves, tomate, feijão, etc. (entre os irrigáveis), trigo, centeio, cevada, tremoço (entre o sequeiro).
 
A falta de água era um handicap notável, e embora chovesse em abundância no Outono e no Inverno os lençóis freáticos não se abasteciam o suficiente e a água na sua grande parte, circulando em terrenos argilosos, era encaminhada para a Ribeira da Foupana, afluente na Ribeira de Odeleite e esta por sua vez afluente no Rio Guadiana.
 
A Ribeira da Foupana por sua vez tinha um caudal largo e tumultuoso e surpreendente – quer dizer, não era de confiança a vista de um caudal tranquilo uma vez que ela descia toda a Serra desde o planalto de Martinlongo cerca de 15 a 20 kms de curso – o que a tornava inultrapassável no Inverno mas ficava quase totalmente seca no Verão com excepção de alguns pegos onde se ia pescar (à lapa, quer dizer metendo as mãos nos buracos onde os peixes – e cobras – se aninhavam).
 
Em quase toda esta região foram plantados eucaliptos e pinheiros mas não tenho notícia que isso tenha alterado a forma de vida das pessoas na região residentes: os meus tios e tias avós continuaram a viver da mesma forma – mal – com uma situação adocicada pelas reformas da Segurança Social (antes Casa do Povo) e com dinheiros dos regressos da emigração de alguns.

Havia duas famílias «ricas» em Alcaria Alta, quer dizer, com maior posse de terra: um descendente de uma dessas famílias ainda procurou lutar um pouco contra a maré, comprou um tractor e outras alfaias mecanizadas, tinha um pequeno camião para transporte de gado e durante uns anos ainda tentou lutar contra a maré (talvez porque tivesse mais a perder perante o colapso) mas mesmo com o influxo da emigração regressada que de alguma forma veio trazer um maior manuseio financeiro e algum consumo à região isto de pouco terá servido.
 
A Associação In – Loco, que tive oportunidade de consultar e entrevistar na pessoa da sua então Directora Executiva (agora Prof. Doutora Alice Newton), co – Fundadora da Associação conjuntamente com o Dr. Alberto Melo, (pela últimas informações que obtive Director do Gabinete do Programa Sócrates da Universidade do Algarve) isto no princípio dos anos 90 de Sec. XX, tinha como perspectiva ajudar à fixação no local das populações residentes mas tinha a meu ver projectos utópicos; na altura estava a tentar resolver o problema da tradicional matança do porco através da compra de um atrelado matadouro que se deslocaria, segundo ela, na altura própria pelas aldeias e montes fornecendo condições higiénicas e seguras suportadas por Veterinários para que a mesma não fosse considerada, como era já na altura de «abate ilegal».
 
Ora o tal de atrelado, sem contar com o pessoal que lhe ficaria adstrito e a manutenção do mesmo implicavam um custo que qualquer mente mesmo contabilisticamente mal formada rejeitaria, mas estávamos nos tempos dos Programas Financiados pela C.E. e todo o sonho era possível, mesmo os impossíveis.
 
Por aquilo que conhecia já na altura as matanças de porco eram residuais, a electrificação da região levara ao consumo de outros tipos de carne e a rentabilidade da criação do tradicional porco estava relacionada com a actividade agrícola (os tremoços plantados pelo meu avô tinham como grande destinatário o porco de engorda) e não eram, estas matanças, tal como me pareceu que se pensava, um costume imbatível a qualquer custo.
 
O mesmo fenómeno, ainda que noutro campo, tinha tido lugar com a não menos tradicional cozedura do pão, em fornos conjuntos, espalhados pelas populações: assim que apareceram as primeiras reformas da S. Social e se começou a vender pão de aldeia a aldeia as pessoas, umas por impossibilidade física devido ao avanço da idade, outras porque fizeram as contas como eu.
 
