quarta-feira, 12 de junho de 2013

Os 10 de Junho: Dias dos sonhos não cumpridos

 
Os 10 de Junho: Dias dos sonhos não cumpridos
 
Um sonho é um sonho, quer dizer, é mesmo um sonho, aquela coisa que nós pensamos e não pensamos enquanto dormimos e não dormimos. Um sonho é isso. Pelo sonho é que vamos desejando e pela realidade é que vamos sabendo que aquela realidade desejada foi toda ela só e apenas sonho e que nem sequer uma nesga, uma nesguinha, daquilo que se desejou enquanto se sonhava, daquele castelo que se construiu enquanto dormindo ou não pensámos, nem uma pedrinha desse desejado castelos temos na nossa mão ao acordar.
 
Triste, muito triste, é extremamente frustrante  o sonho não cumprido: funciona assim como o suplício de Tântalo; tanto sonhámos, tanto desejámos, tão perto estivemos e quando vamos agarrar numa pequenina parte desse nosso sonho ele desaparece, simplesmente, esvai-se como a água de Tântalo, ou regressa ao fundo da encosta como a pedra de Sísifo.
 
Claro que ninguém nos «manda» sonhar com impossíveis e normalmente apenas se sonha com coisas impossíveis, deseja-se aquilo que se não tem e nem se pode ter. A maior parte das vezes, pelo menos. Um sonho para valer como sonho pensa logo em grande, não se detém naquelas coisinhas que estão ao acesso ou próximas  do real, quer dizer, não se sonha com aquilo que se pode ter, mesmo hipoteticamente.
 
«O meu sonho sempre foi ter um carro destes!» pode o mais elementar «sonhador» afirmar como sendo um sonho cumprido, mas é claro que isso é uma auto-aldrabice- pública. O que ele sempre sonhou foi ter uma frota de carros de alta cilindrada, trocar de carro como quem troca de camisa, um para as primeiras horas da manhã e outro até ao meio dia e levar o resto do dia nesta giga joga. Quando se sonha sonha-se em grande ou sempre em «maior» do que os alegados sonhos cumpridos.
 
Claro que faz falta sonhar, desejar o impossível e obter aquela fatia de possível que o destino nos vai fornecendo a conta gotas. Ao fim de um tempo e se olharmos para trás, com olhos de ver, veremos que aquele sonho que tínhamos há vinte anos atrás afinal está completo, ou pelo menos em parte está a preencher-se...por vezes pena é que a esperança de vida não aumente até aos 500 anos para podermos assim reparar que aquele fatia de sonho que tivemos até aos cem anos está quase, quase a cumprir-se...falta só um niquinho.
 
Hoje e numa altura em que é bom recordar-se que falta cumprir-se Portugal, pelo menos desde que o Fernando Pessoa levantou essa constatação, será bom tentar-se pelo menos aferir um pouco daquilo que entendemos ser a ideia do Portugal cumprido, feito, acabado, realizado.
 
E meus amigos e leitores: é melhor nem entrarmos por essa via...deixemos correr as ideias, os sonhos, os desejos, a nossa incompletude a completar-se. Temos uma governação que não vale a ponta de um chavelho e acho que nunca tivemos uma capaz ao longo dos séculos.
 
Destino? Não acredito muito...mas aceito plenamente que o nosso destino tem uma forte componente religiosa: sumariamente contentamo-nos sempre descontentes com aquilo que vida nos dá.

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