quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma coisa que me preocupa

Há muitas coisas que me preocupam e esta que vou falar hoje até não é daquelas que me preocupa mais mas merece um reparo, na minha opinião. Trata-se da questão da habituação técnica das pessoas à net, aos computadores, aos telemóveis, enfim, a tudo aquilo que se chama de novas tecnologias.

Não há muitos anos fiz uma viagem a Ceuta (ainda era no tempo em que se fazia um na altura inocente ou pelo menos tolerado contrabando de relógios, máquinas fotográficas, etc). Há várias coisas que gostaria de contar sobre esta viagem.

Fiz mais viagens com este destino, mas esta foi a única que não foi em família...quer dizer, foi com amigos, sócios de uma empresa onde eu trabalhava na altura e em face dos bons resultados da semana, ou da quinzena, ou do mês (não me lembro) resolvemos que a empresa nos devia uma viagem e como tinhamos pouco tempo disponível vá de Ceuta, passando por Torremolinos e etc. Era assim, nesse não muito longo tempo...

Oficialmente fomos em prospecção de mercado, para compras, e embora não tivessemos a ideia de instalar uma secção de contrabando, estávamos na disposição de descobrir em Espanha alguma coisa que pudessemos importar, em pequenas quantidades para começar, e depois logo se via.

A viagem começou com um "maluco" a conduzir: o carro era bom e as estradas também e a princípio ainda alvitrei um menor peso no pedal, mas de nada valeu: a sugestão viveu para aí uns dois minutos e agora que me lembro melhor, cheguei a achar que seria uma pena não aproveitar quer o carro (que ronceirava nas estradas portuguesas - foi antes do Cavaco) para lhe dar um pouco de caixa de ar.

Por outro lado defendi também a tese, aparentemente estúpida, de um conhecido médico aqui da minha cidade que achava que os cruzamentos eram para passar à maior velocidade possível, porque quanto menos tempo a gente estivesse lá menor era a possibilidade de haver um choque...por isso, quanto mais depressa aparcássemos na nossa etapa, melhor era, nesta perspectiva.

Voltarei a esta história, mas o que interessa aqui é que um desses sócios resolveu comprar um relógio em Ceuta ao qual só faltava falar, como se costuma dizer: ele era relógio, cronómetro, altímetro, media a temperatura do ar, do portador e, calcule-se, tinha uma máquina de calcular científica que só era manejável com a ponta da esferográfica.

Ora esse sócio não era propriamente um barra nem em matemática nem em contas: a sua função era vender, o que fazia bastante bem - diga-se - pelo que eu lhe perguntei: mas para que quer você isso tudo? Você só vai ver as horas, o resto não utiliza, ao que ele respondeu: mas pode fazer falta. Podia de facto fazer falta um dia mas custava o dobro de um relógio normal...

Bem, o manuseio da coisa (da máquina de calcular) era complicado em termos de acessibilidade, requeria uma pontaria grande e a maior parte das funções da máquina científica não eram de uso corrente, mas como cada um faz com o seu dinheiro aquilo que entende, achei melhor ficar por ali. Passada uma semana já ele andava a tentar trocar aquele "catramolho" como lhe chamava vendo se arranjava alguém que apreciasse as qualidades da sua máquina.

Pois isto serve para dizer que às vezes fico surpreso quando me apercebo que uma pessoa, relativamente nova e inteligente, não sabe mandar mensagens de telemóvel, que não sabe mexer num computador (nem mesmo o básico)...fico surpreso porque acho que se as pessoas são inteligentes têm de ser inteligentes em tudo.

Eu não sei fazer tudo e há coisas nas quais ainda não mexo, mas estes tempos modernos fizeram-me abrir os olhos nalgumas coisas. Cada vez há menos coisas que mando fazer e embora aprecie muito quem trabalha e quem tem a sua profissão, quantas vezes adquirida ao longo de períodos extensos de prática, leio as instruções das coisas e progressivamente vou aumentando o meu grau de autonomia no que se refere a pequenos arranjos.

Não basta ter as coisas...é preciso conhecê-las...

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