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Reclusos integram elenco de "Sicrano de Bergerac" A outra novidade é que esta peça, uma adaptação livre de Cyrano de Bergerac, do poeta e dramaturgo francês Edmond Rostand (1868-1918), teve como ponto de partida a tese de Mestrado em Encenação, de Luísa Pinto, pela Escola Superior Artística do Porto (ESAP), subordinada ao tema “Inclusão Social pelo Teatro”. Luísa Pinto contou à Lusa que teve o “primeiro contacto com a comunidade reclusa em 2005”, com a qual fez até “dois trabalhos”. Essa experiência mostrou-lhe como o teatro pode ajudar reclusos a “recuperar a memória cognitiva e a melhorar a auto-estima”. “Alguns deles nunca foram ao teatro e estão a pisar um palco pela primeira vez”, acrescenta, igualmente, a encenadora – e diretora artística do Teatro Constantino Nery. “Percebi que o teatro podia ser um meio de os incluir na sociedade de uma forma igual”, disse, explicando que isso motivou-a a “ir mais longe e misturar reclusos com actores profissionais”. Sicrano de Bergerac junta quatro reclusos, duas mulheres e dois homens, com idades entre os 23 e os 60 anos, e quatro atores do Teatro Constantino Nery. Os primeiros foram escolhidos após “um casting feito na própria cadeia”, no qual participaram apenas aqueles que se encontravam “em regime aberto”. Quase todos foram parar ali por causa de “problemas com a droga”. “Estiveram dois meses a ensaiar” no estabelecimento prisional e na terça-feira, finalmente, ensaiaram pela primeira vez no Constantino Nery. Luísa Pinto obteve autorização para fazer “cinco ensaios” naquela sala, certamente para os familiarizar com o espaço onde se vão apresentar perante o público, tudo sob o olhar de guardas prisionais “à paisana”. A encenadora afirma que eles “estão muito felizes e motivados”. “Dizem que os dias passam muito mais rápido e nunca mais vão esquecer esta experiência”, explicou. Luísa Pinto explica que escolheu Cyrano de Bergerac para fazer esta peça porque “não podia ser um texto difícil”. Além disso, “tinha que ser universal”. “Fala sobre o amor, é muito poético. Em Sicrano de Bergerac, a história gira à volta de um grupo de taxistas, prostitutas e delinquentes” e do amor entre um deles (Sicrano) e uma cantora pimba (Roxana). No texto de Edmond Rostand, a ação decorre na Paris do século XVII: aqui , o palco é uma cidade portuguesa, no final do século XX. As desigualdades sociais, o feio e o belo, o nariz desproporcionado, de tão “grande”, que é a imagem de marca de Cyrano/Sicrano e o “universo kitsch” de um certo meio musical estão presentes nesta peça “muito divertida” e concebida para durar “uma hora”. Com dramatugia de Jorge Louraço, Sicrano de Bergerac inclui “três canções originais” de Carlos Tê, com arranjos de Miguel Ferreira, e até segunda-feira faz parte da programação do Fitei, com sessões marcadas para as 21:30. Pode ser vista mais tarde, entre os dias 08 e 19 de Junho. (ES) |
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