segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O que me aflige nos Blogs

Falando sobre o romantismo o ultra romântico Fernando Pessoa dizia, não de uma forma directa mas citava aquilo que é apontado ainda hoje como sendo umas das pechas do Romantismo: a pouca exigência qualitativa dos seus representantes, o facto de Victor Hugo trabalhar demais quando deveria trabalhar melhor, etc.

Ora, e sem querer aproximar uma coisa da outra parece-me que nos Blogs se passa um pouco disso, mas num sentido mais complexo: as pessoas trabalham muito porque se sentem na obrigação de cadenciar as suas intervenções, ou não trabalham nada, abrem o blog e deixam-no ficar ali a abobrar.

Quando trabalham muito e seguem uma cadência de publicação, é evidente que pelo menos algumas vezes o relógio se sobrepõe ao cuidado. Pensam, se calhar estas pessoas, que manter um Blog vivo é alimentá-lo com p. almoço, almoço e jantar e essas pessoas são bastante mais conhecidas pela sacrimental afirmação de que : «tenho andado (feito isto) aqui ou ali pelo que só agora consegui vir aqui ver o Blog e acrescentar isto ou isto...»

Prometem ainda que não vão repetir tal comportamento e que os seus leitores, sempre de uma fidelidade extrema, seguramente que vão manter-se, etc.etc.

Que eu saiba muito poucos Blogs têm clientela certa, quer dizer clientela de verdade, daquela que vai ali ver o que o gajo escreveu, e na sua grande parte são titulados por esses senhores que têm algum impacto junto da Comunicação Social, que aparecem noutros campos, que são conhecidos noutros lugares, enfim...às vezes pessoas cujas baboseiras muitas vezes repetidas acabam por ser consideradas afirmações de peso.

A chamada blogolândia não foi feita para isto, quer dizer, para ter clientela certa (aliás toda a Net não foi feita para isso). Há evidentemente os amigos e os amigos dos amigos que enchem as folhinhas de comentários, quantas vezes só para marcar o ponto e obter ou manter assim o direito de permuta, mas esses amigos, muitas vezes são como as filhoses: partem logo que o açucar e a canela começam a desaparecer, quer dizer, quando outros valores mais alto se levantam.

Restam os familiares que, coitados, são por vezes obrigados com ameaças das mais diversas a irem lá «ler» o Blog e virem depois repetir o que acham...a larga maioria não acha nada porque fez um frete: acha sim que devia ser paga por isso, pelo frete, mas politicamente correctos, acham que o tal Blog está ou extraordinário ou genial.

Asim, deixemo-nos de ilusões que não compensam ninguém. Contentemo-nos com os passantes que vão dando uma vista de olhos geral pela folha e que se detêm ou para gozar um bocado com tanta porcaria que está na net, para se dizerem a si mesmos «que o mundo está mesmo perdido» e que ainda bem que já estão com os pés para a cova porque antever um futuro destes que se adivinha é mesmo coisa para ser vivida preferencialmente no outro mundo.

Há de facto os que param, escutam e olham porque sentiram que o comboio do seu interesse acabou por encarrilar numa via que vale a pena...mas durante quanto tempo? Quer dizer quantas vezes essa pessoa voltará ?

Por mim acho que nunca mais porque no dia seguinte, ou mesmo nas hora seguintes encontra outro motivo de interesse e assim vai sucedendo sucessivamente...

Ter um Blog é excelente como arquivo de ideias, quer dizer de coisas que a gente não quer esquecer, como lista do nosso supermercado neuronal.

Nada mais...Bloguistas de todo o Mundo...não andem a desperdiçar fósforo num ambiente com tão ruim pré-defunto futuro. Daqui a um ano ou dois ninguém quer ouvir falar nos Blogs.

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