O bispo do Porto, que cumpriu em Janeiro dois anos à frente da diocese, acredita na capacidade da sociedade portuguesa para superar a crise e no papel fundamental desempenhado pelas comunidades cristãs. "Há na nossa sociedade portuguesa, em geral, e do Porto, em particular, mais que capacidade para responder a esta e outras crises", salientou D. Manuel Clemente, bispo do Porto, em entrevista exclusiva à agência Lusa.
Em tempo de crise as paróquias, misericórdias e comunidades cristãs "são constantemente procuradas para resolver os problemas de pessoas com maiores dificuldades", garantiu o prelado.
Por esse motivo, D. Manuel Clemente considera "impensável" que não haja na sociedade uma "presença contínua e constante" das comunidades cristãs que têm mesmo de ser "reforçadas porque as actuais circunstâncias assim o exigem". Como bispo do Porto, assistiu nos últimos dois anos a "uma reflexão acerca do enorme desafio social e cultural que se põe à religião", bem como sobre o "tecido mais complexo e fluido" que é a sociedade actual e ainda sobre a redefinição das comunidades.
Essa reflexão, anunciou, irá culminar em 2010 com uma "grande missão diocesana" a qual passará por "propor a experiência comunitária de Cristo a quem ou já esqueceu, ou não sabe ou simplesmente está só e ninguém contacta".
O objectivo é que todas as comunidades cristãs da diocese do Porto, incluindo as 477 paróquias, partilhem a sua experiência com os outros e consigam "ir um pouco mais além na transmissão da mensagem cristã", recorrendo às novas realidades tecnológicas ou mesmo às "realidades da cultura do povo" como "as janeiras e os compassos".
Sobre a diocese do Porto, o bispo da cidade considera tratar-se de "uma realidade muito vasta e muito densa" para abarcar em apenas dois anos e cujas "potencialidades humanas são imensas".
Ainda assim, admite que os problemas são diversos nomeadamente os "de aspecto católico e religioso". "Temos um clero de faixa etária alta - 60 anos ou mais - e directamente adstritos à diocese são 350 quando há quase 500 paróquias", lamentou.
Também no feminino, disse D. Manuel Clemente, há dificuldades em encontrar quem procure a vida religiosa, existindo "muitas casas e lares ligados a religiosas". "Elas são poucas", acrescentou. De acordo com D. Manuel Clemente, o catolicismo tem assistido a um aumento de praticantes "em toda a parte menos na Europa". "Na Europa o que se tem verificado é que a religião não passa pela fixação numa comunidade mas por um percurso íntimo, individual que a pessoa escolhe e vai reequacionando", contou. Essa "privatização da religião" impõe grandes desafios ao catolicismo que "insiste muito na presença comunitária". "Não que as pessoas sejam menos religiosas, estão menos definidas comunitariamente", sustentou.
O segundo aniversário de D. Manuel Clemente como bispo do Porto foi comemorado com a apresentação do livro "Um só propósito - Homilias e Escritos Pastorais em termos de Nova Evangelização" sobre o seu magistério episcopal.
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