segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Coluna Um - Os períodos eleitorais - Por Daniel Teixeira

 
 
Coluna Um - Os períodos eleitorais - Por Daniel Teixeira
 
Os períodos eleitorais são para mim um verdadeiro paradoxo quando atingem aquela febre que já se vai tornando habitual nas suas pontas finais. Penso, por aquilo que leio e ouço que o fenómeno é geral, que existe em todos os países, mas não deixa de ser curioso que o processo tenha sido adoptado nos mais diversos quadrantes, também um pouco resultado do facto das campanhas terem períodos determinados no tempo, com princípio, meio e fim.
 
É no fim, quer dizer nos últimos meses antes das ditas eleições e nos últimos dias antes da sua realização que os ânimos aquecem, quer por necessidade de dar resposta aos chamados adversários ou por iniciativa própria que os diversos intervenientes no jogo ajustam o vocabulário, aumentam o volume da sua voz e utilizam os meios que julgam necessários para conquistar pontos aos adversários, baseados em análises resultantes de sondagens, em criteriosos estudos que dividem o eleitorado em faixas etárias, faixas de género, faixas de condição económica, faixas de intenção de voto, de utilidades de voto, enfim, a terminologia daria para encher pelo menos algumas páginas.
 
Faz-me sempre lembrar os jogos de futebol em que uma equipa, que em 90 minutos de jogo não consegue meter um golo na baliza adversária, protesta, pede cartão amarelo, reclama contra as lesões dos adversários que por princípio são sempre fingidas. nesta perspectiva, nos minutos finais e em que o outro, o adversário, aproveita o tempo para fazer as substituições que não fez porque não achou necessário mas que agora já acha que são necessárias ao cair do pano, faz uma falta ou outra desnecessária, enfim, empatam-se as coisas na perspectiva de um e aceleram-se as coisas nesses tais minutos finais na perspectiva de outros.
 
Um governo, ou qualquer órgão institucional eleito tem pelo menos 4 anos para mostrar aquilo que vale e se vale alguma coisa, as oposições têm também 4 anos pelo menos para mostrar aquilo que acham que o outro não vale, mas tudo se resume (dizer resumir é excessivo) aos tais minutos finais (que podem ser duas semanas, dois meses).
 
O matraquear ou metralhar do pobre eleitor é um verdadeiro abuso e tudo se conjuga para que as ideias mais ou menos guardadas durante os tais de 4 anos (ex.) sofram uma reviravolta ou se mantenham sem reviravolta, consoante os interesses e os intervenientes. «Descobrem-se» nestes períodos os mais diversos escândalos, sejam eles financeiros sejam eles políticos ou mesmo de outras índoles e no final, quer dizer, no dia das eleições, no dia do depósito efectivo do cartãozinho na urna, pelo menos uma percentagem razoável dos eleitores vota. não com a consciência, mas com a percepção algo abstracta de que o seu voto vai no caminho certo ou é «dado» a quem de facto o merece.
 
Já se tem assistido a verdadeiras reviravoltas no último minuto, como aconteceu na primeira eleição de Zapatero em Espanha, em que o elemento despoletador da reviravolta foi um trágico ataque terrorista e já aconteceu o inverso em França em que os distúrbios nos bairros periféricos de Paris acabaram por contribuir para eleição do então Ministro do Interior, agora Presidente Sarkosy.

Afinal será que o eleitorado anda mesmo às aranhas ou que não sabe analisar os comportamentos a longo ou a médio prazo e formar opinião ou será que tem a opinião tão frágil que um único acontecimento faz virar a balança do seu pensamento, que os últimos minutos são determinantes para a formação e consolidação dessa mesma opinião, ou será simplesmente, o mais provável na minha opinião, que o eleitorado, de uma forma geral, precisa que lhe digam mesmo de uma forma explícita em quem deve votar?

O facto de se fazerem grandes obras, de se inaugurarem outras grandes ou pequenas, até por várias vezes como já tem acontecido, terá de ser assim tão determinante para a formação de uma opinião de voto?

Afinal o resultado do voto, até que as coisas mudem, o que não convém absolutamente nada diga-se (incomoda-me verdadeiramente os países que andam em eleições quase mensais) o resultado desse voto não é para durar os tais exemplares 4 anos e não deveria ser estudado durante os anteriores 4 anos todos e não nos últimos 4 minutos da partida?

É dificil pensar em termos de estabilidade para se fazer alguma coisa quando, por exemplo em Portugal se sabe que os Presidentes da República são eleitos por um mais um mandatos, que os governos andam sempre vai não vai sem saber se ficam se vão embora, se as Câmaras Municipais, depois de atravessado um período de longas (e quase eternas) repetições eleitorais, têm ultimamente mudado globalmente a um ritmo acelerado, que as administrações dos Institutos Públicos mudam de acordo com a camisola governamental eleita, que existem milhares de cargos de nomeação que caem ou não caem depois das eleições e que, como se tudo isto não bastasse ainda se dá os tradicionais 100 dias de período de habituação aos lugares a este pessoal todo fora as alterações pontuais que se vão fazendo periodicamente.

Temos depois a também tradicional distribuição dos jobs for the boys que leva eternidades a assentar, que roda e volta a rodar consoante a adaptação de a, b, ou c para o lugar para onde foi nomeado.

Enfim é um rol quase interminável que leva a esta sensação de inconstância, de fragilidade estrutural, de trabalho de cada um por si (e para si) que os eleitores portugueses vão sufragar neste ano que corre muitos deles instavelmente durante os últimos minutos do jogo.

O Churchil dizia que a democracia era o pior dos sistemas políticos excluindo todos os outros: agora que só localizadamente existem outros sistemas talvez seja bom aperfeiçoar esta mesma coisa porque assim é mesmo desesperante.
 
 

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