segunda-feira, 5 de novembro de 2012

COLUNA UM - A interdependência em tempo de crise.

 
 
COLUNA UM
 
A interdependência em tempo de crise.
 
 
Quem ouve falar em conjugação de esforços, em união em torno de objectivos comuns, em partilha, tem uma tendência quase paradoxal para ver as coisas por um único prisma, (o da vantagem) dividido contudo este entre o tal ser social- associal humano referido por Kant (e não só) e a ponderação disso com as vantagens que venham a compensar (muito bem, bem ou razoavelmente) aquilo que possa parecer uma marginal invasão na associabilidade kantiana atrás referida.
 
Não vamos fazer aqui um texto antropo- filosófico sobre a matéria, mas buscando dentro de nós mesmos e sem grande esforço, despidos que estejamos da condicionante supervisão social, encontramos nas nossas rotinas pessoais mantidas ou quebradas um pouco disto tudo : estamos a fim de passar uma noitada em frente ao ecrã com uma mão cheia de filmes para escolha, todos eles interessantes e alguém nos telefona para irmos a tal sítio, onde eventualmente se vai passar algo que nunca nos teria entrado no programa dessa mesma noite.
 
Por si o acontecimento não tem relevância para nós, pelo menos como opção próxima, mas quem nos telefona é «fulano» ou «beltrana»: por reverência por esses aqui anónimos convidantes somos colocados perante hipóteses que analisamos desde logo: pode dizer-se um rotundo não (?), arranjaremos uma desculpa razoável e credível para dizer «não» ou perante o peso do convite temos de afastar desde logo essas possibilidades denegatórias !?
 
Bem...não quero estender-me muito pelo que o que interessa aqui é direccionar o discurso para o plano em que temos de pesar (ponderar) as coisas e saber quais os argumentos ou factos que consideramos válidos para tomar uma posição ou outra (neste caso responder ou não positivamente à chamada que nos foi feita por alguém linhas atrás).
 
Resumindo fazemos sempre uma ponderação custo - benefício e, em termos abstractos estamos sempre a fazer um «negócio» ou a negociar seja connosco mesmos seja com o outro (a). O nosso objectivo não é sempre o de ganhar, naquele sentido de fazer mais - valia, mas de qualquer forma tentamos sempre não ficar a perder: ou seja, pelo menos queremos que seja feita uma tal de justiça interior em que as coisas fiquem a «valer» para nós tanto como valiam ou que noutros casos diferidos venha a ser mais tarde compensado esse tal de prejuízo imediato.
 
As uniões, federações, mercados comuns são, em rigor, despidas da sacramental envolvência ideológica, a mesma coisa. Podemos estar a perder hoje mas mantemos sempre em stock a possibilidade de recuperação. Inversamente estamos a ganhar hoje mas mantemos sempre em stock a possibilidade de restituição.
 
O problema coloca-se feio, mesmo muito feio, é quando as necessidades de recuperação se tornam prementes por razões da mais diversa ordem e por formas das mais diversas. Esgotada que esteja a possibilidade de diferir por mais tempo uma dada concessão antes acordada, salta-se em cima do alegado devedor (a «factura» até pode não estar vencida) e quando se trata de sociedades no seu todo ou em larga parte as coisas têm o seu quê de assustador.
 
Nada assusta mais aqueles que têm do que a revolta daqueles que nada têm embora o problema neste momento se torne complicado porque em princípio ninguém tem e todos não têm. Apenas há os que não têm um pouco menos do que aqueles que não têm mesmo nada. Não gostaria de ser muito pessimista (continuo a guardar uma extraordinária confiança no engenho humano) mas os tempos estão mesmo maus.
 
Os indicadores do desemprego são essa tal ameaça ou antecâmara latente da revolta, o incremento da criminalidade (que com pudor se desligou sempre da situação económica envolvente) é um sinal pouco tranquilizador também, enfim...
 
Mas o nosso mundo virtual, talvez o único refúgio tranquilo, é realmente uma máquina: vejam lá se cabe na cabeça de alguém aceitar que o gordo Ronaldo tenha feito uma noitada e chegado atrasado ao treino e se há alguma razão palpável nas nossas mentes para que a Ditinha se tenha separado do Fábio ou mesmo que o Cristiano Ronaldo esteja outra vez a ser assediado pelo Real Madrid.
 
Qual quê!? Crise só no mundo real!!
 
Daniel Teixeira  
 

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