segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Crónicas e ficções soltas - Por Daniel Teixeira - O CERRO DO LAGARTO DE ALCARIA ALTA E O CERRO DO «NARIZ DEL DIABLO» NO PERU

 
 
Crónicas e ficções soltas - Por Daniel Teixeira - O CERRO DO LAGARTO DE ALCARIA ALTA E O CERRO DO «NARIZ DEL DIABLO» NO PERU

O cerro do lagarto, em Alcaria Alta, é uma lenda da qual eu não me lembro de ter ouvido falar dela por outras pessoas senão pela minha mãe que me disse tê-la ouvido contar pelo meu avô. Contava-me ela que algures, numas terras, todas elas com pequenas e maiores elevações, os chamados cerros, havia uma grande pedra com um lagarto esculpido em ouro embutido que só uma pessoa tinha visto uma vez. Dizia ela tratar-se de um local conhecido como sendo o «cerro do lagarto» mas que ninguém sabia qual cerro era.

Essa pessoa, à hora do pôr do sol, teria visto um brilho grande vindo do solo e aproximando-se teria visto então o lagarto em ouro. Teria tentado arrancar o ouro sem o conseguir e não podendo trazer consigo a pedra dadas as suas dimensões e peso tinha marcado o local onde ela estava e ficara de regressar no dia seguinte munido das ferramentas necessárias para recolher o lagarto de ouro partindo a pedra. Por mais que procurasse a pedra no dia seguinte e nos seguintes não a encontrou.

Ao que consta na lenda o homem terá ficado de tal forma transtornado e obcecado que mesmo ali montou uma pequena habitação como os pastores costumam fazer com pedras empilhadas e estevas cruzadas regadas com argila em líquido a fazer de tecto e ali terá ficado buscando nas redondezas e cada vez mais longe durante anos até que a morte o levou passados muitos anos.
 
Quem o viu durante esse tempo de vida não conseguiu nunca chegar-lhe à fala porque ele fugia e escondia-se nos inúmeros barrancos que por ali haviam. Reparavam essas mesmas pessoas que ele transportava sempre consigo uma roupa em estilo de albornoz pendendo do ombro com um peso que todos achavam serem pedras. Quando se deu por certo o seu falecimento quem lá foi buscar o corpo, passados muitos dias, verificou que ele tinha a sua pequena casa e abrigo repleto de bocados de xisto, a pedra predominante naquelas paragens, todas elas partidas em pequenos bocados e algumas quase em pó.

Ora esta história foi-me de facto contada pela minha mãe: parece-me evidente tratar-se de uma lenda e o meu avô era um bom contador de histórias. Contudo de reparar que friso o seguinte: contar histórias para ele não era propriamente contar mentiras. Ele contava o que lhe constava e que lhe contavam e praticamente percorreu todo o sul do país quer em trabalho quer nos seus negócios pelo que muito terá ouvido e muito terá guardado.

A minha memória sobre este tal de cerro do lagarto esteve adormecida durante bastantes anos mas não pude deixar de a relacionar com uma outra lenda que me apareceu relatada na Net com localização no Peru (América Latina, a milhares de quilómetros de Alcaria Alta) e que tem igualmente a sua génese num cerro, o Cerro do Nariz do Diabo e que conta assim.
 
Para o Cerro do Nariz do Diabo existe uma lenda Peruana referindo o Lagarto segundo a qual uma cultura pré-inca terá habitado o território do Nariz do Diabo assim conhecido por ser encimado por um cerro (uma pequena montanha) que se destaca das outras pelo facto de ter dois orifícios no seu rochedo xistoso semelhantes a duas fossas nasais.

Essa mesma cultura pré-inca considerava os lagartos, abundantes nas proximidades do Rio Chira (um importante Rio em Sullana), como divindades pelo que confeccionaram com ouro uma imagem de um Lagarto que veneravam como um deus.

É provável que os «marcaveles», os habitantes desses locais, ao terem conhecimento da chegada das hordas de Pizarro, cobiçando o ouro e a prata, tenham enterrado o sagrado «lagarto de ouro» nas entranhas de este misterioso e legendário Cerro (do Nariz do Diabo). Dizem que o local era um cemitério e que em alguns dia do ano têm lugar visitas aos jazigos existentes. Há alguns anos às quintas feiras santas homenageavam-se os falecidos do local.
A lenda do lagarto de ouro

Neste cerro aparece um pequeno Lagarto de Ouro que dorme nas margens do rio e que sai sempre ao alvorecer encantando os que deambulam por ali com o seu brilho e adormece-os e leva-os para dentro do cerro do qual não voltam a sair nunca mais.

No mês de Abril na semana santa os marcavelenses rezavam a seguir ao meio dia e acabavam antes da meia noite pedindo que o lagarto nunca lhes aparecesse.
 
Um dia chegaram à hospedaria local uns jornalistas que tinham ouvido falar das diversas versões desta lenda do lagarto e pediram que lhes fosse contada a lenda e a pessoa que a contou preveniu-os desta faceta do lagarto de encantar as pessoas e de levá-las para o interior do cerro não saindo elas mais de lá. Quiseram no entanto saber se era apenas uma lenda ou se havia algum fundo de verdade nesta lenda.
 
No dia seguinte levantaram-se de madrugada e foram com o guia até ao inicio do cerro. O guia, com temor de ir mais à frente, sentou-se em frente ao cerro e via como eles riam enquanto esperavam e um deles entretanto resolveu tirar uma fotografia ao cerro pelo que desceu até ao seu sopé.

Quando voltou para junto dos seus amigos viu que o lagarto de ouro tinha aparecido e como eles começaram a seguir o lagarto deslumbrados com o brilho do ouro. Quanto mais entravam nos caminhos do cerro o lagarto ia deixando como rasto bocados de ouro até desaparecer da sua vista.

Este jornalista fugiu daquele cerro assustado enquanto se ouviam gritos espantosos. Os seus colegas nunca mais apareceram.

Quem conta esta lenda do Lagarto do Cerro do Diabo, sempre um velho, muito velho mesmo, mas bem rijo ainda nos movimentos acrescenta sempre no final a pergunta: querem ir visitar o Cerro para ver se encontram o Lagarto de Ouro? Eu levo-os...mas só vou até ao sopé do Monte...Há quem tenha visto nos olhos do velho indígena quando o sol lhe ilumina a face um brilho intenso como se fosse o brilho do ouro.

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