segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A História Interminável do Diário de Irene V

A História Interminável do Diário de Irene V

E claro que a estas questões a Irene estava totalmente alheia. Logo que desembarcou na Ilha dos Narigudos, em quase solitária viagem num pequeno barco que fretara a um pescador de uma  ilha vizinha, e logo que se deparou com os narizes postiços, ensacou o engano que tinha tido quanto à almejada comunhão narigal, e acabou por confrontar-se com um dilema que surpreendentemente depressa resolveu: "enfiei o barrete, mas há que ver as coisas pela positiva...ao menos aqui ninguém se ri do meu nariz"- Escreveu ela sendo de adivinhar nesse momento ter ela feito uma carícia ao seu agora localmemnte normal nariz enorme.

E de facto ninguém se riu, antes pelo contrário...uma pequena multidão juntou-se na praia onde desembarcara e donde o barco fretado já partira para voltar daí a uma semana como contratara e foi com bastante alegria que verificou que todos a respeitavam, ressalvando alguns miúdos traquinas (igualmente de máscaras com grandes narizes) que insistiam em puxar-lhe pelo nariz como que a querer verificar da verdade de tal senhor apêndice.

É claro que não achou grande piada ao facto de os homens e as mulheres da Ilha andarem todos de tanga que lhes deixavam à vista partes das partes pudendas e no caso das mulheres também as mamas (muitas bem mais descaídas que as suas) mas como o pessoal tinha quase todo um largo sorriso e dentes muitos brancos aprendeu a desviar o olhar para essa particularidade: " Não sei que marca de pasta de dentes eles usam, mas tudo me leva a pensar que deve ser sefredo de fabricação local!"- Escreveu ia ido o final do seu primeiro dia na Ilha dos Narigudos.

Por sorte, ou por hábito local, foi-lhe destinada uma cubata aberta onde poisou as suas coisas: duas malas e dois sacos cheios de brincadeiras e chupa-chupas para os putos. Duas mulheres enormes (na largura) trataram de pôr a cubata a jeito limpando-lhe algumas porcarias e dizendo uma lenga lenga cantada que ela não entendia. Mais tarde veio a saber que era uma reza destinada a afastar as cobras, que eram muitas na ilha.

A linguagem que tinha de utilizar era a gestual pois os indígenas falavam entre si uma linguagem anasalada que nunca compreenderia. No seu primeiro dia teve oportunidade de confirmar não só quanto admirado era o seu nariz mas também quanto admirada era ela mesma.

A sua pele branca e relativamente limpa contrastava com a pele semi-negra dos indígenas e a sujidade que eles transportavam, quer no corpo propriamente dito quer no cabelo encaracolado, faziam de si uma verdadeira princesa segundo os conceitos dos contos de fadas. "A merda que vivia neles era mais que muita!"- escreveu, mas tal opinião não impediu que degustasse uma refeição local preparada por uma "chef" de nariz igualmente grande e de olhos sumidos num montão de rugas mas portadora, também, de dentes extraordinariamente brancos.

Era uma mistura de algo que identificou com a batata, alguns frutos cozidos em verde semelhantes a tomate e pimentos e bocados indiferenciados de algo que lhe soube a coelho mas que tinha um travo de peixe misturado, e achou tratar-se de uma boa refeição para gente tão pobre que nem dinheiro tinha para comprar roupas. "Gastam tudo na comida!"- Escreveu também.

No entanto os indígenas homens não eram gordos nem mesmo fortes contrastando com a larga maioria das mulheres, sobretudo aquelas que identificava como sendo mais novas, possuidoras estas de uma quantidade de banhas desaconselhável em termos médicos, tendo vindo a descobrir mais tarde que era ideia aceite no local que a mulher quanto mais gorda é mais forte faz o filho que transportar no ventre e durante o tempo da amamentação.

Eis como Irene descreve os habitantes da Ilha dos Narigudos:

" Os homens são muito magros e andam despidos vendo-se as costelas sobressaídas no dorso. As pernas são magras mas musculadas assim como os braços. As mulheres menos velhas são todas gordas e as grávidas são ainda mais gordas ao ponto de quase não se poderem mexer e levarem muito tempo sentadas cosendo redes ou no paleio.

As velhas nunca perdem os dentes e são as donas das casas. Os homens vão à pesca ou à caça logo de manhã cedo e quando dá o meio dia já estão em casa e levam o resto do dia a tagarelar sentados na areia ou deitados em esteiras. Nunca vi tanta gente a fazer tão pouco...os miúdos brincam juntos e fazem tropelias que não parecem arreliar os mais velhos.

A mim puxavam-me o nariz mas agora já desistiram, mas às mulheres e aos homens dão caroladas com os nós dos dedinhos nas cabeças deles e fogem a rir muito escondendo-se atrás das árvores ou da vegetação e depois voltam à hora das refeições e são tratados como se nada tivesse acontecido."


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