Verifiquei que um pão de forno custava três vezes mais que um pão de padaria – feito com farinha subvencionada – não contando eu com a mão-de-obra que considerei voluntária. Logicamente depressa se entrou pelo lado prático da vida não se compadecendo esta com visões idílicas de um primitivismo rural que me parecia imperar nas visões citadinas mais «iluminadas».

Aliás foram feitas tentativas de criação de empresas cultivadores de chás medicinais de curta duração e todo um conjunto de iniciativas: este tipo de associações que eu conheci, por algum trabalho meritório que tenham feito sobretudo a nível da conservação e criação de atractivos monumentais, ou incentivos a arranjos paisagísticos, eram associações que eu mesmo nunca compreendi como podiam ser suportadas pelos fundos estruturais: 90% do seu pessoal era altamente qualificado (psicólogos, etnólogos, sociólogos, etc.) e, em rigor, não havia ninguém para trabalhar de uma forma acessível e interactiva com as populações.
 
Resultado disto, e utilizando as palavras de Jean Piaget «o bom professor não é aquele que ensina mas sim aquele que desperta a vontade de saber» estas operações destas associações passaram ao lado das populações até porque por natureza própria tinham de passar, na sua larga medida: as coisas não se implantam de fora para dentro, o orgulho da população rural não é pedra morta e o direito de dispor da sua propriedade a seu belo gosto (mesmo errado) não é fácil de vencer sobretudo por pessoas e soluções que não têm qualquer relação afectiva com a terra e o campo.
 
Como resumo intercalar, temos que a migração campo / cidade não é um impulso, que ela faz ensaios no tempo:

Temos o caso do meu avô e de dezenas, pelo menos, de colegas dele, que ela segue, como no caso da minha mãe, por ensaios (períodos da ceifa no Alentejo) e das pessoas que ficavam em nossa casa, e tem uma linha de familiaridade mais estreita ou mais larga, que mantém (caso das minhas férias anuais e da minha mãe e do meu pai no que se refere à região de naturalidade da minha mãe) ligações com a origem e que só progressivamente ela se concretiza, neste caso já na segunda geração, que é o meu caso.
 
Isto não é científico, como parece evidente, é uma percepção que se encontra ainda alicerçada no facto de que uma parte substancial dos emigrantes voltar às suas terras de origem, fazerem uma casa e viverem ali a sua pré-reforma ou reforma, ambição que também é comum aos migrantes; quase todos eles querem voltar às suas terras para passar a reforma (e morrerem lá, sic.). Os filhos em princípio não partilham dos mesmos ideais…
 
Estas ilações só têm interesse no sentido em que o diferencial atractivo campo/ cidade não é assim tão grande como isso o que por outras palavras também poderá dizer que os postos de trabalho ocupados no local de recepção migrante não são dos mais qualificados (e dos melhor remunerados), o que seguindo a mesma linha de raciocínio nos levaria à escolaridade e à qualificação profissional.
 
No que se refere, por outro lado, à minha ocupação no cuidado da terra, tema que não foi ainda desenvolvido, devo dizer que me limitei sempre a seguir os processos empregues no local, até porque dada a pouca idade e dadas as aberturas em termos imaginativos, foi certamente a melhor solução.
 
Reguei batateiras, couves, tomateiros, feijão verde, – na altura – algum dele era mesmo para secar – num sistema de recolha de água que me fez anos depois lembrar os ilhéus de Dobu: os poços, secos, tinham de ser descidos em escadas de pedra até ao fundo (normalmente não mais de três/quatro metros), as latas de zinco de recolha para trazer água de jeito tinham de ser deitadas na poça e esperar muitas vezes que a fonte debitasse mais água, algumas vezes escavava-se para tentar obter uma maior fundo livre para pouso do balde / lata e subia-se e descia-se as vezes que fosse necessário até obter um mínimo razoável de água por casola, doseando a mesma de forma a obter líquido para todas ou para a larga maioria.
 
