domingo, 12 de abril de 2009

Mais um dia, mais um jornal

No nosso jornal pouco se fala da política caseira, é um facto: não porque exista qualquer regra que o impeça; aliás não há nenhuma regra impedindo o que quer que seja senão os palavrões e as ofensas gratuítas.

Os palavrões por razões simples: o jornal é para ser lido por toda a gente, escrevem nele miúdos das escolas básicas, por exemplo e por uma questão de coerência acho que não devemos andar a ensinar por exemplos aos miúdos aquilo que eles podem muito bem aprender sozinhos e que na sua grande maioria já sabem.

Mas, a escola pessoal onde fui formado ensinou-me neste plano uma coisa que eu preservo para meu consumo: um palavrão dito ou sabido e mantido em segredo é assim como se fosse nossa propriedade privada, intima mesmo, uma coisa que trazemos connosco e que pensamos que os outros não sabem que nós sabemos. E isso tem o seu encanto...Constitui assim como que uma reserva pessoal que colocamos ao lado dos berlindes ou daqueles horríveis monstros que agora se usam para fazer colecção. É nosso e em último caso até pode servir para a troca...

Já quanto às ofensas, francamente não acho piada nenhuma andar a chamar nomes a pessoas que mesmo com toda a carrada de defeitos que lhes apontemos ainda não conseguiram furar o casulo que os faz continuar a serem seres humanos. E, conscientes como somos todos, temos por vezes pouco presente aquela ancestral ideia da perca.

Neste plano posso ir até à antropologia social e dizer simplesmente que todas as sociedades sentem a perca de um dos seus, mesmo que a não sintam de uma forma directa. Por vezes diz-se de alguém que morre, e que por acaso até pode ser verdade dizer-se que ele não fazia cá falta nenhuma mas só o mais cínico ser humano é capaz de dizer, de forma sentida, que «ele já vai tarde» sem ser daquela forma desprendida e quase sem significado como um bafo respiratório mais pronunciado.

Pois bem, não se tem falado de política caseira porque ela é extremanente desinteressante, na minha perspectiva: não há nada mais soturno que ver centenas de gajos engravatados, de fato cinzento ou escuro, debitando discursos que são sempre os mesmos ou que têm sempre os mesmos condimentos gerais.

Vamos resolver isto, vamos fazer aquilo, os portugueses podem ficar descansados: toda esta conversa da treta teria alguma possibilidade de ter algum sentido se não fosse dita por políticos.

Sei que vivemos em democracia, ou pelo menos diz-se que sim, mas para mim a democracia não tem lá nada escrito no seu conceito que nos diga que devemos escutar estes marmanjos: o melhor é ignorá-los.

A coisa anda na mesma, mal ou melhor nada pára a força da evolução pelo que por mais que eles falem ou se calem o resultado é o mesmo. O passado está aí todo para esclarecer isso mesmo...tudo o que já aconteceu não tinha lá estes gajos de fato cinzento e tudo o que aconteceu antes da invenção do fato não tinha lá os antececessores dos fateados.

Pode ser uma perspectiva estranha, a minha, e acredito que haja quem se julgue com razão para pensar assim: como diziam os meus avós e antes deles os meus bisavós o que conta são os dois bracitos para trabalhar e só por piada vejo esse pessoal a pegar numa enxada ou numa picareta.

Ora como a crise está, dentro de pouco tempo poderemos comprar excelentes fatos cinzentos a preço mais baixo que os saldos...

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