segunda-feira, 8 de julho de 2013

O meu encontro com a Mi...

 
O meu encontro com a Mi...
 
Foi em Nova York recentemente e numa das muitas vezes em que me desloco lá para tratar dos meus negócios. Vestia o meu fatinho à Wall Street, levava uma gravata lavrada com raminhos e sapatos de uma marca italiana que não vou aqui dizer qual é para evitar estar a fazer publicidade.
 
Ia de pastinha, todo feito para chegar à Bolsa antes do toque da sineta porque acho que se leva multa se se chegar atrasado e apressava-me para atravessar uma passadeira no meio de uma aglomeração de cerca de duas centenas de pessoas todas à espera do sinal verde quando ouço um grito, ou um gritinho, para ser delicado, que me pareceu ser assim: «Oi pá, espera aí!»
 
Se não fosse uma voz feminina é provável que eu nem ligasse, não ia interromper o cálculo da passada para atravessar a zebra e estava já concentrado havia alguns segundos para avançar o já semi suspendido pé direito assim que o verdinho aparecesse. Tinha eu, assim, as pernas em alerta amarelo e dependentes apenas daquela fracção de segundo que leva a mudar a cor do sinal que até já começara a piscar o vermelho final do lado de lá.
 
De esclarecer que atravessar uma rua em Nova York requer muita concentração e sobretudo é preciso não ter hesitações porque pode ser a morte do artista, isto dito em sentido figurado, é claro, porque em Nova York não se morre atropelado. Bem, regressando ao gritinho do «ói pá» olhei para trás e perdi o sinal, é claro, porque quem vinha na minha direcção acenando-me era nada mais nada menos que a Mi...
 
Vou esclarecer que não sou gago, mas não consegui pronunciar nem uma vez o nome todo da Mi. Podia escrever, certo, mas eu estou a contar uma história e tenho de ser fiel ao que se passou de facto. Por isso é Mi e será Mi forever (nesta história).
 
Bem, a Mi eu não conheço senão dos jornais e da televisão. É casada com um gajo muito conhecido mas era mesmo a mim que ela se dirigia. O «ói pá» passou a «estás porreiro» e a uma beijoca na face. Não estava bem porreiro ainda mas fiquei logo porque a senhora transpirava alegria por me ver. Sorri também, por minha vez, disse o clássico «vai-se andando» e acrescentei «então e tu?» porque é como se costuma dar seguimento às conversas.
 
Ela estava porreira também, numa boa e cheia de genica, o marido tinha ganho uma coisa qualquer havia dias e ela puxou-me forte pelo braço e anda cá, vamos ali tomar uma bica e por a conversa em dia.
 
Repito que não conheço a Mi senão dos jornais e tinha de ser mesmo ela, a Mi, porque dois matulões de fato cinzento acercaram-se então de mim, apalparam-me todo, ela riu-se, pediu-me desculpa mas não conseguia fazer nada daqueles gajos, disse, eles apalpavam toda a gente com quem ela falava e era assim a vida dela; só falava com apalpados e quando disse isto partiu o coco a rir.
 
Estava ali uma tasca mesmo a jeito, por acaso de um descendente de italianos como dizia no placard o que era bom para mim porque aquele pessoal sabia tirar uma bica de jeito e embora estivesse ainda surpreso pela inusitada, inesperada e antes improvável abordagem da Mi mandei vir e ela começou a debitar as «nossas» recordações de jovens.
 
Falou daquela vez em que ela estava quase a cair do cavalo e que eu a tinha sustido pela cintura e segredou-me que fui parvo porque o traseiro estava mais a jeito, enfim, ao fim de dez minutos de blá-blá eu já estava convencido que conhecia a Mi praticamente desde criança.
 
Passou a ser aquela mocinha negrinha que apareceu lá no bairro, com uma dentadura de fazer inveja e que descascava as caricas para a malta, que brincava com a gente tipo maria rapaz e dava umas arrochadas valentes quando jogávamos futebol. Essa era a Mi, a minha conhecida Mi que até nem se chamava Mi.
 
Foi só meia hora, para meu bem, porque eu só dizia Mi, e yes e all right. Aliás ela nem me dava tempo para dizer mais se eu conseguisse. Depois chegou a limousine, ela deu-me outro chocho, agora na testa, duas pancadas nos ombros, um soco no estômago e já me tinha dado três caneladas com os sapatos de bico. Agora tinha que ir a uma Conferência e a gente via-se por aí.
 
Bem, para o mês que vem tenho de ir a Nova York...mas à cautela já deixei a barba ir crescendo.
 
(Série humor colorido)

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