Para o efeito os tempos de pousio aquífero eram espontaneamente calculados de acordo com as necessidades de rega das plantas e o volume de débito do poço e era também calculado o tipo e diversidade de plantas a semear por unidade (horta). Por isso encontravam-se batatas, couves, feijão, por exemplo, em várias unidades de cultivo, doseadas espontaneamente de acordo com o potencial de água disponível, quando a lógica mandaria que em cada horta se plantasse uma só espécie preferencialmente.
 
A falta de água levava a uma organização dos poços comunais também (três, ao todo) servindo apenas um para dar de beber às bestas. Já muitos anos depois foi conseguida uma bomba de roda num dos poços e só poucos anos atrás foi de facto conseguida a alimentação de água de forma eficiente para o monte, através da reperfuração de alguns dos poços já existentes, e isto numa altura em que os habitantes do monte na sua larga parte nem sequer tem condições físicas para se deslocar a esses mesmos poços (a pessoa mais nova naquele monte tinha na última vez que fiz as contas cerca de 70 anos).
 
Por mais de uma vez assisti a tentativas de obter maior fluxo de água aprofundando à sorte através de paus de dinamite. Um senhor, o famoso Ti Zé Pereira, que foi dado como quase morto num hospital de Lisboa e que regressou a casa alegadamente para morrer com a família recuperou extraordinariamente e tornou-se no maior inventor do monte de Alcaria Alta, mas tinha um problema de raciocínio: primeiro fazia o projecto de colheita e rega exterior e depois é que tentava encontrar a água, tão confiante que estava que o poço original (quase seco) tinha potencial certo.
 
Era assim interessante vê-lo ano após ano a bombardear o fundo do poço, que deitava todos os anos um bocadinho mais, é um facto, mas não atingia o volume por ele desejado.
As batatas plantadas não eram batatas semente, assim como o resto: não havia dinheiro nem se justificava tal, pelo que eram escolhidas as sementes entre aqueles legumes que maior volume ou aspecto apresentavam à colheita.
 
Era sem dúvida uma agricultura biológica, toda estrumada, com excepção das colheitas de cereais, em que um dos lavradores ricos comprava o guano (nitrato do Chile, na altura, que também é estrume ainda que tratado e concentrado) e depois revendia às sacas. O ciclo do azoto era assim quase naturalmente obtido por força das próprias condições e hábitos envolventes.
 
A compostagem de resíduos orgânicos não se fazia porque em grande parte aquele pessoal utilizava os mesmos métodos de cultivo que os seus país e os seus avós devido a razões evidentes: os jovens não se interessavam pela agricultura (antes eram incentivados a escolher outras profissões e a partir) e a idade média do agricultor habitual não pressionava no sentido de haver modernização de métodos ou processos agrícolas. Por outro lado o volume de resíduos orgânicos era relativamente baixo: os talos das couves por exemplo eram picados para porcos e galinhas e havia a alternativa concentração de estevas apanhadas em monte que serviam em parte para o aquecimento das casas, para o forno (neste caso normalmente também loendro da ribeira) e para cozinha sendo o excedente (bastante) queimado em queimadas cujas cinzas depois se espalhavam pelos campos de sequeiro. O estrume era o mais utilizado (sendo mesmo abundante e ficando de ano para ano).
 
Não sei até que ponto a PAC (Política Agrícola Comum) terá contribuído para a desertificação e migrações mas não me parece por aquilo que sei, por experiência própria, que ela se tenha feito sentir de uma forma positiva directa junto das populações envolvidas. Todo o Concelho de Alcoutim (o mais envelhecido do País) sofreu uma razia monumental e nos últimos anos / décadas nada que tenha sido feito tem produzido o sentido inverso.
 
Em jeito de remate durante a feitura deste esboço tive acesso a estudos comparativos sobre a divisão da terra nas semelhantes zonas fronteiriças de Portugal e Espanha tendo verificado que tanto no que se refere à dimensão da propriedade, ao número de cabeças de gado e à dimensão dos núcleos semi-urbanos e urbanos as diferenças são quase abissais, pelo que a excessiva divisão da terra existente deste lado de cá da fronteira são pelo menos a causa predominante que de nossa lavra podemos apontar.
 
Fevereiro de 2010