quinta-feira, 8 de novembro de 2012

COLUNA UM - Porque CPLP e não CPLL?

 
 
COLUNA UM -  Porque CPLP e não CPLL?
 
 Há bastante tempo que tenho notado a insistência quase inocente em «transformar» os povos de língua portuguesa em povos de língua lusa: na verdade fala-se de lusofonia, de comunidade de países lusófonos, de diáspora lusófona, etc. e aplica-se tudo isso a qualquer ser falante ou coisa que mexa que fale ou tenha nela escrita uma palavra em português.
 
Ora uma coisa e outra não são bem a mesma coisa: falar-se português não é falar-se luso embora se fale a língua que os lusos (hipoteticamente existentes) falam e para estes tal seja indiferente.
 
A lusitanidade é (?) uma cultura, uma forma de ver as coisas, embora em tempos se tenha também achado por bem procurar-se uma raça (agora diz-se etnia) tipicamente lusa.
Fizeram-se escavações de rebentar picaretas, com ilustres etnólogos - antropólogos - arqueólogos (agrupa-dos no termo filósofo) de cigarrilha na boca e bules de chá ou garrafas de típica vinhaça luso - portuense, escreveram-se toneladas de folhas (eu próprio caí na asneira de andar a tirar fotocópias quase ao quilo) para se chegar à conclusão que é excelente ter-se dinheiro para andar a perder tempo e que as sociedades ilustradas não são forçosamente ilustres na economia.
 
Ora a lusitanidade cada vez que se ergue, como princípio, tem sempre grande dificuldade em manter-se numa perspectiva não imperialista e a tendência à confusão entre os conceitos tradicionais de esquerda e direita esbatem-se de tal forma que um lusitano de esquerda ou democrático encontra sempre grande apoio num lusitano não democrático e de direita, extrema na maior parte dos casos, ainda que adocicada pelos laivos da inocente nobreza populista.

Por aqui e por ali andam uns senhores, que sempre andaram ao fim e ao cabo - isto é como as carraças - a apregoar agora que o famoso quinto império «português» é o império da língua: assim, nada mais bonito que ser-se lusófono, participar nos eventos solidários ou não com os povos que falam português e um belo dia ou todos os dias (até é fácil) deitarem-se à sombra da imaginária bananeira do seu contentamento e da sua satisfação por verem o seu «império» realizado ou a realizar-se.
 
A coisa chega a parecer ridícula (e é !) quando dentro destas linhas de pensamento aparecem pessoas (a psiquiatria é uma arte muito mal servida em termos de cuidados primários) a sugerir que seja concedida a nacionalidade portuguesa a todas as pessoas que o peçam desde 1.500 (é D.C. e não A.C. para minha e sua maior tranquilidade) desde que demonstrem por «a» ou «b» que descendem de descendentes de qualquer forma existentes nos países (antigas postos ou possessões ultramarinas) onde os portugueses tenham estado.
 
Dá-se inclusivamente o exemplo da India, em que tudo o que for miscenizado tem grandes hipóteses de ser português de quinta ou sexta ou vigésima geração, pois que o portugueses foram os primeiros brancos a lá chegar e que logo, todo aquele que não tiver as características tipicamente locais tem grandes hipóteses de ter sido fecundado pelos «lusos». Nem é preciso jogar a moeda ao ar.
 
Seja, para mim tanto se me dá - como a situação está e com o país que é Portugal não vai haver muitos interessados - e não me importo absolutamente nada, nesta era da globalização, de ser compatriota de um parente de alguém que ninguém sabe quem foi que tenha batido terras do Oriente, de Africa ou das Américas (a Austrália parece que está safa!).
 
Mas um pouco de tento e um pouco de realismo nunca fizeram mal a ninguém: um país onde uma larga maioria da população não tem onde cair morta e até os «sete palmos de terra e o caixão» se vendem a prestações, escusa de se estar a cantar de galo como se fosse um grande favor que fizesse ao mundo conceder-lhe a «benesse» do selo e do carimbo branco.
 
Por isso, e sem estar a dar novidade nenhuma, povos que falam português, fujam destes «lusos» ...
 
Daniel Teixeira
 

 

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