quarta-feira, 18 de maio de 2011

Campanha de Livros para Moçambique

Campanha de Livros para Moçambique
Tem livros de que não precisa e estão a ocupar espaço na sua estante? Dê esses livros para uma biblioteca em Angoche - Moçambique.
Eu vou colaborar!
Enviado por Luisa Melo, filha da nossa colaboradora Maria da Fonseca
Mais informações em:
Ver abaixo a transcrição:
A Delegação Regional Norte da BAD – Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas foi contactada para ser a promotora de uma campanha com o objectivo de angariar publicações para a Biblioteca Professor Doutor José Ibraimo Abudo em Angoche – Moçambique.
Decidimos abraçar esta causa. Leia o texto e veja as fotografias. Há leitores para uma biblioteca! Precisam-se livros em língua portuguesa, referentes a diversas áreas do conhecimento: livros didácticos a nível dos vários graus de ensino (básico, secundário e superior), Literatura infantil, Literatura, História, Ciências Naturais, Física, Química, divulgação científica…

Entregue, de Abril a Outubro de 2011, os livros pessoalmente ou pelo correio nas seguintes moradas:
Zona de Lisboa: OGY – Formação e Desenvolviemnto de Recursos Humanos, Lda. Avenida 5 de Outubro, 151 8º A, 1050-053 Lisboa. E-mail: ana.cristina.neto@ogy.pt

Zona do Porto: Edifício do Arquivo Distrital do Porto – Delegação Regional Norte da BAD, Rua das Taipas 90, 4050-598 – Porto. Telefone: 222051518. E-mail: badnorte@gmail.com

Contamos com a sua contribuição . Um gesto, por mais pequeno que seja, pode sempre fazer a diferença
“Chegar a Angoche é uma vitória. 2000 km a norte de Maputo, depois dos 170 km de estrada de terra batida que separam a cidade do aeroporto mais o próximo, aparece-nos a cidade sonolenta, de ruas de terra vermelha, com o Índico a brilhar logo ao fundo da avenida principal. O passado está em cada esquina, embora pouco reste de quando era capital, bem antes de Maputo e da Ilha.

As casas de hoje são as dos anos 60, baixas, de alpendre, a protegerem-se do sol dos trópicos., em todos os tons de ocre. A variedade de culturas é intensa, evidente, tranquila: capulanas, cofiós, djalabas, saris. Ouve-se o muezzin, ouve-se o sino da igreja grande. Ouve-se o português, o macua, e muitos “salam aleikum”.

Na cidade vivem 85.000 pessoas, 300.000 num distrito do tamanho do de Leiria. Mais de 50% tem menos de 24 anos. Perto de um terço menos de 14 anos. É nas escolas que a surpresa é maior: para optimizar os espaços insuficientes, sucedem-se as turmas, de 50 e 60 alunos, em tantos turnos quanto o dia permite. No bairro mais populoso, o do Inguri, os mais pequeninos têm as aulas em grandes palhotas construídas no pátio da escola.

Em 2009, 60.000 alunos frequentaram o ensino básico. 6.000 alunos frequentaram o ensino secundário, recente no distrito. Em Setembro foi inaugurada, por iniciativa privada, a única biblioteca hoje a funcionar. De acesso gratuito para todos, começou com a boa vontade de um angocheano residente em Maputo, Juiz Conselheiro do Tribunal Administrativo.

Uma sala, 400 obras para começar, duas mesas e meia dúzia de cadeiras. Um jovem empenhado em garantir o funcionamento da biblioteca. E os alunos têm afluído. Nem o número de livros nem o espaço são suficientes e sê-lo-ão cada vez menos, considerando o crescimento exponencial dos alunos que frequentam o ensino secundário. E a biblioteca é a única possibilidade de consultar, pesquisar, estudar. Das obras mais consultadas desde Setembro foram a gramática, o dicionário, os livros de leitura de português da 11ª e 12ª classe.

O empenho no estudo é geral, marcado por uma teimosia próxima do instinto de sobrevivência, e apenas travado pela falta de meios como cadernos, lápis, cadeiras, carteiras, luz eléctrica, nas escolas e em muitas casas. E os livros, claro.

A livraria mais próxima fica a 170 km e a agricultura e a pesca de subsistência não permitem o investimento da grande maioria das famílias. Por isso os livros de estudo das disciplinas do ensino secundário são as mais procuradas e aqueles cuja falta mais se sente. E também a literatura em língua portuguesa.

A outra surpresa que Angoche nos reserva é o carinho de quem nos diz, como várias vezes ouvi: “esta terra também vos pertence”. Ir a Angoche é sentir na pele e ver de perto o que quer dizer “a minha pátria é a língua portuguesa”.

Ana Cristina Neto

Vivam as bibliotecas vivas!

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